quarta-feira, 16 de fevereiro de 2011

Amebíase é ameaça constante

Por: Cleide Magalhães

Edição: Márcia do Carmo

Estudo revelou que hortaliças vendidas em supermercado e 6 feiras de Belém estão contaminadas por parasita

A falta ou precariedade de saneamento básico na cidade favorece, nesta época de chuva, ao aumento dos casos de amebíase. Mais vulneráveis por ignorar os perigos de tomar banho e brincar nas enxurradas, valas e canais, crianças geralmente são as que mais se contaminam pelo protozoário Entamoeba histolytica, que transmite a doença ao homem.

Uma outra forma de contaminação da doença e que serve de alerta à população pode acontecer por meio do consumo de hortaliças cruas vendidas nas feiras e em supermercados da cidade. A dissertação de mestrado apresentada em 2010 pelo estudante Samuel da Luz Borges, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), intitulada "Frequência e diversidade de enteroparasitos veiculados por hortaliças comercializadas na cidade de Belém-PA e sua relação com a sazonalidade climática", constatou que alface, coentro e agrião vendidos em uma rede de supermercados e seis feiras de Belém estavam todos contaminados por enteroparasitas. "Para nossa surpresa todas as amostras analisadas deram positivas para um ou mais enteroarasitose. A contaminação veio de três hortas que abastecem parte das feiras de Belém, que regavam as hortaliças com água contaminada. Esse resultado nos deixou perplexos, pois não é isso que queremos ou desejamos para a população", ressaltou Evander Batista, pesquisador e professor de Parasitologia do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), que foi orientador da dissertação. A tese foi submetida para a publicação em uma revista inglesa especializada, a Food Control.

O Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA) continua a pesquisa sobre o parasita. Uma delas, intitulada "Estudo de Novos quimioterápicos em Entamoeba histolytica", é feita pela estudante de mestrado Betânia Mara Alvarenga, que está na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, testando novas drogas contra o para protozoário da doença.

Segundo Evander Batista, a amebíase é uma doença tropical e adquirida através da ingestão de água e alimentos contaminados com as fezes humanas, pois é nela (fezes) que é eliminado o cisto, que causa a infecção. "Quando alguém tem um protozoário no intestino e defeca onde, por exemplo, não tem saneamento básico, pode ocorrer a contaminação do leito de água, do alimento, da fruta, de hortaliças, enfim... Se a pessoa ingerir água onde há o cisto este torna-se o protozoário que vai habitar e desenvolver a doença. A transmissão da doença por insetos ocorre menos e acontece se uma mosca contaminada pousar nas frutas que não são lavadas antes da ingestão. A doença atinge mais as crianças da periferia porque são mais vulneráveis. Entre homens e mulheres, acomete mais os homens, mas ainda não há explicação científica para isso", afirma Evander Batista, que é ainda doutor em Parasitologia Humana.

Uma pessoa pode se infectar várias vezes

A mesma pessoa pode ser infectada várias vezes e o protozoário da amebíase pode ou não causar sintomas. "A doença pode ser assintomática e pessoa pode até ser portadora do protozoário, e não apresentar quadro nenhum clínico. Mas quando a doença se desenvolve, o tempo de incubação é de cinco e sete dias até que se manifestem os sintomas, tempo em que ele se transformam em trofozoítos, que se movimentam e causam a doença". Os principais sintomas são leves dores na barriga e no abdômen, ou quadro graves de diarréia ou disenteria, que é a diarréia com sangramento nas fezes. Sem tratamento adequado, a doença pode levar à morte.

Evander Batista orienta que a prevenção correta da amebíase é aquela que muitas pessoas sabem, mas poucas fazem. "É fundamental cuidar bem da água e alimentos que serão ingeridos, lavar as mãos antes das refeições e depois de uso de sanitários, lavar bem as hortaliças ingeridas cruas, como alface, agrião e coentro, se possível ferver e filtrar a água e etc...", aconselha.

Doença atinge 50 milhões no mundo todo

Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 50 milhões de novas infecções por ano e 70.000 mortes. A disenteria amébica é mais prevalente nos países tropicais, mas também ocorre nas zonas temperadas e mesmo frias. Na África, Ásia tropical e América Latina, mais de dois terços da população terá estes parasitas intestinais, apesar da maioria das infecções ser praticamente assintomática. Ao contrário do que se pode pensar, não se restringe apenas a países tropicais, mas é freqüente também nos países de clima frio. A falta de condições higiênicas adequadas é a responsável por sua disseminação.

No Brasil, estima-se que a prevalência média de infecção pela Entamoeba, sintomática ou não, é de aproximadamente 23% da população. No entanto, o país tem áreas de endemicidade onde esta taxa pode estar dobrada, e regiões onde praticamente não há casos. A infecção assintomática é mais encontrada em países, como Estados Unidos, Canadá e países da Europa. As formas graves de disenteria amebiana têm sido registradas com mais freqüência na América do Sul, na Índia, no Egito e no México.

No Pará, Exames necessários ao diagnóstico deixam a desejar

O diagnóstico da doença no Pará só é obtido, principalmente, por meio de exames parasitológicos das fezes. O resultado é positivo quando o loboratorista encontra a presença de cistos do protozoário nas fezes. No entanto, afirma o pesquisador, "esse tipo de exame não determina se de fato o indivíduo é portador de Entamoeba histolytica (parasita) ou de Entamoeba díspar (não parasita). Embora o parasita viva no intestino, ele o perfura e vai para outros órgãos internos causando abcesso hepático. Quando o médico examina a pessoa ele não sabe exatamente se o abcesso foi provocado por ameabistolite ou outro agente".

