Edição: Ana Danin
Jovens se drogam no Reduto, sem que nada seja feito por eles
Em pleno centro de Belém ferve uma realidade triste e nociva para a sociedade. Na Praça General Magalhães, no Reduto, distante poucos metros do Cais do Porto - onde há constante embarque e desembarque de pessoas -, cerca de 40 crianças e adolescentes cheiram removedor de tintas, conhecido como tíner, e fumam crack e pasta de cocaína em plena luz do dia. Nos últimos tempos, eles trocaram o consumo de cola de sapateiro por essas drogas. Um drama social ignorado pelo poder público. Os meninos e meninas usam garrafas, panos e estopas para inalar o removedor de tintas.
A praça, que está em situação de abandono, serve, ainda, de espaço de moradia para muitos deles, que também dormem pelo coreto, ao centro da praça, ou se ajeitam em galpões, muitos dos quais ainda mantêm suas características originais da Belém da Belle Èpoque, próximos ao canal do Reduto, o qual está sujo, mal cuidado e exala cheiro desagradável.
Essa condição vivenciada nas ruas diariamente pelos menores de idade do Reduto é paradoxal ao Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA), que há 20 anos busca garantir que "crianças e adolescentes brasileiros, sem distinção de raça, cor, classe social, passem a ser reconhecidos como sujeitos de direitos, considerados em sua condição de pessoas em desenvolvimento a quem se deve prioridade absoluta, seja na formulação de políticas públicas e destinação privilegiada de recursos de diversas instâncias político-administrativas do País."
Um trabalhador da área, que pediu para não ser identificado nesta reportagem, conta que algumas crianças e adolescentes que consomem tíner e crack têm famílias, mas estas também não são interpeladas nem contam com apoio das autoridades públicas no sentido de tentar resgatar seus meninos e meninas da situação de rua e do risco em que se encontram. "Às vezes guardas municipais aparecem por aqui, mas logo vão embora fazendo somente ‘a capa’ diante da situação, porque, logo depois que eles saem, as crianças e adolescentes voltam para a praça. Eles consomem até pasta de cocaína, brigam entre si e suas atitudes são bastante agressivas. Deveria ter um efetivo fixo da guarda municipal nesse lugar", sugere.
Ele lembra que raras vezes a família de algumas crianças e adolescentes aparece no local e conversa com eles, mas, infelizmente, não consegue levá-los de volta para casa. "Essas crianças dizem que têm medo de serem executadas. Um dia desses, apareceram algumas pessoas armadas, de madrugada, atrás deles no coreto, mas acabaram indo embora. Talvez não encontraram o que ou quem procuravam. Diante, principalmente, dessa situação os meninos e meninas comentaram que querem voltar para suas casas, mas não têm força para deixar o vício e se libertar da rua. São pessoas doentes, sofridas e precisam da nossa ajuda e da sociedade", acredita o trabalhador.
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 26/09/2010. Para ter acesso ao assunto na íntegra clique aqui.
Foto somente para ilustrar de O Globo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário