Por: Cleide Magalhães
Possibilidade de poupança futura e taxas baixas fazem da modalidade a nova queridinha em contratações
Hoje o sistema de consórcios representa os interesses de cerca de 4,4 milhões de consorciados, é responsável por um volume de negócios de aproximadamente R$ 62 bilhões e entregou cerca de 10 milhões de bens nos últimos dez anos no País. Nos nove primeiros meses deste ano, a preferência dos brasileiros era 30,5% por motocicletas, 22,5% caminhões e máquinas agrícolas e 10,9% por consórcios de veículos leves (automóveis, utilitários e camionetas) de fabricação nacional. Tomando por base os dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea), as informações são da Associação Brasileira de Administradoras de Consórcios (ABAC) - entidade de classe sem fins lucrativos, fundada no final dos anos 60, e hoje representa 160 empresas associadas do setor em todo o território nacional.
Na opinião de especialistas, para quem é poupador, consegue segurar a ansiedade e não tem pressa para obter a casa própria, automóvel, motocicleta ou eletroeletrônico, entre outros que levam a construir seu patrimônio, entrar em consórcio é a melhor e mais inteligente opção. "A pessoa adquire um bem móvel ou imóvel sem muito sacrifício e não paga taxa de juros, somente taxa de administração. Isto depende da administradora, há várias no mercado e com valores bem em conta. A flexibilidade no consórcio é enorme, o valor você ainda pode reverter em outros bens, ou acumular o dinheiro e fazer uma poupança, ao final. A maioria das pessoas não gosta porque se deixa levar pelo impulso, pela publicidade e não quer esperar para adquirir um bem de forma mais inteligente", observa Antônio Ximenes, membro do Conselho Regional de Economia do Estado do Pará (Corecon/PA).
Segundo o presidente da ABAC, Paulo Roberto Rossi, as razões que levam as pessoas a entrarem em consórcio são várias,
mas destaca que o consórcio é considerado um bem de futuro (ao lado de imóveis e da caderneta de poupança), mostrando que o sistema é um formador de patrimônio pessoal, familiar ou empresarial. “No sistema de consórcios não há cobrança de juros, não se trata de empréstimo, mas de um autofinanciamento, onde os participantes se concedem crédito recíproca e mutuamente. Por isso, há taxa de administração que remunera as atividades da administradora”, explica.
Sem juros, planos se tornam atrativos
Atualmente, no mercado paraense em geral os prazos no consórcio variam entre 25 meses e 180 meses envolvendo valores de R$ 5 mil a R$ 450 mil e as taxas das administradoras, de 14% a 25%, aplicadas de acordo com o prazo total do plano. As taxas foram principais atrativos para que a bancária Janine Barros, 32 anos, entrasse no consórcio de seu carro, marca Corsa Classic Life, de abril de 2008 até julho de 2012, tornando seu sonho real. “Optei pelo consórcio porque os valores das parcelas eram menores e sem taxa de juros como ocorre nas modalidades de financiamento Leasing e Crédito Direto ao Consumidor (CDC). Com isso, realizei um sonho que não conseguiria através do financiamento”, conta.
Porém, a bancária enfrentou problema com o consórcio, pois, em um primeiro momento, fez em nome de sua mãe, pelo fato desta ser mais velha e ter carteira nacional de habilitação há mais tempo, mas não foi informada que, na ocasião de retirar o bem, o cadastro da mãe passaria por análise de crédito e caso a parcela ultrapassasse 30% da renda não conseguiria comprar o veículo. Resultado: Janine teve que pagar R$ 600,00 para transferir o consórcio para seu nome e a parcela reajustada. “O ponto negativo foi somente a empresa não ter realizado a análise de crédito à retirada do carro no momento em que estava realizando a venda. Contudo, o valor final é bem menor e a correção das parcelas baixas e regressivas”.
Cuidados são necessários antes de aderir
Depois da experiência, Janine afirma que passou a tomar cuidados para não ser enganada e nem ter problemas ao fazer consórcio. “Antes de fechar o negócio, procuro saber da idoneidade da empresa que está comercializando o consórcio, através da internet, conversa com amigos e para saber se o vendedor realmente trabalha na instituição, enfim”.
O presidente da ABAC - instituição que desempenha papel essencial no aperfeiçoamento das normas e mecanismos do sistema, atuando como interlocutora do sistema de consórcios perante autoridades competentes e consorciados - orienta que uma a das atitudes do consumidor, antes de se tornar um consorciado, deve ser a leitura do contrato, sem deixar de consultar o site do banco central (www.bcb.gov.br) ou da ABAC (www.abac.org.br) para verificar se a administradora está ou não autorizada a comercializar cotas.
É importante observar ainda se a propaganda da empresa e os comentários do vendedor sobre as vantagens e as características do consórcio também estão inseridas no contrato. Além disso, não se deve acreditar em promessas verbais, pois as regras de participação no consórcio são bem claras. “Daí para frente, esclarecidas as dúvidas sobre seu funcionamento, o consorciado deverá participar ativamente das assembleias e acompanhar os relatórios encaminhados pelas administradoras”, aconselha Paulo Rossi.
