segunda-feira, 25 de julho de 2011

Compra de veículo pede cautela

Todo cuidado é pouco, segundo o Conselho Regional de Economia do Pará, na hora de adquirir um veículo

Por: Cleide Magalhães

Reportagem Especial publicada no jornal Amazônia, 23/07/2011

Em meados de 2010, o Departamento de Trânsito do Pará (Detran) previa que o crescimento da frota de veículos novos e usados, fabricados entre os anos de 2003 e 2021, será em torno de 6 milhões registrados circulando no Pará, dos quais 1,6 milhão somente na Região Metropolitana de Belém (RMB). Atualmente, há estimativas que a frota de veículos no Estado corresponde a quase um milhão de veículos sendo quase 290 mil na capital.

A previsão gera preocupação em diversas áreas. Uma delas é a econômica. Por isso, quem decidir comprar um veículo, seja ele novo ou usado, deve ter atenção redobrada antes de fechar negócio. Além da aparência e da mecânica, é preciso ter uma atenção especial com a documentação do veículo, formas de financiamento, impostos e taxa de juros para não tornar o sonho um pesadelo e evitar com que conflitos originem-se após a conclusão do negócio.

Antônio Ximenes, membro do Conselho Regional de Economia do Pará (Corecon-PA), observa alguns fatores que influenciaram no aumento da venda de veículos, como a queda no desemprego (que hoje está em torno de 6,5% e 7% no Brasil), o crescimento da renda real do consumidor, que se deve à queda nas taxas de juros e à renúncia - durante quase dois anos - do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI), que incide sobre produtos industrializados, nacionais e estrangeiros. Além disso, afirma que houve uma política de venda das empresas e foram esticados os prazos de financiamento dos bancos, fazendo com que as pessoas com renda mais baixa passassem a ter acesso aos veículos.

Ele orienta que quando se toma a decisão de adquirir um veículo novo ou usado, seja à vista ou financiado, desde o primeiro momento é preciso ter cautela, brigar pelo menor preço e sempre comparar preços. 'Durante a negociação, é melhor não demonstrar estar ansioso. O vendedor vai se esforçar para realizar o negócio sem oferecer desconto, porque sua comissão depende não somente do preço final do veículo, mas também da margem de lucro para a concessionária. Por isso, para manter o preço cheio ele oferece gratuidades como acessórios, licenciamento de placa, entre outros. Se a estratégia do vendedor não funcionar e perceber que o cliente vai procurar o concorrente, ele recorre ao gerente para obter desconto. Então, o consumidor tem que pechinchar sempre o preço, procurar pelo menos três pontos de venda e, de preferência, verificar marcas diferentes, depois retornar com o vendedor e fazer a negociação', aconselha o economista.

Entre o veículo novo e usado, a melhor escolha ainda a ser feita é pelo primeiro devido à conservação, garantia e segurança no negócio. Além disso, os veículos usados comprados com financiamento costumam ter taxa de juros maiores que os novos e o custo de manutenção também.

Mas se por algum motivo a pessoa resolver negociar um veículo usado, ele dá uma dica: 'Se a pessoa não conhece um veículo e não sabe quando este está ou não em bom estado de conservação, é necessário pedir ajuda para alguém que saiba para não assumir uma dívida e o carro não funcionar bem. Muitas vezes, a renda não permite pagar a prestação e o custo de manutenção. Por isso, todo cuidado é pouco sobre a origem do veículo; há uma série de fatores mecânicos a serem observados. O melhor é comprar de alguém que o consumidor conhece e sabe melhor sobre o histórico do veículo, para evitar ter surpresas desagradáveis'.

Cliente precisa escolher forma de pagar

Outro ponto importante que nem sempre é bem explicado ao cliente na hora da compra são as formas de venda a prazo. Hoje elas são feitas em leasing e crédito direto ao consumidor (CDC). O leasing é uma modalidade de aluguel com opção ou não de compra do veículo pelo cliente no momento da liquidação do contrato. Entretanto, no caso de contratos de transação com veículos, o que seria valor de aluguel passa a ser valor de parcela do valor total do veículo acrescido de taxa de juros. O CDC é outra modalidade de venda que existe entre a concessionária e cliente, um banco, que repassa o valor do veículo à concessionária e o financia em parcelas para o cliente, cobrando taxa de juros. 'Quanto à questão de parcelamento e taxa de juros entre ambas quase não há diferença a não ser a taxa de juro, que no caso do Leasing o risco financeiro do financiamento é considerado menor para o banco', explica Antônio Ximenes.

