Talvez a projetada hidrelétrica de Belo Monte, no rio Xingu, se torne única na história da energia em todo mundo: o custo da transmissão irá superar o da geração. Jorge Palmeira, presidente da Eletronorte, diz que a obra da usina sairá por valor “superior” (não diz em quanto) a seis bilhões de reais. Já a linha de transmissão custará R$ 7 bilhões. Em geral, a hidrelétrica é muito mais cara do que a sua linha. Por que a diferença?
Belo Monte foi concebida para gerar energia para consumidores que estão a grande distância e não para atender demanda local. Suas linhas de transmissão poderão chegar a três mil quilômetros de extensão para que ela atinja os mercados mais eletrointensivos do país. Como o pacote completo do projeto, superando R$ 13 bilhões, dificilmente atrairia interessado e ainda exporia o seu custo a críticas, a obra foi dividida em duas partes e assim será licitada (ainda neste semestre, na expectativa da estatal).
Como se trata de um projeto colonial, de transferência de energia bruta para transformação em outro local, o que acontecerá é que essa linha de transmissão será quase só de mão única. No período úmido, quando chover bastante no vale do rio Xingu, ela remeterá para o sul uma enorme quantidade de energia, que a Eletronorte continua a dizer que chegará a 11 mil megawatts (um terço a mais do que a potência máxima de Tucuruí).
No período seco, quando não haverá água suficiente, em algum momento sequer para movimentar uma só das 20 máquinas da casa de força da usina, não virá por esse linhão a energia do sul, que estará em período hidrológico favorável, através do sistema integrado nacional. Por quê? Porque não haverá demanda significativa em torno de Belo Monte, típico projeto de enclave e não de desenvolvimento, para absorver a carga justificável para transferência em alta tensão por essa distância.
Se o que a Eletronorte diz for verdadeiro, mesmo em certos momentos do verão no Xingu, quando poderá estar gerando de 800 a até mil MW, Belo Monte continuará a ser um sangradouro de energia do Pará se não surgir empreendimentos produtivos associados à oferta abundante de energia. Por enquanto, essa relação não foi estabelecida. O que existe são conjecturas e especulações. Ou, quando muito, intenções não consolidadas.
Se Belo Monte sair, o Pará se tornará o maior exportador de energia bruta do Brasil (é o 3º no momento). Talvez do mundo. Não é um título que nos honre, muito pelo contrário. Estará mandando para outros lugares um dos principais insumos do desenvolvimento para se subdesenvolver cada vez mais.
Fonte: Jornal Pessoal, do jornalista Lúcio Flávio Pinto.
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