Para garantir diagnóstico preciso da doença, o Núcleo de Medicina Tropical da UFPA busca implementar ainda este ano o exame por meio da sorologia do paciente. "A sorologia detecta o antígeno do parasita na corrente sanguínea. Todo agente etiológico provoca uma reação imunológica. Então, vamos pegar o sangue do paciente e fazer a sorologia com kits específicos que reconhecem o antígeno da ameba. A sorologia vai ajudar ao profissional de saúde a ter maior precisão no diagnóstico e fazer a medicação mais correta ao paciente, principalmente se ele estiver com suspeita de abscesso hepático causado por este parasito", afirma o pesquisador.

O diagnóstico por meio da sorologia fará também com que pesquisadores estudem outras espécies existentes da doença. "São cerca de oito que hoje habitam o sistema digestivo humano, entre elas está a Ameba estolite, que é a pior de todas porque invade os tecidos e pode formar úlcera no intestino e matar a pessoa. Há também uma espécie que atua na boca, a Amoeba gingivalis, que provoca erosão da gengiva, queda de dentes e pode ser transmitida pela saliva, através do beijo, mas esta nunca foi estudada no Estado", disse.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 30/01/2011. Para ler mais clique aqui

Conselheiros em sala de aula

Por: Cleide Magalhães

Edição: Ana Danin

UFPA coordena implantação de Escola voltada à qualificação

Quase todos os Estados do País contam com sua Escola de Conselhos e o Pará implementa a proposta a partir deste ano. Ela está prevista no Programa de Direitos Humanos do Governo Federal e seu objetivo é desafiador, mas fundamental para o processo democrático brasileiro: garantir que nenhuma criança ou adolescente seja objeto de negligência, discriminação, exploração, violência ou opressão e garantir também direitos previstos há 20 anos no Estatuto da Criança e Adolescente (ECA), considerado por especialistas como uma das legislações mais modernas em proteção da infância e da adolescência do mundo.

No Estado, a implementação da proposta começa, de fato, a partir de março, em 25 municípios pólos onde vão acontecer a formação continuada para os cerca de 910 conselheiros de direitos e tutelares existentes, os quais atuam em 143 dos 144 municípios. "Durante a formação, vão ser realizadas as vivências formativas nas quais os conselheiros vão obter informações sobre a lei, sua aplicabilidade e outros assuntos na área. Depois, cada pólo vai produzir um diagnóstico da situação e mapear a rede de proteção de direitos, que vai dar subsídio para que os conselheiros prepararem um plano de intervenção, para fortalecer a garantia de direitos e impedir que situações de violação com crianças e adolescentes se proliferem", explica o coordenador da Escola, o professor doutor em Educação da Universidade Federal do Pará (UFPA) Salomão Hage.

O projeto vai levar em conta os componentes culturais diversos existentes no Estado e as relações de forças locais que interferem na aplicação da legislação e controle social. "O Pará, além de ter ampla extensão territorial, conta com grandes diversidades. Temos diferentes populações como crianças ribeirinhas, em especial na ilha do Marajó, que continuamente atravessam os rios e estão expostas à prostituição que ocorre nas balsas; crianças expostas nos garimpos; no sul e sudeste crianças e adolescentes estão expostos ao trabalho nas carvoarias, em vez de estarem na escola, enfim... É um conjunto de situações diversas e precisam de tratamento específico. O direito para eles é o mesmo, a garantia de direitos é necessária, mas tem todo um componente cultural, relação de forças locais que interferem na aplicação da legislação e controle social", afirma Salomão Hage.

Segundo ele, a expectativa é mobilizar mais parceiros que atuam no sistema de garantia de direitos das crianças e adolescentes e com isso exigir melhores políticas públicas e sensibilizar a sociedade civil. "À medida que a escola for instalada e as vivências formativas acontecerem nos municípios, a pretensão é garantir a Escola de Conselhos nos municípios. Essa seria a principal inovação do projeto, pois já existe uma rede que envolve o sistema de garantia e proteção de direitos, mas ela está focada, muitas vezes, mais questões legais e de violação de direitos. Com a formação, a escola inova na mobilização de um conjunto de atores, parceiros e instituição públicas não governamentais e esperamos que sejam efetivadas a formulação e execução das políticas públicas e o controle social", objetiva o coordenador.

Capacitação sempre foi deficiente no Pará

A pesquisa nacional "Conhecendo a Realidade" divulgada em 2007 pelo Centro de Empreendedorismo Social e Administração em Terceiro Setor (Ceats) aponta que somente 43% dos conselhos tutelares da região Norte disseram ter recebido alguma capacitação ao assumir a função e, em 35% dos conselhos nenhum conselheiro recebeu capacitação.

O Pará, com 144 municípios, possui 142 Conselhos Municipais dos Direitos da Criança e do Adolescente, 146 Conselhos Tutelares e 60 Sistemas de Informação para a Infância e Adolescência (Sipia). A implantação desses conselhos se deu sem que houvesse uma política de capacitação continuada, o que fragiliza a capacidade de atuação dos mesmos, sobretudo pela pouca instrumentalização destes agentes.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 06/02/2011. Para ler na íntegra clique aqui

Pesquisa mostra que APA não mudou condições de vida em Algodoal

Meio Ambiente e Cidadania

Texto: Cleide Magalhães

LEIS - Pesquisador alemão mostra que, além do lixo, propriedade da terra é preocupante

Transformada em Área de Proteção Ambiental (APA) em 7 de novembro de 1990, pela lei 5.621, a vila de Algodoal, na ilha de Maiandeua, em Maracanã, nordeste do Pará, abriga uma população para a qual conceitos como justiça ambiental e meio ambiente ainda são estranhos e geram dúvidas sobre como a APA pode contribuir para melhorar as condições de vida locais. O assunto é tema da tese de doutorado "Justiça Ambiental e Desenvolvimento Sustentável", do cientista político Götz Kaufmann, no curso de Sociologia Ambiental do Departamento de Sociologia Brasileira do Instituto de Pesquisas da América Latina, da Universidade de Berlim, na Alemanha. Ele falou sobre o tema na tarde do último dia 9, no auditório do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos (NAEA), na Universidade Federal do Pará, em Belém.

