sexta-feira, 9 de outubro de 2009

''Surra de Arte'' no Corredor Polonês


Arte e Cultura

Nelson Rodrigues dizia: “Mulher gosta é mesmo de apanhar”. Mas se a “porrada” em questão for artística ou estética, ela se estende a todos, independentemente do sexo. Porque o ateliê cultural Corredor Polonês promove nesta semana o Surra de Arte. Três dias de muita atividade nas áreas de fotografia, cinema de rua, teatro, artes plásticas, música, literatura entre outras vertentes. Uma temporada para deixar marcas pelo corpo e pela mente.
A casa que abriga o Corredor Polonês tem dois andares e mistura ateliê e salão de arte. O espaço comporta salas de sobra, teto-lunar, palco, jardim interno e sacadas para a arte se deleitar em pancadas aos visitantes.

Neste sábado (10), acontece a última noite. O espancamento inicia pelos bailados das saias rodadas em ritmo de carimbó, com o grupo Mandinga da Amazônia, formado a partir de oficinas com jovens no bairro do Guamá. Em seguida, tem a Procissão de Carimbó, marcando o fim das atividades do Corredor Polonês até a Festa da Chiquita.

Já na sexta-feira (9), o Corredor homenageou os 109 anos de Ismael Nery (1900 – 1934) com a exposição de suas principais obras. O lançamento da revista PZZ (Pará Zero Zero) ocorreu no mesmo local. A publicação traz em sua nova edição reportagem especial sobre o artista plástico paraense. A mostra fica até o dia 10.

A banda Lisérgio e VenDaWal Loureiro com influências de MPB e rock psicodélico garantiu a música ao vivo na noite. Ao lado do grupo Brihat com música experimental de sons distorcidos, percussão em instrumentos étnicos e sintetização eletrônica. E para completar, se apresentou Benshi e Bonde Andando com teatro, música, poesia e contos, e antenada na sustentabilidade, os instrumentos da banda são feitos de materiais reutilizados.

Corredor Campina trocou de DJ e trouxe a peia sessions/avant-guarde do DJ Luan. O cineclube exibe “Degeneração” (Marginalia e’ Churume), “O Tempo da Laranja” (Marginalia) e “Jabiraca” (Fernando e Bruna).

No dia 8, quinta-feira, teve a surra começou com a exposição fotográfica dos artistas Mayara Domingues (DF) e José Viana (PA). A dupla apresentou leitura inédita de seus trabalhos na capital paraense. No campo das artes plásticas, o público pode conferir as bofetadas da mostra do acervo “Ateliê em Processo”, do Corredor Polonês. Com a curadoria de Karlo Rômulo, pinturas em óleo, aquarelas, gravuras, esculturas e objetos espalharam-se por todos os cantos do lugar.

Para os apreciadores de raridades, o sebo Elefante Branco ofereceu uma verdadeira sessão de sadomasoquismo com os livros e vinis disponibilizados. Prazer para quem gosta de ver o sofrimento alheio diante da dúvida de qual artigo levar. E prazer pra quem ficar se contorcendo de dor pela incerteza da escolha. Para climatizar o espaço, teve a rádio Corredor Campina, com programação musical, poesia e informação com o DJ B’zarro, em ritmo oitentista.

Os cinéfilos não precisaram se preocupar. Houve hematomas reservados para eles também. Ainda no dia 8, teve cineclube de rua com as produções do Corredor Polonês “A Origem é o Fim” e “Música, lendas e crenças em Soure (Marajó)”.As fotografias do acervo Ateliê em Processo, e o sebo Elefante Branco seguem até o último dia do evento.

No domingo (11), é só contar as marcas das pancadas ou deixar para a segunda-feira, depois do Círio.

Serviço: Surra da Arte, no Corredor Polonês, que fica na rua General Gurjão, 253, a partir das 20h. Entrada Franca. Mais informações: 9623-5320ou pelo blog http://www.surradearte.blogspot.com/

Texto: Yorranna Oliveira
Foto: Divulgação.

2 comentários:

  1. Não duvido da qualidade das obras expostas no Corredor Polonês, mas preciso registrar o meu estranhamento pela associação de manifestações artísticas com violência. Nos tempos atuais, a arte tem um papel fundamental de nos fazer refletir e questionar padrões de comportamento que apesar de aceitos socialmente, nos geram sofrimento e entravam nossas relações interpessoais.
    Artistas fazendo apologia à violência me soou muito estranho.

    ResponderExcluir
  2. Surra de arte? Por mais que a intenção haja sido benéfica, é necessário compreender o sentido da escrita, do texto, e de como ele pode representar idéias discriminatórias e preconceituosas contra a mulher.
    Nelson Rodrigues foi um autor maravilhoso, artista da escrita, mas usá-lo como figura que valoriza a violência é para mim um grande equívoco. Nelson escrevia sobre mulheres e, diga-se de passagem, sobre vários tipos de mulheres. Comparar a frase solta sem analisar o contexto em que foi escrita é iludir o pobre leitor que não conhece o autor e que crê facilmente no que lê a primeira vista.
    O jornalismo tem uma função tremendamente especial nesta sociedade de consumo capitalista, e leva para dentro das casas das pessoas idéias e valores de diferentes teorias. Um simples texto para uma simples divulgação de um evento artístico, nunca pode ser um texto qualquer, sem pensamento crítico e político. Há pessoas que se incomodam com o que lêem, desculpe-me a escritora, mas seu texto trouxe incômodo. O mesmo faz apologia à violência. A arte não combina com violência, com surras e pancadas. Isso precisava ser escrito.
    Ediane Moura Jorge

    ResponderExcluir