quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Espetáculo mostra crendices e amores do mundo dos encantados de Maiandeua

Arte e Cultura

O mundo dos seres encantados dará vida ao espetáculo teatral Maiandeua, que estreia no próximo dia 20 de janeiro, às 20 horas, no Porão Cultural do Instituto Universidade Popular (Unipop), na Avenida Senador Lemos, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas, no bairro Umarizal, em Belém. A montagem fica em cartaz até o dia 19 de fevereiro, de quinta à sábado, sempre no mesmo horário e local.

O espetáculo conta a história de Joana da Barca, uma jovem que sumiu aos 12 anos, ao cair em um rio da Amazônia, e reaparece sete anos depois cheia de encantos e crenças, para buscar o amor do passado, Pedro, e leva-lo para o mundo dos encantados da Ilha de Maiandeua.

O ressurgimento de Joana, que havia sido levada pelas águas do rio em plena “hora grande”, é motivo de crença e esperança entre os moradores. Entre uma conversa e outra sobre a vida dos outros, comadres e vizinhas retratam as crendices populares ao alertarem sobre o perigo das “beiras de rios” e das “matas” em determinadas horas do dia. Na hora dos encantados, segundo elas, o risco é de as pessoas serem levadas, misteriosamente, para a Ilha de Maiandeua. As crendices, porém, encontram resistência entre os doutores da Lei e da Ciência.

A história de amor cheia de encantos entre Joana e Pedro e os conflitos entre a ciência e as crendices populares se passam na década de 40, na Vila da Barca, um dos antigos mocambos de Belém. Para retratar o espetáculo, palafitas, pontes e casebres reconstruídas, especialmente para o espetáculo, farão o público rememorar o cenário da Vila da Barca de décadas atrás, misturando encantarias com as problemáticas cotidianas do local, fruto do descaso das autoridades.

Montado pelo Grupo de Teatro da Unipop sob a direção do arte-educador e historiador Alexandre Luz, o espetáculo Maiandeua é uma adaptação do texto, de mesmo título, do autor paraense e imortal da Academia Paraense de Letras, Levi Hall de Moura. “O espetáculo vai mostrar que nossa cultura é permeada de feitiços e encantos de uma espiritualidade misteriosa, que ultrapassa a mera questão folclórica de nossas comunidades ribeirinhas”, afirma Alexandre Luz.

Serviço: Espetáculo Maiandeua. Apresentações nos dias 20, 21, 22, 27, 28 e 29 de janeiro e 3, 4, 5, 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de fevereiro, sempre às 20 horas, no Porão Cultural da Unipop, na Avenida Senador Lemos, 557, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas, no bairro do Umarizal, em Belém. Ingresso Promocional: R$ 5,00 (meia-entrada).

Ficha técnica:

Elenco: Amanda Santos, André Souza, Andrei Souza, Artur Coelho Filho, Clause Monteiro, Claudia Santiago, Nete Pamplona, Gabriela Mendonça, Geovani Moia, Jorge Anderson, Janaína Andrade, Maria Silva, Marisa Barros, Priscila Oliveira, Sttefane Trindade, Tainá Lima, Vanda Lopes e Washington dos Santos.

Adaptação de texto: Alexandre Luz

Iluminação: Walter do Carmo
Assistência de Iluminação: Adriane Gonçalves

Sonoplastia: Duda Souza e Henrique Garcia

Cenografia: José Luiz Santos

Assistência de cenografia: Grupo de Teatro da Unipop

Figurino: Nete Ribeiro e Grupo de Teatro da Unipop

Direção: Alexandre Luz

Texto: Max Costa, assessor de comunicação da Unipop.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Violência tira a vida de homens do País

Por: Cleide Magalhães
Edição: Ana Danin

Eles representam 83,1% das vítimas de acidentes e homicídios

Dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde (MS) servem de alerta aos homens brasileiros e geram discussão relacionada a mitos criados sobre sua saúde. Eles são 83,1% do total de vítimas fatais em acidentes e homicídios em 2008 ocorridos no País e estão também entre os feridos que mais necessitaram de internação hospitalar, respondendo por 70,3% dos casos. As chamadas "causas externas" representaram 12% do total de óbitos no Brasil naquele ano. Foi a terceira maior causa de morte no País, perdendo apenas doenças crônicas como as do aparelho circulatório e os casos de câncer. O estudo está presente no "Saúde Brasil 2009", publicação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Ao todo, foram 133.644 mortes por causas externas de um total de 1.066.842 óbitos declarados há dois anos.