Kaufmann já fez estudo semelhante em 2003 na vila de Fortalezinha, também em Maiandeua. Entre novembro e dezembro de 2010, ele esteve na Vila de Algodoal tentando compreender o que as pessoas que vivem lá sabem sobre os temas de sua tese. "Há pontos-chave que me ajudam a entender a razão pela qual as leis ambientais não funcionam da forma que devem ser entendidas pela população".

O primeiro resultado da pesquisa mostrou que a APA de Algodoal/Maiandeua não tem receptividade entre a população local. "As pessoas pensam que a APA não tem capacidade de melhorar suas vidas. Moradores afirmaram não se sentirem representados pelo Conselho Gestor da ilha, que deve fiscalizar e ‘tomar conta’ da APA, pois este, segundo eles, não realiza ações importantes para melhoria da qualidade de vida da comunidade e do meio ambiente. Um dos pontos que os moradores apontaram foi a falta de apoio nas iniciativas que envolvem a cultura local, como a realização das festas de carimbó, que faz parte da tradição local, por exemplo. Respostas como essas são importantes para analisar o conceito e o discurso". Além disso, o estudo apontou que o poder público não é atuante e não representa os interesses da população.

O primeiro resultado da pesquisa mostrou que a APA de Algodoal /Maiandeua não tem receptividade da população local. "As pessoas pensam que a APA não tem capacidade de melhorar suas vidas. Moradores afirmaram não se sentirem representados pelo Conselho Gestor da ilha, que deve fiscalizar e 'toma conta' da APA, pois este, segundo eles, não realiza ações importantes para melhoria da qualidade de vida da comunidade e do meio ambiente. Um dos pontos que os moradores apontaram ainda foi a falta de apoio nas iniciativas que envolvem a cultura local, como a realização das festas de carimbó, que faz parte da tradição local, por exemplo. Respostas como essas são importantes para analisar o conceito e o discurso". Além disso, o estudo apontou que o poder público não é atuante e não representa os interesses da
população.

Durante o estudo, o pesquisador constatou também que não somente a questão do lixo é problema em Algodoal, mas, principalmente, a propriedade da terra. "Ela está concentrada nas mãos de que tem maior poder aquisitivo, e, geralmente, são pessoas que compram áreas dos nativos, os quais passam a viver em áreas mais periféricas da ilha e até próximo aos mangues - o que gera sérios problemas também para o meio ambiente".

Diante dessas constatações, para ele, há necessidade de se reconfigurar a vida das pessoas e do meio ambiente em Algodoal, "pois justiça ambiental e desenvolvimento sustentável trazem conceitos que todos podem usar, mas na prática nem sempre acontecem".

Götz Kaufmann apontou algumas soluções que podem ajudar com que o tema de sua palestra possa fazer parte da realidade da população da vila como fazer com que a população se sinta representada no Conselho Gestor da ilha; implementar o Plano de Manejo, principal instrumento de preservação e inclusão social da APA, que está na fase de estudos há quase sete ano; disponibilizar agentes ou policiais ambientais na ilha; inserir Algodoal em projetos federais; desenvolver a cultura local; aumentar a capacidade de comunicação entre a população e os agentes políticos na ilha; entre outros. Muitas delas, disse, já foram levadas à Secretaria de Estado do Meio Ambiente (Sema), órgão responsável concessão ou não do licenciamento ambiental dos empreendimentos que possam vir a ser desenvolvidos em uma APA.

APA

A APA é um tipo de Unidade de Conservação (UC) que tem por objetivo conciliar as atividades humanas com a conservação da vida silvestre, a proteção dos demais recursos naturais e a melhoria da qualidade de vida da população, por meio de um trabalho conjunto entre órgãos do
Governo e a participação ativa da comunidade.

Publicado no jornal O Liberal e Portal ORM - 10/02/2011.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

O Xingu do século 21 ameaçado

CAO HAMBURGER

Se nossos dirigentes tivessem interesse em entender a cultura dos indígenas, abortariam qualquer projeto que os ameaçasse, como Belo Monte


Em 2011, o Parque Indígena do Xingu está fazendo 50 anos. Algo profundo mudou na minha percepção de mundo enquanto conhecia o parque e sua história durante a produção do filme "Xingu".

Sem dúvida, é um dos maiores patrimônios do Brasil -e nós, brasileiros, não temos a menor ideia do que ele representa e do que está protegido ali. Criado em 1961, é a primeira reserva de grandes proporções no Brasil.

Abriga povos de cultura riquíssima e filosofia milenar, que vivem em equilíbrio, preservando seu modo de vida, sua dignidade, sua cultura e vasta sabedoria, assimilando só o que vale a pena do "mundo de fora", sempre em sintonia com a natureza exuberante. Um verdadeiro santuário social, ambiental e histórico no coração do Brasil.

Mas não estamos falando só de preservação do passado e da natureza. O que está sendo protegido ali é o futuro. Não o futuro visto com os óculos velhos, sujos e antiquados que enxergam o progresso da mesma maneira como enxergavam nossos bisavós na Revolução Industrial, mas o futuro do século 21.

