segunda-feira, 20 de julho de 2009

“Ourém, sob um novo ponto de vista”


Cultura

Por: Arlindo Matos, ativista cultural em Ourém/PA.

A frase do título acima não é minha, mas de um conviva que acabara de chegar dos Estados Unidos e ouvira minha ideia em fazer um festival da canção alternativo no Morro da Capelinha, ponto mais alto da cidade, lado oposto e extremo a orla nervosa da cidade de Ourém, onde outrora fora palco de maravilhas charmosas da cultura de um povo ordeiro e hospitaleiro.

Ourém, que nas rodas de gozação seria a “terra do contrário” ou “terra do já teve”, continua fazendo jus a essa pecha engraçada, porém trágica do ponto de vista lógico daqueles que velam pela mantença das tradições enraizadas em seu torrão. Isso nunca será engraçado, pois já perdemos tanto em nossa trajetória de quase trezentos anos, que mais uma não seria tão difícil de suportar. A ordem é levar a porrada e dizer amém.
Dizem os que atentam contra os interesses do povo que acabar com o maior e mais antigo festival da canção do norte do país será motivo de lamentação para apenas meia dúzia de intelectuais da cidade. Decerto o resto do povo foi chamado de desinteligente, para ser bonzinho, incluindo-se quem falou tal heresia. Eu mesmo ouvi um comparativo infeliz de uma das engrenagens do poder, que disse na minha cara: “Entre mestre Cardoso do boi bumbá ou qualquer outro artista de Ourém o Município prefere as mega-aparelhagens de Belém”. Uma pena e mesmo respeitando o gosto e os profissionais de som do Pará, mas é difícil engolir o desdém de quem é pago por nós pra levantar nosso orgulho, nossa auto-estima. Constatamos que estamos pagando literalmente os algozes da nossa cultura.
Ourém já perdeu ao longo dos séculos muito território e status. Emancipações foram diversas, órgãos outros tantos e agora pode perder sua identidade. Até bem pouco tempo ser filho de Ourém significava ser culto, hospitaleiro, esportivo e ordeiro. Hoje os asnos campeiam por aqui e uma nova ótica está sendo moldada para tratarem os frutos desta terra e os peixes deste rio. Acho que está em processo a ferra da “escrotice” para marcar a testa de nosso povo por muitos anos a fio.
E o propalado festival da canção, maior ícone da cultura de Ourém está indo pro brejo como se fora um estorvo e ninguém há de protestar? O festival da canção que virou lei municipal está sendo empurrado para o “beleléu” sem direito a um defensor público sequer? Cadê os fundadores do evento que lamentam engolindo o choro? Cadê os laureados e “reconhecidos” filhos de Ourém que rosnam, mas em seguida “balançam o rabo”, jogam a pedra, mas escondem a mão temendo “Nero incendiar Roma” ?

Dizem as escrituras que no ano 33 Pedro negou Cristo por três vezes e em 2009, em pleno terceiro milênio, temos aqui uma porção de “pedrinhas de seixo” pererecando como pipoca, ou na gíria, “pipocando” mesmo diante do espelho que ninguém quer ver. Parabolicamente ou metaforicamente esse seixo miúdo nada mais é do que a maioria dos filhos da terra que sempre se disseram criadores e fundadores deste tão nobre evento.
Poderia citar uma porção de “pedrinhas” que seriam os “Pedros” atuais que agora “amarelam” diante do altar, mas não precisa citar, pois já fora dito, e parece que com razão, que temos apenas meia dúzia de intelectuais na cidade decididos a lutar efetivamente por nossa cultura. Nossas “pedrinhas” estão por aí esparramadas detrás das moitas da covardia. São covardes mesmo porque não encontraria outro adjetivo tão bem empregado aos que negam sua Pátria camuflando suas bandeiras.
Esta crônica foi motivada para que fique em registro antecipado, que este que vos escreve não bate palma nenhuma para os agentes anti-culturais e muito menos tolera a inércia dos “convenientes de plantão” de Ourém, tão responsáveis como nossos algozes institucionalizados pela nossa derrocada e que minha emoção caiba dentro de toda razão...

Abraços para os que crêem no meu brado e chute nos cães que mordem meus calcanhares. Viva a Cultura de Ourém!

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