O problema que acontece com a saúde do homem no Brasil é similiar ao que ocorre no Pará. Estudo feito pela coordenação estadual da Política de Ação Integrada à Saúde do Homem da Secretaria de Estado e Saúde Pública do Pará (Sespa), publicado em 2010 no Plano Estadual, revela que a população masculina paraense é de 1.920. 430 - entre eles 1.474.068 se concentram na faixa etária entre 20 e 29 anos e 503.007 entre 50 e 59 anos - e feminina 1.888.037.

Mostra ainda que as principais causas de morte entre homens, que têm de 20 a 59 anos, são as "causas externas", as quais envolvem os homicídios (65,4% dos casos), acidentes de transportes (19,2%) e suicídios (3,4%). "Os homens são mais vulneráveis às doenças e, de forma mais abrangente, às enfermidades graves e crônicas, morrendo mais prematuramente que as mulheres. É notório também que, no que se refere a maior vulnerabilidade e às taxas de morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção à saúde. As duas primeiras 'causas externas' estão relacionadas ao consumo de álcool, agressões, violência, etc.", afirma o médico Roberto Tamargo, coordenador estadual da Política de Ação Integrada à Saúde do Homem da Sespa.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2 bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas no mundo. O uso abusivo do álcool é responsável por 3,2% de todas as mortes, e por 4% de todos os anos perdidos de vida útil. No Brasil, há cerca de 6 milhões de pessoas nessa situação e "os homens iniciam precocemente o consumo de álcool e tendem a beber mais e a ter mais prejuízos em relação à saúde que as mulheres", disse o médico. Dados do MS mostram ainda que os homens usam mais cigarros que as mulheres. Em Belém, em 2006, 11,2% dos homens fumavam contra 3,9% das mulheres, ambos com mais de 15 anos. "Com isso, há maior vulnerabilidade do sexo masculino às doenças cardiovasculares, cânceres, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, doenças bucais e outras".

Na proporção das internações, as doenças do aparelho respiratório atingem 18,26 % dos homens paraenses; causas externas 16,12%; doenças infecciosas e parasitárias são de 14,58%; doenças do aparelho digestivo 12,74%; doenças do aparelho circulatório 7,21%; e neoplasias 6.02%. As causas externas chegam a atingir 34,05% dos homens que têm entre 20 e 29 anos e 28,65 % dos que têm entre 30 e 39 anos.

Nessas faixas etárias as doenças que menos afetam os homens são as do aparelho circulatório, sendo 2,91% e 4,76%, respectivamente. Já entre as faixas etárias que vão desde 40 a 59 anos são as doenças do aparelho digestivo que mais prejudicam o sexo masculino, 19,95% e 21,26%, na ordem. As neoplasias atingem, principalmente, os homens que têm de 50 a 59 anos, com 9,15%. Mas estas já aparecem com 4,67%¨dos casos nos homens de idades que vão de 20 a 29 anos. "Ao chegar aos 50 anos as neoplasias de próstata quase sempre aparecem porque o diagnóstico não é feito precocemente", afirma o médico Roberto Tamargo. As neoplasias são alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado das células e pode ser maligna ou benigna.

Na comparação entre os gêneros no País, o risco de óbito foi 5,1 maior para homens do que mulheres quando a causa foi externa no período considerado pela pesquisa. Agressões (40,6%) foram a principal forma de morrer entre integrantes do sexo masculino, especialmente quando armas de fogo estiveram envolvidas (29,4% das mortes por agressão). No Pará, de cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Estes vivem, em média, sete anos menos que as mulheres e em 40,6% dos óbidos que ocorrem com os homens estão relacionados às "causas externas"; 15,51% estão voltados às doenças do aparelho circulatório; 11,4% com tumores; e 6,21 com doenças do aparelho respiratório.