Esse talvez seja o maior patrimônio do Brasil hoje. Mais valioso que todo o petróleo, soja, carne, ferro que tiramos do nosso solo, ou todo automóvel, motocicleta, geladeira que fabricamos.
O que está protegido ali é um novo paradigma de como o ser humano pode e deve viver. Não estou dizendo que precisamos morar em ocas, dormir em redes, tomar banho no rio e andar nus. Falo de algo mais profundo.

Algo novo para nós, ditos civilizados, que nascemos e fomos criados como os donos do planeta. Arrogantes e prepotentes, nos transformamos no maior agente destruidor do nosso próprio habitat.

Um exército furioso de destruição. Um vírus que se multiplica e ataca, transformando e destruindo tudo o que encontra em seu caminho na presunção de que estamos construindo um mundo melhor, mais seguro, mais confortável, mais rentável. No Xingu, progresso tem outro significado.

No Xingu, homens e mulheres não vivem como donos do mundo, não foram criados com essa arrogância. Vivem como parte da cadeia de vida do planeta, e essa cadeia é interligada e interdependente. O "progresso" e o bem-estar dos homens está ligado ao equilíbrio dessa cadeia. Para os índios, homem e natureza evoluem juntos.

Golpe baixo.
Mas a megausina de Belo Monte quer represar o rio Xingu. O rio que é a alma e a base da vida das comunidades indígenas da região.
Um golpe baixo, em nome do progresso. Progresso com os velhos parâmetros dos séculos 19 e 20, que tem levado o mundo ao colapso social e ambiental.
É isso que queremos?
Se nossos dirigentes e a sociedade como um todo se interessassem em entender a filosofia, a cultura e a inteligência dos povos indígenas, abortariam qualquer projeto que os ameaçasse. E poderíamos inaugurar novo paradigma de progresso.
O progresso do equilíbrio. Seríamos a vanguarda mundial do século 21. Essa é a demanda. Essa é nossa chance. Sejamos corajosos, ousados, visionários. Como foram os que lutaram pela criação do Parque do Xingu há 50 anos.


CARLOS IMPÉRIO HAMBURGER, 48, é diretor de cinema e televisão. Atualmente finaliza o filme "Xingu", sobre a criação do Parque Indígena do Xingu.
Folha de São Paulo - 06/01/2011.

quarta-feira, 19 de janeiro de 2011

Espetáculo mostra crendices e amores do mundo dos encantados de Maiandeua

Arte e Cultura

O mundo dos seres encantados dará vida ao espetáculo teatral Maiandeua, que estreia no próximo dia 20 de janeiro, às 20 horas, no Porão Cultural do Instituto Universidade Popular (Unipop), na Avenida Senador Lemos, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas, no bairro Umarizal, em Belém. A montagem fica em cartaz até o dia 19 de fevereiro, de quinta à sábado, sempre no mesmo horário e local.

O espetáculo conta a história de Joana da Barca, uma jovem que sumiu aos 12 anos, ao cair em um rio da Amazônia, e reaparece sete anos depois cheia de encantos e crenças, para buscar o amor do passado, Pedro, e leva-lo para o mundo dos encantados da Ilha de Maiandeua.

O ressurgimento de Joana, que havia sido levada pelas águas do rio em plena “hora grande”, é motivo de crença e esperança entre os moradores. Entre uma conversa e outra sobre a vida dos outros, comadres e vizinhas retratam as crendices populares ao alertarem sobre o perigo das “beiras de rios” e das “matas” em determinadas horas do dia. Na hora dos encantados, segundo elas, o risco é de as pessoas serem levadas, misteriosamente, para a Ilha de Maiandeua. As crendices, porém, encontram resistência entre os doutores da Lei e da Ciência.

A história de amor cheia de encantos entre Joana e Pedro e os conflitos entre a ciência e as crendices populares se passam na década de 40, na Vila da Barca, um dos antigos mocambos de Belém. Para retratar o espetáculo, palafitas, pontes e casebres reconstruídas, especialmente para o espetáculo, farão o público rememorar o cenário da Vila da Barca de décadas atrás, misturando encantarias com as problemáticas cotidianas do local, fruto do descaso das autoridades.

Montado pelo Grupo de Teatro da Unipop sob a direção do arte-educador e historiador Alexandre Luz, o espetáculo Maiandeua é uma adaptação do texto, de mesmo título, do autor paraense e imortal da Academia Paraense de Letras, Levi Hall de Moura. “O espetáculo vai mostrar que nossa cultura é permeada de feitiços e encantos de uma espiritualidade misteriosa, que ultrapassa a mera questão folclórica de nossas comunidades ribeirinhas”, afirma Alexandre Luz.

Serviço: Espetáculo Maiandeua. Apresentações nos dias 20, 21, 22, 27, 28 e 29 de janeiro e 3, 4, 5, 10, 11, 12, 17, 18 e 19 de fevereiro, sempre às 20 horas, no Porão Cultural da Unipop, na Avenida Senador Lemos, 557, entre Dom Pedro I e Dom Romualdo de Seixas, no bairro do Umarizal, em Belém. Ingresso Promocional: R$ 5,00 (meia-entrada).

Ficha técnica:

Elenco: Amanda Santos, André Souza, Andrei Souza, Artur Coelho Filho, Clause Monteiro, Claudia Santiago, Nete Pamplona, Gabriela Mendonça, Geovani Moia, Jorge Anderson, Janaína Andrade, Maria Silva, Marisa Barros, Priscila Oliveira, Sttefane Trindade, Tainá Lima, Vanda Lopes e Washington dos Santos.

Adaptação de texto: Alexandre Luz

Iluminação: Walter do Carmo
Assistência de Iluminação: Adriane Gonçalves

Sonoplastia: Duda Souza e Henrique Garcia

Cenografia: José Luiz Santos

Assistência de cenografia: Grupo de Teatro da Unipop

Figurino: Nete Ribeiro e Grupo de Teatro da Unipop

Direção: Alexandre Luz

Texto: Max Costa, assessor de comunicação da Unipop.