Com relação à liquidação antecipada do contrato há grande diferença entre o CDC e leasing. 'No primeiro, caso o cliente queira liquidar o contrato antecipadamente os juros incidentes sobre as parcelas a vencer sofrerão abatimento significativo. No leasing, o valor dos juros incidentes sobre o saldo devedor das parcelas futuras não sofrerão nenhum abatimento'.

Ainda a respeito da taxa de juros, o conselheiro do Corecon alerta que é importante o consumidor ficar atento para não levar 'gato por lebre'. 'Quando o vendedor fala em taxa de juros ele já está deixando de informar uma série de valores que incidem sobre o total a ser desembolsado: Imposto Sobre Operação Financeira (IOF), Taxa de Cadastro (TAC), registro de contrato de alienação fiducionária, entre outros', revela o economista.

Atenção deve estar redobrada também para a taxa de jurosdos bancos. Entre eles pode haver diferença significativa, além do mais, as concessionárias têm liberdade para oferecer taxas diferenciadas e, nesse momento, o que faz diferença é o nível de esclarecimento do consumidor. 'Quando elas (concessionárias) conseguem repassar a maior taxa, ganham bônus dos bancos que financiam seus carros e estes bônus serão maiores quanto maior for a taxa de juros que conseguirem repassar ao consumidor', esclarece.

Facilidade fez usados desvalorizarem, diz presidente da Assovepa

Segundo o presidente da Associação de Veículos do Pará (Assovepa), Claudionor Moreira da Costa, os preços dos carros novos no mercado paraense, que oferece dezenas de marcas e modelos, variando dos carros populares aos de luxo, estão entre R$ 25 mil e R$ 180 mil. Já os veículos usados custam hoje entre R$ 12 mil e R$ 100 mil.

Além dos impostos de circulação, como IPI e ICMS, nos preços estão incluídos ainda os impostos fixos que as empresas têm que recolher ao final da transação.

Com as facilidades do mercado para comprar veículos novos e pelo volume de oferta do usado, este setor apresenta queda de 20% no Pará, informou Claudionor Moreira da Costa.

'Quem precisa trocar seu veículo enfrenta dificuldades na hora de vender porque os usados têm sofrido desvalorização e o preço despencado mês a mês. Em compensação o preço do zero quilômetro tem se mantido e até baixado. Há pouco tempo, as vendas na quantidade de novos e usados era de 3,5 usados para 1 novo. Hoje está em 1,5 usado para 1 novo', disse o presidente da Assovepa.

Quanto maior o prazo de financiamento, mais se paga pelo bem

Muitas vezes na hora de comprar um veículo o consumidor está ansioso, preocupado apenas que a parcela caiba no seu orçamento e não percebe que quanto maior for o prazo, maior serão os juros a serem pagos sobre o valor real do veículo.

Geralmente, só vai se dar conta disso quando já assumiu o compromisso e não tem mais como voltar atrás.

Acaba, então, pagando dois ou mais veículos novos e no final do contrato está com objeto que tem baixo valor no mercado ou servirá para ele dar de entrada em um outro veículo assumindo nova dívida.

O melhor é evitar manter parcelas por muitos anos. 'Os longos prazos pura ilusão, porque os juros são exponenciais e se multiplicam. Se diminuir as parcelas, o valor fica mais compatível'.

Consórcios - Para quem consegue segurar a ansiedade e não tem pressa para obter um veículo, a melhor e mais inteligente opção é entrar em um consórcio. 'A pessoa adquire um bem sem muito sacrifício e não paga taxa de juros, somente taxa de administração. Isto depende da administradora e há várias no mercado e valores bem em conta no mercado. A flexibilidade no consórcio é enorme, o valor você ainda pode reverter em outros bens ou acumular o dinheiro e fazer uma poupança ao final. A maioria das pessoas não gosta porque se deixa levar pelo impulso, pela publicidade e não quer esperar para adquirir um bem de forma mais inteligente', disse o conselheiro Antônio Ximenes.

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