Plano de ação integrada tenta reverter quadros no Estado

Esses números geram preocupação e ajudam a justificar a iniciativa de a Sespa buscar implementar o Plano de Ação Integrada à Saúde do Homem, que faz parte da política nacional que tem à frente o MS. Segundo Tamargo, o plano já começou a acontecer em Belém, Ananindeua e Santarém, e está sendo implementado em Castanhal. Para isso, a coordenação estadual e esses municípios receberam (cada um deles) R$ 75 mil. Os critérios utilizados pelo Ministério da Saúde para selecionar o município leva em conta que a população seja acima de 100 mil habitantes, tenha cobertura das equipes de saúde da família, acima de 50% de adequação de cobertura de unidades de alta e média complexidades, ter aderido ao Pacto pela Saúde e encontra-se em locais em que o ministério possa ter condições de acompanhar o processo.

O plano conta com sete eixos de ações: implantação da Política Estadual de Atenção Integral à Saúde do Homem; Promoção da Saúde, a qual visa aumentar a demanda dos homens aos serviços de saúde, por meio de ações pró-ativas de promoção e prevenção dos principais problemas que atingem essa população; Informação e Comunicação, que quer estimular o autocuidado na população masculina, através de informação, educação e comunicação; Participação, relações institucionais e controle social, para trabalhar com secretarias municipais para associar as ações governamentais com as da sociedade civil organizada, a fim de efetivar a atenção integral à saúde do homem; implantação e expansão do sistema de atenção à saúde do homem; e qualificar os profissionais de saúde no Estado. "Tentamos quebrar as barreiras socioculturais que fazem com que os homens não prestem atenção à saúde e não procurem serviço de saúde, o que faz com que a maioria das doenças sejam diagnosticadas em estágios avançado. Outro desafio são as barreiras institucionais, pois muitas unidades de saúde não estão em condições de dar atenção priorizadas para o homem. A saúde é um problema que envolve todas as outras secretarias, por isso as parcerias também são importantes", considera o médico.

Mais de 500 perderam a vida no trânsito entre janeiro e julho

Ainda segundo os dados da SVS, a taxa de morte por acidentes e homicídios é até quatro vezes maior entre os homens brasileiros, entre 20 até 29 anos, na comparação com mulheres na mesma faixa etária. Em 2008, foram 43.886 homens mortos neste grupo contra 10.786 pessoas do sexo feminino. As informações da Secretaria de Vigilância em Saúde considera também que todas as idades e todas as formas de morte, homens correm risco 40% maior de óbito.
No Pará, dados do Departamento Estadual de Trânsito do Estado (Detran) mostram que, em 2009, ocorreram 5.430 acidentes com homens e 1.557 com mulheres. Entre janeiro e julho de 2009, morreram 1.008 homens e 209 mulheres. Dos 5.430 acidentes que aconteceram, as causas prováveis envolvem 30 razões, entre elas 1.102 casos apontam que o homem perdeu o controle no trânsito; 870 fez manobra irregular; 628 desrespeitou a preferencial; e 384 não tinha atenção no trânsito.

Em 2010, morreram 573 homens e 100 mulheres no trânsito do Estado. Nesse ano, entre os meses de janeiro a julho, os números de acidentes diminuíram: 3.923 casos ocorridos com homens e 1.131 com mulheres. A maioria deles aconteceram porque ambos realizaram manobra irregular, sendo 830 e 226 acidentes que aconteceram, de acordo com os respectivos sexos.

Segundo Valter Aragão Júnior, coordenador de Operações do Detran, que é especialista em Legislação do Trânsito, a maioria dos acidentes que as mulheres ocasionam são de pequenas proporções. Ela afirma ainda que muitos dos acidentes provocados pelos homens têm danos patrimoniais e são graves e, às vezes, resultam em vítima fatal. "Com isso, visualizamos que a mulher é muito mais cautelosa e isso a torna mais prudente. O homem é mais imprudente e a autoconfiança dele ocasiona os acidentes de maiores proporções. Quando se transfere essa avaliação das cidades para as estradas os acidentes são muito maiores, há ocasiões que os carros até capotam, morrem pessoas. Nas estradas os acidentes são sérios e a maioria deles ocasionados por motoristas homens".