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Violência tira a vida de homens do País

Por: Cleide Magalhães
Edição: Ana Danin

Eles representam 83,1% das vítimas de acidentes e homicídios

Dados recentes divulgados pelo Ministério da Saúde (MS) servem de alerta aos homens brasileiros e geram discussão relacionada a mitos criados sobre sua saúde. Eles são 83,1% do total de vítimas fatais em acidentes e homicídios em 2008 ocorridos no País e estão também entre os feridos que mais necessitaram de internação hospitalar, respondendo por 70,3% dos casos. As chamadas "causas externas" representaram 12% do total de óbitos no Brasil naquele ano. Foi a terceira maior causa de morte no País, perdendo apenas doenças crônicas como as do aparelho circulatório e os casos de câncer. O estudo está presente no "Saúde Brasil 2009", publicação da Secretaria de Vigilância em Saúde (SVS). Ao todo, foram 133.644 mortes por causas externas de um total de 1.066.842 óbitos declarados há dois anos.

O problema que acontece com a saúde do homem no Brasil é similiar ao que ocorre no Pará. Estudo feito pela coordenação estadual da Política de Ação Integrada à Saúde do Homem da Secretaria de Estado e Saúde Pública do Pará (Sespa), publicado em 2010 no Plano Estadual, revela que a população masculina paraense é de 1.920. 430 - entre eles 1.474.068 se concentram na faixa etária entre 20 e 29 anos e 503.007 entre 50 e 59 anos - e feminina 1.888.037.

Mostra ainda que as principais causas de morte entre homens, que têm de 20 a 59 anos, são as "causas externas", as quais envolvem os homicídios (65,4% dos casos), acidentes de transportes (19,2%) e suicídios (3,4%). "Os homens são mais vulneráveis às doenças e, de forma mais abrangente, às enfermidades graves e crônicas, morrendo mais prematuramente que as mulheres. É notório também que, no que se refere a maior vulnerabilidade e às taxas de morbimortalidade, os homens não buscam, como as mulheres, os serviços de atenção à saúde. As duas primeiras 'causas externas' estão relacionadas ao consumo de álcool, agressões, violência, etc.", afirma o médico Roberto Tamargo, coordenador estadual da Política de Ação Integrada à Saúde do Homem da Sespa.

Segundo dados da Organização Mundial de Saúde (OMS), cerca de 2 bilhões de pessoas consomem bebidas alcoólicas no mundo. O uso abusivo do álcool é responsável por 3,2% de todas as mortes, e por 4% de todos os anos perdidos de vida útil. No Brasil, há cerca de 6 milhões de pessoas nessa situação e "os homens iniciam precocemente o consumo de álcool e tendem a beber mais e a ter mais prejuízos em relação à saúde que as mulheres", disse o médico. Dados do MS mostram ainda que os homens usam mais cigarros que as mulheres. Em Belém, em 2006, 11,2% dos homens fumavam contra 3,9% das mulheres, ambos com mais de 15 anos. "Com isso, há maior vulnerabilidade do sexo masculino às doenças cardiovasculares, cânceres, doenças pulmonares obstrutivas crônicas, doenças bucais e outras".

Na proporção das internações, as doenças do aparelho respiratório atingem 18,26 % dos homens paraenses; causas externas 16,12%; doenças infecciosas e parasitárias são de 14,58%; doenças do aparelho digestivo 12,74%; doenças do aparelho circulatório 7,21%; e neoplasias 6.02%. As causas externas chegam a atingir 34,05% dos homens que têm entre 20 e 29 anos e 28,65 % dos que têm entre 30 e 39 anos.

Nessas faixas etárias as doenças que menos afetam os homens são as do aparelho circulatório, sendo 2,91% e 4,76%, respectivamente. Já entre as faixas etárias que vão desde 40 a 59 anos são as doenças do aparelho digestivo que mais prejudicam o sexo masculino, 19,95% e 21,26%, na ordem. As neoplasias atingem, principalmente, os homens que têm de 50 a 59 anos, com 9,15%. Mas estas já aparecem com 4,67%¨dos casos nos homens de idades que vão de 20 a 29 anos. "Ao chegar aos 50 anos as neoplasias de próstata quase sempre aparecem porque o diagnóstico não é feito precocemente", afirma o médico Roberto Tamargo. As neoplasias são alterações celulares que acarretam um crescimento exagerado das células e pode ser maligna ou benigna.

Na comparação entre os gêneros no País, o risco de óbito foi 5,1 maior para homens do que mulheres quando a causa foi externa no período considerado pela pesquisa. Agressões (40,6%) foram a principal forma de morrer entre integrantes do sexo masculino, especialmente quando armas de fogo estiveram envolvidas (29,4% das mortes por agressão). No Pará, de cada três mortes de pessoas adultas, duas são de homens. Estes vivem, em média, sete anos menos que as mulheres e em 40,6% dos óbidos que ocorrem com os homens estão relacionados às "causas externas"; 15,51% estão voltados às doenças do aparelho circulatório; 11,4% com tumores; e 6,21 com doenças do aparelho respiratório.

