Por: Cleide Magalhães
"As Filhas da Chiquita", conhecida por muitas pessoas como "Festa da Chiquita", vai completar 32 anos no próximo dia 9. Este ano a festa traz como temática "As Divas" em homenagem à Mara Rúbia, vedete paraense, que nasceu na ilha do Marajó e consagrou-se no teatro de revista durante os anos 1940 e 50. A festa, que já reuniu cerca de 40 mil pessoas em 2006, entre gays, lésbicas, artistas e simpatizantes, promete se manter como ícone na época do Círio de Nazaré e os preparativos estão a todo vapor. "Corremos atrás de apoio para realizarmos a festa. O importante é garantirmos a montagem do som, luz e palco. A participação de personalidades é algo que poderá surpreender a todos. Muita coisa dependerá da força que vamos receber. Queremos atrair o máximo número de pessoas para o evento", afirma Eloy Iglesias, coordenador e produtor do evento.
Durante a "Festa da Chiquita" o público conversa e dança ao som de ritmos regionais e estrangeiros. A tradicional participação do Borboletas do Mar, grupo de carimbó de Marapanim, nordeste do Pará, já está confirmada, bem como a distribuição de prêmios.
"As Filhas da Chiquita" conta sempre com a participação de drag queens
O momento mais esperado da festa é a coroação do "Veado de Ouro", prêmio dado geralmente a alguém que se destaca no meio artístico. Este ano o homenageado será André Lima, estilista internacional. Na festa também é coroada a "Rainha do Círio". Geralmente esse prêmio é dado a uma prostituta ou mesmo ao homossexual mais elegante, alegre e expressivo do ano.
A festa "As Filhas da Chiquita" acontece sempre no sábado, véspera da procissão do Círio, depois que passa a Trasladação - que leva a imagem de Nossa Senhora de Nazaré à Igreja da Sé, na Cidade Velha -, na rua da Paz, ao lado do Theatro da Paz. Por isso, ela é considerada o lado profano da procissão, organizada por travestis que frequentam o complexo da Praça da República. "Ela é um ícone da luta contra à Ditadura Militar e da fobia e a favor dos direitos humanos. Ela faz parte da cultura popular, que tem sempre uma forma de resistência - sobrevivente pela sua maneira de se mostrar presente na vida e pela sua capacidade de criar, refletir e incorporar novos signos e formas de expressão", ressalta Eloy.
Tombamento - Embora o público que participa do evento seja visto por algumas pessoas da sociedade de forma dissidente, em 2004, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluiu a Festa da Chiquita no processo de tombamento do Círio como patrimônio imaterial da humanidade, devido à programação profana estar inevitavelmente atrelada ao evento religioso. Ela teve destaque também em nível nacional ao ser retratada no filme "As Filhas da Chiquita", da cineasta Priscila Brasil, em 2006. É ainda mais antiga que as Paradas Gays.
Matéria publicada no jornal Amazônia, dia 10/09/2010.
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