Faltam campanhas de conscientização específicas para eles

Hoje ainda não há um trabalho do Detran que se direcione às ações no trânsito voltadas para ao homem, pois o órgão realiza algumas iniciativas para o público em geral. Mas Valter Júnior ressalta que para tentar diminuir os dados apresentados "os órgãos de segurança têm fortalecido a fiscalização com aumento inclusive de efetivo e com a realização de campanhas educativas.
Ele observa que, embora o Código de Trânsito do Brasil, instituído na Lei 9.503, em 23 de setembro de 1997, seja um dos mais rigorosos e completos do mundo, sua aplicabilidade ainda é frágil. "Muitos acidentes causados no Pará ocorrem por falta de atenção e, na maioria, por embriaguês ao volante. As pessoas sabem que elas não podem ter determinada conduta no trânsito, como berber álcool, mas agem com individualidade e continuam a fazer. Muitos brasileiros têm a mania de não respeita a lei. A situação chegou a um patamar hoje que não adianta estruturar todos os órgãos de segurança se a população também não cumprir seu papel. Precisamos ainda de modificações drásticas no Código do Trânsito. Uma das soluções seria a aplicação das restrições de direitos aos condutores que cometerem irregularidades, como perder ou ter suspensa a carteira de habilitação, responder a processo judicial estando preso, enfim".

No Pará, dados do Departamento de Trânsito do Pará (Detran/PA) mostram que a frota de veículos, até 19 de outubro deste ano, correspondia a 932.775 veículos sendo 282.390 na capital. O órgão projeta que o crescimento da frota, entre os anos de 2003 e 2021, será em torno de 6 milhões de veículos registrados circulando no Pará, dos quais 1,6 milhão somente na Grande Belém. Hoje, ao mês, na RMB a circulação oscila entre 2,8 e 3 mil novos veículos.

A assessoria de comunicação da Polícia Militar do Pará foi procurada pela reportagem para comentar os casos de homicídios, mas informou que o órgão "está em fase de transição do Comando da PM e mudança também da chefia da assessoria, a qual demanda tempo para estas atividades administrativas". Além disso, como a matéria sairá no domingo (hoje), dia em que a PM já está em vigência da nova chefia, deixo (assesoria) de comentar sobre os índices em respeito ao direito de posicionamento próprio do novo assessor de comunicação.

Jovem reage a assalto e é morto em Outeiro

Entre as "causas externas", apontadas pela Secretaria de Vigilância em Saúde que acontecem com homens entre 20 e 59 anos, 65,4% delas envolvem os homicídios. Um caso recente aconteceu em Belém no último dia 29, por volta das 20h30, quando Marcos Vinícius Cardoso da Silva, 23 anos, foi assassinado após reagir a um assalto no Distrito de Outeiro, na Região Metropolitana de Belém (RMB). O caso de roubo seguido de morte - caracterizado como latrocínio - foi registrado na Seccional Urbana de Icoaraci. A divisão de crimes contra o patrimônio da unidade policial do distrito investiga e tente solucionar o crime. Segundo o primo da vítima, Dayvid Michel de Souza, que também registrou o boletim de ocorrência na seccional de Icoaraci, a vítima estava na esquina da estrada do Outeiro com a estrada do Maguari, quando foi abordada por dois homens em uma motocicleta.

Ainda segundo Dayvid, Marcos Vinícius teria reagido à abordagem de assalto e foi baleado na altura do tórax. O tiro atingiu o peito da vítima. Os suspeitos fugiram e levaram a motocicleta da vítima, além do aparelho celular e os documentos pessoais. Marcos Vinícius chegou a ser socorrido pelos moradores mais próximos do local do crime e foi levado para o Hospital Regional Abelardo Santos, na rodovia Augusto Montenegro, no distrito de Icoaraci. Entretanto, ele não resistiu ao ferimento no tórax e morreu na madrugada do dia seguinta, por volta das 2h, na unidade de saúde. Os objetos roubados da vítima, inclusive a motocicleta, não haviam sido recuperados e os acusados de efetuar os disparos também não haviam foram identificados e localizados logo após o crime.

Mortes

As "causas externas" são as principais causas de morte entre homens, de 20 a 59 anos

Homicídios - 65,4% dos casos
Acidentes de transportes - 19,2%
Suicídios - 3,4%.

Dados Sespa.

ACIDENTES OCORRIDOS NO PARÁ EM 2009 - ENTRE JANEIRO E JULHO

HOMENS - 5.430 casos
MULHERES 1.557 casos
MORRERAM
HOMENS - 1.008
MULHERES - 209

ACIDENTES OCORRIDOS NO PARÁ EM 2010 - DE JANEIRO A JULHO

HOMENS - 3.923 casos
MULHERES - 1.131 casos
MORRERAM
HOMENS - 573
MULHERES - 100

Dados Detran/PA.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, em 02/01/2011.

