sábado, 29 de outubro de 2011

AVC pode se tornar um desastre à saúde

Por: Cleide Magalhães

Reportagem publicada em O Liberal e Amazônia, em 28/10/2011.


O Acidente Vascular Cerebral (AVC), conhecido popularmente como "derrame cerebral", poderá ser um desastre à saúde pública, caso não seja tratado com seriedade em ações conjuntas entre o poder público e a sociedade. No Brasil, segundo estudo do movimento “Action for Stroke Prevention” (Ação para a prevenção do AVC), cerca de 1,5 milhão de pacientes convivem com fibrilação atrial (FA), tipo de arritmia cardíaca que é uma das principais causas de derrame cerebral. O país lidera ainda o ranking latino-americano de mortes por acidente vascular cerebral, com mais de 129 mil casos por ano.

Dados da Organização Mundial do AVC (World Stroke Organization) também trazem dados de alerta: uma em cada seis pessoas terá um AVC durante a vida. Hoje, a doença já é considerada a segunda causa de morte no mundo, perdendo apenas para o câncer, e a primeira causa de morte e sequelas neurológicas no Brasil.

Neste sábado, 29, é o Dia Mundial do AVC, e o médico e cirurgião Milton Francisco de Souza Júnior, que atua em hospitais da rede pública e privada em Belém, explica que o acidente vascular cerebral são comprometimentos vasculares isquêmicos e vasculares, que ocorrem diante de fatores predisponentes. Entre os mais acentuados hoje estão a pressão arterial, diabetes, obesidade, estresse, drogas lícitas e ilícitas, em especial a cocaína, entre outros. O AVC hemorrágico é mais comum nas pessoas entre 25 e 55 anos. Após os 60, é o AVC isquêmico.

"O AVC é caracterizado por uma lesão aguda por um dos vasos sanguíneos que irrigam o cérebro. O isquêmico ocorre quando não há passagem de sangue para determinada área, por uma obstrução no vaso ou redução no fluxo sanguíneo do corpo. Já no vascular o vaso sanguíneo se rompe, extravasando sangue. Só para se ter idéia pela artéria carótida, vasos sanguíneos que levam sangue arterial do coração para o cérebro, passam 350 mililitros de sangue por minuto comprometendo várias funções cerebrais. No adulto há uma caixa craniana inelástica, não temcomo o sangue se acomodar e ameaça com mais facilidade a vida da pessoa. Com o aumento nos casos de obesidade, a tendência é que a grande maioria da população chegue a esse quadro", afirma o neurocirurgião.

É importante ainda esclarecer que o AVC, embora tenha caído no linguajar popular com esse nome, possui nomenclatura equivocada, "pois não se trata de um acidente, pois pode ser prevenido". A prevenção é convencional e está nas questões básicas, as quais até chegam a ser discutidas, porém que muita gente não coloca em prática: ter boa alimentação, atividade física, reduzir a sobrecarga emocional, não usar drogas lícitas e ilícitas, entre outras.

Terapia - Segundo Walace Gomes Leal, coordenador do Laboratório de Neuroproteção e Neurorregeneração Experimental (LNNE) do Instituto de Ciências Biológicas da Universidade Federal do Pará (ICB/UFPA), a única terapia disponível para o AVC isquêmico no Brasil e no mundo, atualmente, é o uso de substâncias conhecidas como trombolíticos, responsáveis por dissolver o coágulo de obstrução do vaso sanguíneo prejudicado. Os trombolíticos deveriam restabelecer o fluxo sanguíneo e minimizar as perdas teciduais e funcionais do cérebro. "No entanto este tratamento é muito pouco eficaz, considerando que o tratamento tem que iniciar até quatro horas e meia após o início dos sintomas e a maior parte dos pacientes chega ao hospital muito depois deste período", explica.

O uso tardio de trombolíticos pode agravar o quadro dos pacientes ao agir nos vasos sanguíneos e induzir o rompimento destes, a partir do efeito colateral conhecido como "transformação hemorrágica". O procedimento cirúrgico é indicado mais comumente para alguns casos de AVC hemorrágico.

Walace Leal informa ainda que pesquisadores no mundo inteiro, incluindo o LNNE, investigam uma forma de diminuir a lesão cerebral após AVC, mas droga eficaz ao ser humano ainda não foi encontrada, exceto dos trombolíticos. Por outro lado, pesquisas com células-tronco e terapias antiinflamatórias apresentaram resultados promissores em animais de experimentação testados nos Estados Unidos, Reino Unido e Brasil.

Dia Mundial - Para conscientizar a população sobre a doença, no Dia Mundial do AVC, neste sábado, 29, diversas cidades do mundo, incluindo várias capitais brasileiras promoveram diversas ações. Em Belém, o Dia Mundial do AVC conta com apoio do LNNE, que programou mesas-redondas, ações educativas e laboratoriais. As ações envolvem, ainda, atos públicos, com a distribuição de material informativo, como folders e banners a respeito da doença, aferição de pressão arterial e prestação de informações sobre os fatores de riscos da doença.

Algumas atividades ocorreram na sexta, 28, no auditório do Centro Universitário do Pará (Cesupa), em Nazaré. O momento contou com a participação da médica neurologista do Hospital Bettina Ferro, Madacilina de Melo Teixeira, que falou sobre a terapia e o tratamento adequados para a doença, como o uso de trombolíticos, fármacos utilizados para dissolver os trombos sanguíneos, a única terapia aprovada em humanos, porém, com diversos efeitos colaterais que limitam a sua utilização.

No domingo, 30, a partir das 8h30, tem atividade na praça Batista Campos, em Belém. Ao longo da semana acontecem ações no ICB da UFPA, nos hospitais universitários e no Instituto de Ciências da Saúde da UFPA, com o apoio da Sociedade Brasileira de Doenças Cerebrovasculares e do Programa de Educação Tutorial de Medicina e Enfermagem da UFPA.

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