Plano de ação integrada tenta reverter quadros no Estado

Esses números geram preocupação e ajudam a justificar a iniciativa de a Sespa buscar implementar o Plano de Ação Integrada à Saúde do Homem, que faz parte da política nacional que tem à frente o MS. Segundo Tamargo, o plano já começou a acontecer em Belém, Ananindeua e Santarém, e está sendo implementado em Castanhal. Para isso, a coordenação estadual e esses municípios receberam (cada um deles) R$ 75 mil. Os critérios utilizados pelo Ministério da Saúde para selecionar o município leva em conta que a população seja acima de 100 mil habitantes, tenha cobertura das equipes de saúde da família, acima de 50% de adequação de cobertura de unidades de alta e média complexidades, ter aderido ao Pacto pela Saúde e encontra-se em locais em que o ministério possa ter condições de acompanhar o processo.

O plano conta com sete eixos de ações: implantação da Política Estadual de Atenção Integral à Saúde do Homem; Promoção da Saúde, a qual visa aumentar a demanda dos homens aos serviços de saúde, por meio de ações pró-ativas de promoção e prevenção dos principais problemas que atingem essa população; Informação e Comunicação, que quer estimular o autocuidado na população masculina, através de informação, educação e comunicação; Participação, relações institucionais e controle social, para trabalhar com secretarias municipais para associar as ações governamentais com as da sociedade civil organizada, a fim de efetivar a atenção integral à saúde do homem; implantação e expansão do sistema de atenção à saúde do homem; e qualificar os profissionais de saúde no Estado. "Tentamos quebrar as barreiras socioculturais que fazem com que os homens não prestem atenção à saúde e não procurem serviço de saúde, o que faz com que a maioria das doenças sejam diagnosticadas em estágios avançado. Outro desafio são as barreiras institucionais, pois muitas unidades de saúde não estão em condições de dar atenção priorizadas para o homem. A saúde é um problema que envolve todas as outras secretarias, por isso as parcerias também são importantes", considera o médico.

Mais de 500 perderam a vida no trânsito entre janeiro e julho

Ainda segundo os dados da SVS, a taxa de morte por acidentes e homicídios é até quatro vezes maior entre os homens brasileiros, entre 20 até 29 anos, na comparação com mulheres na mesma faixa etária. Em 2008, foram 43.886 homens mortos neste grupo contra 10.786 pessoas do sexo feminino. As informações da Secretaria de Vigilância em Saúde considera também que todas as idades e todas as formas de morte, homens correm risco 40% maior de óbito.
No Pará, dados do Departamento Estadual de Trânsito do Estado (Detran) mostram que, em 2009, ocorreram 5.430 acidentes com homens e 1.557 com mulheres. Entre janeiro e julho de 2009, morreram 1.008 homens e 209 mulheres. Dos 5.430 acidentes que aconteceram, as causas prováveis envolvem 30 razões, entre elas 1.102 casos apontam que o homem perdeu o controle no trânsito; 870 fez manobra irregular; 628 desrespeitou a preferencial; e 384 não tinha atenção no trânsito.

Em 2010, morreram 573 homens e 100 mulheres no trânsito do Estado. Nesse ano, entre os meses de janeiro a julho, os números de acidentes diminuíram: 3.923 casos ocorridos com homens e 1.131 com mulheres. A maioria deles aconteceram porque ambos realizaram manobra irregular, sendo 830 e 226 acidentes que aconteceram, de acordo com os respectivos sexos.

Segundo Valter Aragão Júnior, coordenador de Operações do Detran, que é especialista em Legislação do Trânsito, a maioria dos acidentes que as mulheres ocasionam são de pequenas proporções. Ela afirma ainda que muitos dos acidentes provocados pelos homens têm danos patrimoniais e são graves e, às vezes, resultam em vítima fatal. "Com isso, visualizamos que a mulher é muito mais cautelosa e isso a torna mais prudente. O homem é mais imprudente e a autoconfiança dele ocasiona os acidentes de maiores proporções. Quando se transfere essa avaliação das cidades para as estradas os acidentes são muito maiores, há ocasiões que os carros até capotam, morrem pessoas. Nas estradas os acidentes são sérios e a maioria deles ocasionados por motoristas homens".

Faltam campanhas de conscientização específicas para eles

Hoje ainda não há um trabalho do Detran que se direcione às ações no trânsito voltadas para ao homem, pois o órgão realiza algumas iniciativas para o público em geral. Mas Valter Júnior ressalta que para tentar diminuir os dados apresentados "os órgãos de segurança têm fortalecido a fiscalização com aumento inclusive de efetivo e com a realização de campanhas educativas.
Ele observa que, embora o Código de Trânsito do Brasil, instituído na Lei 9.503, em 23 de setembro de 1997, seja um dos mais rigorosos e completos do mundo, sua aplicabilidade ainda é frágil. "Muitos acidentes causados no Pará ocorrem por falta de atenção e, na maioria, por embriaguês ao volante. As pessoas sabem que elas não podem ter determinada conduta no trânsito, como berber álcool, mas agem com individualidade e continuam a fazer. Muitos brasileiros têm a mania de não respeita a lei. A situação chegou a um patamar hoje que não adianta estruturar todos os órgãos de segurança se a população também não cumprir seu papel. Precisamos ainda de modificações drásticas no Código do Trânsito. Uma das soluções seria a aplicação das restrições de direitos aos condutores que cometerem irregularidades, como perder ou ter suspensa a carteira de habilitação, responder a processo judicial estando preso, enfim".

No Pará, dados do Departamento de Trânsito do Pará (Detran/PA) mostram que a frota de veículos, até 19 de outubro deste ano, correspondia a 932.775 veículos sendo 282.390 na capital. O órgão projeta que o crescimento da frota, entre os anos de 2003 e 2021, será em torno de 6 milhões de veículos registrados circulando no Pará, dos quais 1,6 milhão somente na Grande Belém. Hoje, ao mês, na RMB a circulação oscila entre 2,8 e 3 mil novos veículos.

