quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Advogado defende o fim das estações na corda do Círio

Por: Cleide Magalhães

Reportagem publicada nos jornais O Liberal e Amazônia, 13/10/2011.

A corda é um dos maiores ícones da grande procissão e
Trasladação do Círio de Nossa Senhora de Nazaré, em Belém. Puxada pelos promesseiros, ao longo de sua história, ela já sofreu algumas alterações e há sete anos deixou de ter formato em polígono e voltou a ser linear, seccionada por peças de alumínio, que deu origem a seis estações. Desde então o advogado Manoel Vitalino Martins busca fazer com que as estações sejam retiradas da corda do Círio, a qual tem 4
00 metros de comprimento.

Por meio de um documento intitulado "A Corda
do Círio - Corpos Estranhos", Manoel Martins apresenta argumentos contrários à permanência das estações na procissão. "As estações são absurdas e sem utilidade, porque atrapalham o fluxo e atrita com a massa humana. A procissão não anda melhor porque não há penetrabilidade, não é por falta de força. O projeto de criação das estações concebido se reportou a outro cenário e não ao do Círio de Nazaré. A finalidade era que as estações ajudassem a tracionar a corda, mas há diversas ocasiões na procissão em que a corda aparece folgada e ainda levantada pelos romeiros, os quais suspendem a própria esta

ção. Minha sugestão é retirá-las e deixar a corda linear, isso funciona melhor. Além disso, as estações tiram a estética e o sentido religioso do Círio, que deve ser de uma corrente humana, e pode até machucar pessoas", alerta.

Observação

Após 2004, quando as estações foram introduzidas na corda, o advogado conta que passou a acompanhar o Círio pela televisão para buscar avaliar melhor a situação. Na procissão do Círio deste ano, ele esteve pessoalmente em frente ao Clube do Remo, próximo ao colégio Santa Catarina, na avenida Nazaré, onde estava previsto o fim da corda e relata o que observou. "A corda do Círio não sobreviveu até a chegada ao colégio Santa Catarina e o problema com a estação foi o que previ. Era um transtorno, a primeira estação vinha sozinha porque a corda foi cortada antes, em frente ao colégio Nazaré, distante alguns metros antes do ponto estipulado pela organização da procissão", verifica.

O documento foi entregue em 1996 ao então arcebispo de Belém, Dom Vicente Zico, hoje arcebispo emérito da cidade; e, dia 06 de outubro deste ano, encaminhado ao atual arcebispo metropolitano, Dom Alberto Taveira. "Todo paraense deve zelar pelo Círio, porque ele é um patrimônio nosso. Tenho admiração, vejo a importância que a festa tem para muita gente e entendo que no formato linear da corda não deve haver corpos estranhos intercalados em seu caudal; sob pena de profunda e inadmissível deturpação de suas raízes históricas e essência religiosa. Espero que minha verificação seja levada em conta".

Corda

Promesseiros enfileirados puxam a corda, que faz a berlinda com a imagem da Sant
a se movimentar. Anteriormente amarrada à berlinda, a partir de 1999 ela passou a ser atrelada através de uma argola metálica. O atrelamento ocorre no Boulervard Castilhos França, 400 metros depois do início da procissão. Como são os promesseiros da corda que dão ritmo à procissão, em alguns anos ela precisou ser desatrelada antes do término da romaria para que o Círio pudesse seguir mais rapidamente. Até 2003, o formato da corda era de “U”, ou seja, as duas extremidades da corda eram atreladas à berlinda. A partir de 2004, por motivos de segurança, ganhou formato linear.

História

Durante a procissão de 1855, quando a berlinda ficou atolada por conta de uma grande chuva, a Diretoria da Festa teve a ideia de arranjar uma grande corda, emprestada às pressas de um comerciante, para que os fiéis puxassem a berlinda. A partir daí, os organizadores do Círio começaram a se prevenir, levando sempre uma corda durante a romaria. Mas só no ano de 1885, a corda foi oficializada no Círio, substituindo definitivamente os animais que puxavam a berlinda.

No Círio de 1926, o arcebispo Dom Irineu Jofilly suprimiu a corda do Círio, já que “não compreendia o comportamento na corda, onde homens e mulheres se empurravam em atitudes nada devotas”. A proibição gerou várias manifestações populares e políticas, mas chegou a durar cinco anos. Só em 1931, com intervenção pessoal de Magalhães Barata, então governador do Estado, a corda voltou a fazer parte do Círio.

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