Se o consumidor seguir essas orientações dificilmente será enganado, visto que terá à sua disposição todas as informações para decidir aderir ou não a um consórcio. Porém, caso alguma situação persista e o desagrade, poderá consultar o Banco Central, pelo telefone 0800 979 2345 ou site, pela ABAC ou ainda pelo serviço de atendimento ao consumidor: 11 - 3231-5022.
Região Norte é a principal compradora
Nos estudos que apontaram 10,9% nas vendas internas de consórcios no país no setor de veículos leves (automóveis, utilitários e camionetas), a maior parcela ocorreu na região Norte (14,28%), enquanto a Sul, com 12,11%, ocupou o segundo lugar. A região Nordeste ficou na terceira colocação, somando 11,05%. Abaixo da média nacional (10,9%), ficaram as regiões Central, com 10,62%, e Sudeste, que atingiu 10,17%.
No maior setor do Sistema de Consórcios em número de participantes, a presença dos contemplados nas vendas internas de motocicletas e motonetas foi de 30,47%, de acordo com os dados da Associação Brasileira dos Fabricantes de Motocicletas, Ciclomotores, Motonetas, Bicicletas e Similares (Abraciclo). As regiões Norte (42,06%), Nordeste (33,04%) e Central (36,30%) superaram a média nacional, enquanto a Sul (25,23%) e a Sudeste (24,21%) ficaram inferiores.
Entre os veículos pesados (caminhões e máquinas agrícolas), cuja participação nacional chegou a 22,56%, de janeiro a setembro deste ano e referenciados nos dados da Anfavea, a maior presença dos consorciados contemplados foi registrada na região Central com 28,76%. A seguir, estiveram as regiões Norte (26,07%), Sudeste (25,65%) e Nordeste (23,55%), enquanto a Sul (17,33%) ficou abaixo da marca nacional.
Atualmente, ao lado das diversas alternativas, que viabilizam a compra de carros, motocicletas, caminhões, máquinas agrícolas, os consórcios dividem a preferência do consumidor. “Para os que têm como hábito planejar, fazer contas, comparar e ter um custo menor, o mecanismo de autofinanciamento é o ideal”, diz o presidente da ABAC. “Para o setor industrial, esse mecanismo genuinamente nacional, que completará 50 anos em 2012, permite a programação da produção a médio e longo prazos, além de garantir o nível de atividade econômica. Como a contemplação de participantes acontece ao longo da duração dos grupos, o Sistema de Consórcios assegura a continuidade das vendas e, desta forma, participa de forma decisiva da cadeia produtiva”, completa.
Willian Costa, gerente da regional Norte do Consórcio Nacional Embracon, afiliada à ABAC, conta que a empresa tem faturamento mensal de R$ 300 milhões no País e na região Norte são cerca de R$ 15 milhões. “A maior parte dos consórcios no Norte são imóveis, automóveis e motocicletas. É muito difícil o cliente desistir, e, caso isso ocorra, de acordo com a nova lei, ele continua participando dos sorteios na cota cancelada, tem os valores reduzidos, de acordo com o percentual que pagou, e recebe as penalidades (taxas) por desistência”, explica. A Embracon está há quatro anos no mercado local com filiais em Belém, Marabá, Manaus e São Luis.
O Consórcio Nacional Embracon está há 24 anos no mercado, é a administradora oficial de consórcio das marcas "Mitsubishi Motors", "Suzuki Motors" e "Consórcio de Produtos DPaschoal". O Embracon, que é autorizado e fiscalizado pelo Banco Central do Brasil, está entre as 100 melhores empresas para se trabalhar, segundo pesquisa divulgada pela revista Época.
Saiba mais sobre o consórcio no Brasil
No início da década de 1960, com a instalação da indústria automobilística no território nacional e em decorrência da falta de oferta de crédito direto ao consumidor, funcionários do Banco do Brasil tiveram a ideia de formar um grupo de pessoas, com o objetivo de constituir um fundo suficiente para aquisição de automóveis para todos aqueles que dele participassem. Surgia, assim, no Brasil, o consórcio – mecanismo de concessão de crédito com custos mais baixos, que tem por objetivo a formação de patrimônio e aquisição de bens de consumo e serviços. O consórcio constituiu-se como importante ferramenta para essa indústria recém instalada no País.
Em 1967, a Willys Overland do Brasil (montadora de veículos) já possuía, em sua carteira de clientes, 55 mil consorciados. Portanto, o consórcio teve sua origem ligada à indústria automobilística, e durante muito tempo o automóvel foi seu único produto. No final de 1979, o setor de consórcios inicia seus estudos para o lançamento de grupos referenciados em motocicletas, caminhões e eletroeletrônicos.
Hoje, inteiramente consolidado, o sistema de consórcios viabiliza a aquisição de diversos produtos que vão desde bens de produção, a caminhões, implementos agrícolas e rodoviários, ônibus, tratores, colheitadeiras, embarcações, aeronaves, computadores, motocicletas, passando pelos eletroeletrônicos, kits de casa pré-fabricada, imóveis, construção, reformas e até serviços como consultorias, pacotes turísticos, festas, cursos de pós-graduação, entre outros.
Fotos: Divulgação
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 27/11/2011.
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