A assessoria de comunicação da Polícia Militar do Pará foi procurada pela reportagem para comentar os casos de homicídios, mas informou que o órgão "está em fase de transição do Comando da PM e mudança também da chefia da assessoria, a qual demanda tempo para estas atividades administrativas". Além disso, como a matéria sairá no domingo (hoje), dia em que a PM já está em vigência da nova chefia, deixo (assesoria) de comentar sobre os índices em respeito ao direito de posicionamento próprio do novo assessor de comunicação.

Jovem reage a assalto e é morto em Outeiro

Entre as "causas externas", apontadas pela Secretaria de Vigilância em Saúde que acontecem com homens entre 20 e 59 anos, 65,4% delas envolvem os homicídios. Um caso recente aconteceu em Belém no último dia 29, por volta das 20h30, quando Marcos Vinícius Cardoso da Silva, 23 anos, foi assassinado após reagir a um assalto no Distrito de Outeiro, na Região Metropolitana de Belém (RMB). O caso de roubo seguido de morte - caracterizado como latrocínio - foi registrado na Seccional Urbana de Icoaraci. A divisão de crimes contra o patrimônio da unidade policial do distrito investiga e tente solucionar o crime. Segundo o primo da vítima, Dayvid Michel de Souza, que também registrou o boletim de ocorrência na seccional de Icoaraci, a vítima estava na esquina da estrada do Outeiro com a estrada do Maguari, quando foi abordada por dois homens em uma motocicleta.

Ainda segundo Dayvid, Marcos Vinícius teria reagido à abordagem de assalto e foi baleado na altura do tórax. O tiro atingiu o peito da vítima. Os suspeitos fugiram e levaram a motocicleta da vítima, além do aparelho celular e os documentos pessoais. Marcos Vinícius chegou a ser socorrido pelos moradores mais próximos do local do crime e foi levado para o Hospital Regional Abelardo Santos, na rodovia Augusto Montenegro, no distrito de Icoaraci. Entretanto, ele não resistiu ao ferimento no tórax e morreu na madrugada do dia seguinta, por volta das 2h, na unidade de saúde. Os objetos roubados da vítima, inclusive a motocicleta, não haviam sido recuperados e os acusados de efetuar os disparos também não haviam foram identificados e localizados logo após o crime.

Mortes

As "causas externas" são as principais causas de morte entre homens, de 20 a 59 anos

Homicídios - 65,4% dos casos
Acidentes de transportes - 19,2%
Suicídios - 3,4%.

Dados Sespa.

ACIDENTES OCORRIDOS NO PARÁ EM 2009 - ENTRE JANEIRO E JULHO

HOMENS - 5.430 casos
MULHERES 1.557 casos
MORRERAM
HOMENS - 1.008
MULHERES - 209

ACIDENTES OCORRIDOS NO PARÁ EM 2010 - DE JANEIRO A JULHO

HOMENS - 3.923 casos
MULHERES - 1.131 casos
MORRERAM
HOMENS - 573
MULHERES - 100

Dados Detran/PA.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, em 02/01/2011.

“Infância perdida” vaga pelas estradas do Pará

Por: Cleide Magalhães
Edição: Ana Danin


"Prostituição hereditária" está presente nas rodovias

Pais que colocam as filhas para se prostituir, em meio à miséria que corrompe valores na sociedade, são reflexo de uma dívida bastante antiga do Estado, uma das consequências das desigualdades sociais ainda existentes no País. Esse tipo de prostituição, que normalmente começa dentro de casa, é muitas vezes é chamado de "prostituição hereditária" e acaba extrapolando os limites dos prostíbulos. Eles acontecem também nos postos de combustíveis, bares, lanchonetes e feiras localizados, geralmente, às margens das oito rodovias federais - que contam com seis mil quilômetros, pavimentados ou não - que cortam o Estado.

Segundo Max Daniel Silva, chefe do Núcleo de Comunicação da Polícia Rodoviária Federal no Pará (PRF/PA), em 2007, a Organização Internacional do Trabalho (OIT), Secretaria de Direitos Humanos da Presidência da República e a Childhood Brasil realizaram mapeamento no País sobre os pontos vulneráveis a exploração sexual de crianças e adolescentes nas rodovias e, no Pará, 135 pontos foram localizados. Um novo relatório, feito entre os anos de 2009 e 2010, trazendo outros critérios para a identificação dos locais de riscos pontuou um total de 1.820 pontos críticos nas rodovias federais brasileiras, dos quais 67,5% em áreas urbanas. Nesse estudo, os pontos de incidência no Pará diminuíram para 69, sendo 57 na área urbana e 12 na rural, ocupando o 20º lugar no ranking do Brasil. "Diferente das edições anteriores, no último mapeamento os locais não foram divulgados pela PRF para impedir que ocorra a migração dos criminosos e preservar futuras repressões", conta Max.

Segundo Gilson Silva, conselheiro tutelar de Ananindeua, os principais exploradores de crianças e adolescentes nas rodovias são os caminhoneiros, mas há outros atores envolvidos na questão. "Muitas vezes, a exploração inicia em casa, com o pai, padastro, tio, avô, vizinho, professor e desconhecido. A criança e adolescente já saem de casa com seus direitos violados e quando chegam na rua não têm consciência que isso é também uma questão social, porque a pobreza em que vivem é muito grande e muitos familiares os forçam a se submeterem a isso para ajudar nas despesas da casa", afirma. "Se a criança ou adolescente está em uma situação em que a mãe se prostitui e não tem nenhum tipo de apoio das organizações governamentais, então a família, de certa forma, não vê isso como um problema e há grandes chances deles se espelharem nisso e viverem na mesma situação", completa Max.

