segunda-feira, 7 de junho de 2010

Ensino de má qualidade atrapalha avanço da ciência e tecnologia


Educação

Para palestrantes da 4ª CNCTI e professores da UnB, formação de bons profissionais depende mais do ensino básico que das universidades
Agência UnB

Debates recentes ocorridos na 4ª Conferência Nacional de Ciência e Tecnologia foram marcados por críticas ao sistema de ensino brasileiro. Professores, pesquisadores e especialistas na área defenderam que a má qualidade do ensino básico dificulta e até emperra a formação de recursos humanos qualificados em ciência, tecnologia e inovação. Mozart Neves Ramos, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) mostrou que apenas 23,7% das crianças que concluem a 4ª série do ensino fundamental realmente aprenderam matemática. Na 8ª série, apenas 14,5%. No ensino médio, o número é ainda menor, somente 9,8% dos alunos. “Como podemos esperar alguma coisa dessas pessoas que não aprenderam os conteúdos mínimos para ingressar na universidade”, questionou o professor.

Outros dados preocupantes apresentados por Mozart revelam que a má formação dos jovens brasileiros é culpa também de quem ensina. Apenas 58% dos professores de matemática no Brasil têm formação para lecionar a disciplina. “Imaginem se vocês levam uma pessoa querida para uma cirurgia e chega na hora o hospital diz que o cirurgião não poderá fazer o procedimento, mas que tem um pediatra ótimo. É isso que acontece com o ensino no nosso País”, disse indignado. “O grande passo dessa conferência em relação às anteriores foi identificar que formar recursos humanos qualificados na área não é mais responsabilidade da universidade, e sim do ensino básico”, resumiu o professor Isaac Roitman, biólogo e secretário de comunicação institucional da Universidade de Brasília, que esteve presente no encontro.

ESTÍMULOS - Para a professora Solange Amorim e Amato, da Faculdade de Educação da UnB, valorizar os professores dando uma boa remuneração é a chave para o sucesso da educação no Brasil. “Só assim os docentes terão interesse em se manter na profissão, terão medo de perder o emprego e a consequência é correr atrás para ensinar de forma excelente”, afirma. Ela acredita que os baixos salários estão entre as causas da evasão de profeo serviço público. “Se o concurso paga R$ 6 mil, pague ao professor esse salário. Ele estará motivado.” Marco Antônio Raupp, presidente da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) sustentou que o programa ABC na Educação Científica Mão na Massa - que ensina ciências desde as séries iniciais - é uma das experiências mais positivas hoje no Brasil para envolver crianças em pesquisas. “Se colocarmos esse projeto como uma política pública de responsabilidade do governo federal teremos no nosso país mão de obra muito qualificada no futuro. É assim que funciona com as nações emergentes que mais evoluem economicamente.”

Sônia Marise Salles Carvalho, professora do Departamento de Teorias e Fundamentos, explica que nessa fase, a criança precisa ser estimulada e o ensino de ciências é o caminho. “Precisamos aguçar a curiosidade. Depois que a criança aprende ciência tudo passa a fazer sentido. Ela aprende a problematizar e resolver”. Na UnB existe a disciplina Ensino de Ciência e Tecnologia I e II que prepara futuros professores para o ensino de ciências na pré-escola e na alfabetização.

Fonte:

Correio Braziliense, 31/05/2010 - Brasília DF


2 comentários:

  1. Excelente matéria Cleide, isso mostra a triste realidade heterogênica desse país, enquanto alguns estados alardeiam investimentos na educação com melohria salarial e de instalações, a cultura regional pode ser fator determinante de progresso ou fracasso. De fato, onde não há uma educação raíz, não há progresso escolar, a verdadeira educação começa em casa.
    Parabéns pela matéria e por outros excelentes trabalhos que faz!

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  2. Obrigada, Arabutam. As disparidades são imensas nesse país, enquanto não conseguirmos distribuir melhor a renda, nada vai andar mesmo. Ah, você é suspeito para falar do meu trabalho. Rs. Bjs.

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