quarta-feira, 30 de dezembro de 2009

Projeto resgata línguas indígenas amazônicas

Tradição, Cultura e Ciência

À época do “descobrimento” do nosso país, a identidade brasileira era caracterizada pela diversidade de línguas indígenas, as quais somavam, aproximadamente, 1300. Hoje, somente 15% dessas línguas sobreviveram ao processo de extinção dos índios. Com o objetivo de preservar as línguas restantes, a professora Marília Ferreira, do Instituto de Letras e Comunicação da UFPA, elaborou o Projeto “Mantendo vivas as vozes da floresta: documentação das tradições orais amazônicas”, que, desde 2008, vem documentando aspectos culturais e linguísticos dos indígenas, tais como narrativas, histórias de vida, lendas e canções.

Financiado pelo Fundo do Embaixador Americano para Preservação Cultural, o Projeto utiliza recursos audiovisuais e transcrições textuais para capturar, nas aldeias indígenas, momentos formais e informais do uso das línguas. A maioria delas é de tradição oral, por isso a necessidade de documentação, fato este que poderá servir, inclusive, como incentivo e apoio pedagógico para o ensino das línguas aos descendentes.

O Projeto é dividido em cinco grupos de acordo com as comunidades estudadas, que são: o grupo Parkatêjê, do tronco linguístico Macro-Jê, sendo este coordenado pela professora Marília Ferreira; o grupo Apurinã, coordenado pelo professor Sidney Facundes; o grupo Araweté e Xipaya, coordenado pela professora Carmen Rodrigues; e o grupo Mundurukú, coordenado pela professora Gessiane Picanço. No caso dos Parkatêjê, que vivem próximo ao município de Bom Jesus do Tocantins, restaram, hoje, pouco mais de 400 integrantes, sendo que somente 9% falam a língua materna.

Para a professora Marília Ferreira, o principal motivo para o processo de extinção das línguas é o contato dos indígenas com a língua majoritária do País, o Português. “Na maioria das vezes, a invasão da língua portuguesa nas comunidades indígenas acontece de forma muito silenciosa, por meio da televisão e do rádio, por exemplo. No grupo dos Parkatêjê, as crianças não estão mais aprendendo a língua materna como primeira, fato este que torna a língua ‘doente’, a ponto de chegar à morte”, esclarece a professora.

Este ano, o Projeto ficou entre os melhores trabalhos apresentados no XX Seminário de Iniciação Científica da UFPA, com a apresentação do trabalho “Análise fonética acústica das vogais centrais da língua Parkatêjê”, apresentado pela bolsista do Projeto, Cinthia Neves. Embora o Projeto termine em 2010, a professora Marília Ferreira afirma que irá continuar com a documentação, visto a importância disso para a cultura indígena. “É preciso, também, que a comunidade se interesse e seja o agente ativo no processo de manutenção das línguas, uma vez que são línguas que não possuem um poder político forte no País”, conclui a professora.

Texto: Igor de Souza, da Assessoria de Comunicação da UFPA
Foto: Wagner Meier.

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