Rede de proteção não existe no interior

Hoje as principais dificuldades enfrentadas para que a PRF atue de forma mais eficaz são a extensão do Estado; dificuldade de acesso em algumas rodovias, como a Transamazônica e Cuiabá-Santarém; o deslocamento das crianças e adolescentes para localidades de difícil acesso dos municípios; a falta de estrutura das cidades - muitas não contam com Conselho Tutelar ou Vara de Infância e da Juventude; e a permanência da família na condição de miséria e pobreza.
"O que está previsto em lei é que haja uma rede de proteção à criança e adolescente, mas essa rede na prática não existe. Ela é um pouco mais estruturada na região metropolitana e regiões pólos do Estado, mas em geral ela não funciona. Além da parte repressiva, feita pela PRF, é necessária uma ampla estrutura dos órgãos federais, estaduais e municipais. Se não acontecer essa articulação, o problema persitirá. Mas em nível de Brasil buscamos isso e realizamos ações que objetivam solucionar esses problemas", disse Max Silva, chefe do Núcleo de Comunicação da PRF/PA.

Flagrar uma situação de exploração sexual ainda não tarefa é fácil para a PRF. "Antes de a polícia se aproximar as pessoas logo reconhecem a viatura da polícia e muitos fogem do local", explica Max Silva. E nem para o Conselho Tutelar. "Na prática, nossa atuação se dá por meio de denúncias feitas por vizinhos, então, averiguamos e encaminhamos os casos de abuso ao Programa de Fomento à Cultura da Paz (Pró-Paz)", disse o conselheiro tutelar de Ananindeua, área onde já ocorreram 43 casos, de novembro de 2009 a dezembro de 2010, todos envolvendo meninas a partir de 10 anos, segundo dados do Pró-Paz. A maior parte das garotas eram do Conjunto Verdejante I, II e III, áreas ao entorno do Lixão do Aurá e outras em Belém.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 26/12/10. Para ler na íntegra, clique aqui.

quinta-feira, 16 de dezembro de 2010

Amazônia Jazz Band faz concerto de Natal

A Amazônia Jazz Band realizará no dia 20 de dezembro, segunda-feira, às 20 h, no Theatro da Paz, o Concerto Natalino do ano de 2010, que tradicionalmente recolhe alimentos não perecíveis para a Fundação Pestalozzi.

Composta por 25 integrantes, o grupo conta com o apoio do Governo do Estado do Pará, através da Secretaria Executiva de Cultura (Secult) e da Associação dos Amigos do Theatro da Paz.

No concerto haverá a participação de músicos da Orquestra Sinfônica do Teatro da Paz, músicos da Fundação Vale Música, dos pianistas Tynnoko Costa e Humberto Azulay, das cantoras Cacau Novaes, Larissa Wright e Dayse Addario, juntamente com Ziza Padilha na guitarra, que também assina o arranjo do clássico natalino "Sleigh Ride", feito especialmente para a Amazônia Jazz Band.

segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

segunda-feira, 6 de dezembro de 2010

Doença afasta diretor do Hospital Bettina Ferro

Murilo Morhy pediu demissão do cargo, na última semana, alegando motivos de saúde. O médico ficou à frente da Unidade por um ano e meio.

Após um ano e meio de gestão, por motivos de saúde, o diretor do Hospital Universitário Bettina Ferro, da UFPA, o professor e doutor Murilo Morhy, se despediu de 40 anos de vida pública. Ele comunicou, oficialmente, através de carta, ao reitor da UFPA, o professor Carlos Maneschy, seu pedido de exoneração em caráter irrevogável, na última quinta, dia 02. No dia seguinte, 03, ele solicitou a presença dos trabalhadores e alunos do Bettina, no auditório da instituição, para agradecer a colaboração e informar sobre sua decisão. O hospital está sob a direção do diretor adjunto, o bioquímico Renato Ferreira, até que o nome do novo gestor seja anunciado pelo reitor da UFPA.

Durante a despedida, emocionado, Morhy, que é médico cardiologista e – talvez por ironia do destino - sofre problemas cardiovasculares, disse que o tempo em que esteve à frente da gestão do hospital foi importante na sua vida. “Esse tempo acrescentou muito para mim, pois reforcei laços com pessoas que já conhecia e criei novas amizades. Fazendo autocrítica, vejo que o hospital andou bem e a administração cresceu. Lamento e peço desculpa se incomodei alguém, mas agi somente pelo interesse da instituição. Desejo que continuem a missão do Bettina Ferro e mantenham seus comprometimentos com o SUS e com a população carente, porque o hospital são vocês”, disse.

Em seguida, alunos e funcionários, muitos deles também emocionados, falaram suas experiências vividas junto ao diretor, agradeceram e desejaram sucesso e melhoria na sua saúde junto à família. “Depois que se inventou a saudade a distância deixou de existir. Contem sempre comigo”, finalizou o médico Morhy.

Gestão - Preocupado em aprimorar a qualidade do atendimento à população do Sistema Único de Saúde (SUS), suas primeiras ações foram a humanização, refrigeração do hospital e agilização no atendimento. Além disso, realizou melhorias nos serviços de otorrinolaringologia, oftalmologia e o crescimento e desenvolvimento infantil, que servem de referência na região. A otimização nos meios diagnósticos e pronto atendimento, e a criação da clínica de toxina botulínica a pessoas que apresentam contraturas musculares crônicas foram serviços tratados com prioridade. Colocou ainda em prática várias iniciativas previstas no regimento do hospital, como patrimônio, infraestrutura, comissão de licitação, convênios e contratos. Todos estarão disponíveis em breve no novo site do Bettina (www.ufpa.br/bettina), para reforçar a transparência da sua gestão.

Texto e foto: Assessoria de Comunicação do HUBFS.