História, Cultura e Memória
O pesquisador Aldrin Moura de Figueiredo lançou recentemente, pela Editora de Universidade Federal do Pará (Edufpa), o livro “A cidade dos encantados: pajelanças, feitiçarias e religiões afro-brasileiras na Amazônia, 1870-1950”. A obra é resultado do estudo sobre a história cultural das práticas religiosas na Amazônia e da leitura de gerações de intelectuais que estudaram essa temática ao longo dos últimos 150 anos.
Aldrin reconta a história das religiões amazônicas e de como essas manifestações se tornaram o tema predileto de antropólogos e historiadores desde o século XIX até meados do século XX. “Nos jornais de antigamente, este tipo de religiosidade era considerada ‘feitiçaria’, já que havia uma grande incompreensão por parte dos jornalistas e da sociedade na época”, diz o pesquisador.
Segundo Moura, a abordagem sobre a prática das religiões afro-amazônicas ganhou novos horizontes, quando o assunto virou alvo de estudos acadêmicos. “Ao longo do tempo a perspectiva dos intelectuais sobre o tema foi mudando. Enquanto José Veríssimo, na década de 1870, criticava a existência e a disseminação da pajelança como sintoma de barbárie, Eduardo Galvão, na década de 1950, via nos rituais dos pajés uma marca fundamental da concepção de vida do caboclo e do homem da Amazônia.
A partir dos anos 70, uma inclusão política desses grupos tem sido notada, com a participação de lideranças afro nos fóruns de debates municipais, estaduais e federais”, explica Aldrin. Curiosidades. Entre os fatos curiosos apontados na obra, estão os documentos mais antigos sobre a lenda da princesa de Maiandeua, na vila de Algodoal, registrada pelo folclorista Antonio de Pádua Carvalho (1860-1889). Antônio não deixou nenhum livro publicado, a não ser algumas matérias que circularam nos jornais de Belém no século XIX.
“A cidade dos encantados” também traz importantes informações sobre Satiro Ferreira de Barros, um dos mais conhecidos pajés de Belém nas primeiras décadas do século XX. O pajé recebeu em seu terreiro, em 1927, o escritor Mário de Andrade, na famosa viagem do poeta à Amazônia, quando trabalhava no projeto do livro “Macunaíma”.
O livro ainda analisa escritos sobre práticas culturais associadas ao universo dos terreiros, como o carimbó, o boi-bumbá, festas de santos. E histórias sobre matinta-pereira, rasga-mortalha, curupiras e outros encantados do imaginário popular de Belém. Seres que sobreviveram em documentos da imprensa e da polícia, guardados nos arquivos paraenses.
O autor
Aldrin Moura de Figueiredo é graduado em História e possui aperfeiçoamento científico em Antropologia Social. Ele possui mestrado e doutorado em História pela Unicamp. E dedica-se há 20 anos ao estudo da religiosidade popular na Amazônia, em especial sobre a história da pajelança cabocla e das religiões afro-brasileiras na região. Atualmente coordena o programa de pós-graduação em História Social da Amazônia, da Faculdade de História da Universidade Federal do Pará e é bolsista de Produtividade em Pesquisa do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico do Brasil.
Fonte: http://www.guiart.com.br/
Fotos: Divulgação.
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