“Infância perdida” vaga pelas estradas do Pará

Por: Cleide Magalhães
Edição: Ana Danin


"Prostituição hereditária" está presente nas rodovias

Pais que colocam as filhas para se prostituir, em meio à miséria que corrompe valores na sociedade, são reflexo de uma dívida bastante antiga do Estado, uma das consequências das desigualdades sociais ainda existentes no País. Esse tipo de prostituição, que normalmente começa dentro de casa, é muitas vezes é chamado de "prostituição hereditária" e acaba extrapolando os limites dos prostíbulos. Eles acontecem também nos postos de combustíveis, bares, lanchonetes e feiras localizados, geralmente, às margens das oito rodovias federais - que contam com seis mil quilômetros, pavimentados ou não - que cortam o Estado.

Segundo Max Daniel Silva, chefe do Núcleo de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal no Pará (PRF/PA), em 2007, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Childhood Brasil realizaram mapeamento no País sobre os pontos vulneráveis a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias e, no Pará, 135 pontos foram localizados. Um novo relatório, feito entre os anos de 2009 e 2010, trazendo outros critérios para a identificação dos locais de riscos pontuou um total de 1.820 pontos críticos nas rodovias federais brasileiras, dos quais 67,5% em áreas urbanas. Nesse estudo, os pontos de incidência no Pará diminuíram para 69, sendo 57 na área urbana e 12 na rural, ocupando o 20º lugar no ranking do Brasil. "Diferente das edições anteriores, no último mapeamento os locais não foram divulgados pela PRF para impedir que ocorra a migração dos criminosos e preservar futuras repressões", conta Max.

Segundo Gilson Silva, conselheiro tutelar de Ananindeua, os principais exploradores de crianças e adolescentes nas rodovias são os caminhoneiros, mas há outros atores envolvidos na questão. "Muitas vezes, a exploração inicia em casa, com o pai, padastro, tio, avô, vizinho, professor e desconhecido. A criança e adolescente já saem de casa com seus direitos violados e quando chegam na rua não têm consciência que isso é também uma questão social, porque a pobreza em que vivem é muito grande e muitos familiares os forçam a se submeterem a isso para ajudar nas despesas da casa", afirma. "Se a criança ou adolescente está em uma situação em que a mãe se prostitui e não tem nenhum tipo de apoio das organizações governamentais, então a família, de certa forma, não vê isso como um problema e há grandes chances deles se espelharem nisso e viverem na mesma situação", completa Max.

Rede de proteção não existe no interior

Hoje as principais dificuldades enfrentadas para que a PRF atue de forma mais eficaz são a extensão do Estado; dificuldade de acesso em algumas rodovias, como a Transamazônica e Cuiabá-Santarém; o deslocamento das crianças e adolescentes para localidades de difícil acesso dos municípios; a falta de estrutura das cidades - muitas não contam com Conselho Tutelar ou Vara de Infância e da Juventude; e a permanência da família na condição de miséria e pobreza.
"O que está previsto em lei é que haja uma rede de proteção à criança e adolescente, mas essa rede na prática não existe. Ela é um pouco mais estruturada na região metropolitana e regiões pólos do Estado, mas em geral ela não funciona. Além da parte repressiva, feita pela PRF, é necessária uma ampla estrutura dos órgãos federais, estaduais e municipais. Se não acontecer essa articulação, o problema persitirá. Mas em nível de Brasil buscamos isso e realizamos ações que objetivam solucionar esses problemas", disse Max Silva, chefe do Núcleo de Comunicação da PRF/PA.

Flagrar uma situação de exploração sexual ainda não tarefa é fácil para a PRF. "Antes de a polícia se aproximar as pessoas logo reconhecem a viatura da polícia e muitos fogem do local", explica Max Silva. E nem para o Conselho Tutelar. "Na prática, nossa atuação se dá por meio de denúncias feitas por vizinhos, então, averiguamos e encaminhamos os casos de abuso ao Programa de Fomento à Cultura da Paz (Pró-Paz)", disse o conselheiro tutelar de Ananindeua, área onde já ocorreram 43 casos, de novembro de 2009 a dezembro de 2010, todos envolvendo meninas a partir de 10 anos, segundo dados do Pró-Paz. A maior parte das garotas eram do Conjunto Verdejante I, II e III, áreas ao entorno do Lixão do Aurá e outras em Belém.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 26/12/10. Para ler na íntegra, clique aqui.