Edição: Márcia do Carmo
Estudo revelou que hortaliças vendidas em supermercado e 6 feiras de Belém estão contaminadas por parasita
A falta ou precariedade de saneamento básico na cidade favorece, nesta época de chuva, ao aumento dos casos de amebíase. Mais vulneráveis por ignorar os perigos de tomar banho e brincar nas enxurradas, valas e canais, crianças geralmente são as que mais se contaminam pelo protozoário Entamoeba histolytica, que transmite a doença ao homem.
Uma outra forma de contaminação da doença e que serve de alerta à população pode acontecer por meio do consumo de hortaliças cruas vendidas nas feiras e em supermercados da cidade. A dissertação de mestrado apresentada em 2010 pelo estudante Samuel da Luz Borges, do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), intitulada "Frequência e diversidade de enteroparasitos veiculados por hortaliças comercializadas na cidade de Belém-PA e sua relação com a sazonalidade climática", constatou que alface, coentro e agrião vendidos em uma rede de supermercados e seis feiras de Belém estavam todos contaminados por enteroparasitas. "Para nossa surpresa todas as amostras analisadas deram positivas para um ou mais enteroarasitose. A contaminação veio de três hortas que abastecem parte das feiras de Belém, que regavam as hortaliças com água contaminada. Esse resultado nos deixou perplexos, pois não é isso que queremos ou desejamos para a população", ressaltou Evander Batista, pesquisador e professor de Parasitologia do Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA), que foi orientador da dissertação. A tese foi submetida para a publicação em uma revista inglesa especializada, a Food Control.
O Núcleo de Medicina Tropical da Universidade Federal do Pará (UFPA) continua a pesquisa sobre o parasita. Uma delas, intitulada "Estudo de Novos quimioterápicos em Entamoeba histolytica", é feita pela estudante de mestrado Betânia Mara Alvarenga, que está na Universidade Federal de Minas Gerais, em Belo Horizonte, testando novas drogas contra o para protozoário da doença.
Segundo Evander Batista, a amebíase é uma doença tropical e adquirida através da ingestão de água e alimentos contaminados com as fezes humanas, pois é nela (fezes) que é eliminado o cisto, que causa a infecção. "Quando alguém tem um protozoário no intestino e defeca onde, por exemplo, não tem saneamento básico, pode ocorrer a contaminação do leito de água, do alimento, da fruta, de hortaliças, enfim... Se a pessoa ingerir água onde há o cisto este torna-se o protozoário que vai habitar e desenvolver a doença. A transmissão da doença por insetos ocorre menos e acontece se uma mosca contaminada pousar nas frutas que não são lavadas antes da ingestão. A doença atinge mais as crianças da periferia porque são mais vulneráveis. Entre homens e mulheres, acomete mais os homens, mas ainda não há explicação científica para isso", afirma Evander Batista, que é ainda doutor em Parasitologia Humana.
Uma pessoa pode se infectar várias vezes
A mesma pessoa pode ser infectada várias vezes e o protozoário da amebíase pode ou não causar sintomas. "A doença pode ser assintomática e pessoa pode até ser portadora do protozoário, e não apresentar quadro nenhum clínico. Mas quando a doença se desenvolve, o tempo de incubação é de cinco e sete dias até que se manifestem os sintomas, tempo em que ele se transformam em trofozoítos, que se movimentam e causam a doença". Os principais sintomas são leves dores na barriga e no abdômen, ou quadro graves de diarréia ou disenteria, que é a diarréia com sangramento nas fezes. Sem tratamento adequado, a doença pode levar à morte.
Evander Batista orienta que a prevenção correta da amebíase é aquela que muitas pessoas sabem, mas poucas fazem. "É fundamental cuidar bem da água e alimentos que serão ingeridos, lavar as mãos antes das refeições e depois de uso de sanitários, lavar bem as hortaliças ingeridas cruas, como alface, agrião e coentro, se possível ferver e filtrar a água e etc...", aconselha.
Doença atinge 50 milhões no mundo todo
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), há 50 milhões de novas infecções por ano e 70.000 mortes. A disenteria amébica é mais prevalente nos países tropicais, mas também ocorre nas zonas temperadas e mesmo frias. Na África, Ásia tropical e América Latina, mais de dois terços da população terá estes parasitas intestinais, apesar da maioria das infecções ser praticamente assintomática. Ao contrário do que se pode pensar, não se restringe apenas a países tropicais, mas é freqüente também nos países de clima frio. A falta de condições higiênicas adequadas é a responsável por sua disseminação.
No Brasil, estima-se que a prevalência média de infecção pela Entamoeba, sintomática ou não, é de aproximadamente 23% da população. No entanto, o país tem áreas de endemicidade onde esta taxa pode estar dobrada, e regiões onde praticamente não há casos. A infecção assintomática é mais encontrada em países, como Estados Unidos, Canadá e países da Europa. As formas graves de disenteria amebiana têm sido registradas com mais freqüência na América do Sul, na Índia, no Egito e no México.
No Pará, Exames necessários ao diagnóstico deixam a desejar
O diagnóstico da doença no Pará só é obtido, principalmente, por meio de exames parasitológicos das fezes. O resultado é positivo quando o loboratorista encontra a presença de cistos do protozoário nas fezes. No entanto, afirma o pesquisador, "esse tipo de exame não determina se de fato o indivíduo é portador de Entamoeba histolytica (parasita) ou de Entamoeba díspar (não parasita). Embora o parasita viva no intestino, ele o perfura e vai para outros órgãos internos causando abcesso hepático. Quando o médico examina a pessoa ele não sabe exatamente se o abcesso foi provocado por ameabistolite ou outro agente".
Para garantir diagnóstico preciso da doença, o Núcleo de Medicina Tropical da UFPA busca implementar ainda este ano o exame por meio da sorologia do paciente. "A sorologia detecta o antígeno do parasita na corrente sanguínea. Todo agente etiológico provoca uma reação imunológica. Então, vamos pegar o sangue do paciente e fazer a sorologia com kits específicos que reconhecem o antígeno da ameba. A sorologia vai ajudar ao profissional de saúde a ter maior precisão no diagnóstico e fazer a medicação mais correta ao paciente, principalmente se ele estiver com suspeita de abscesso hepático causado por este parasito", afirma o pesquisador.
O diagnóstico por meio da sorologia fará também com que pesquisadores estudem outras espécies existentes da doença. "São cerca de oito que hoje habitam o sistema digestivo humano, entre elas está a Ameba estolite, que é a pior de todas porque invade os tecidos e pode formar úlcera no intestino e matar a pessoa. Há também uma espécie que atua na boca, a Amoeba gingivalis, que provoca erosão da gengiva, queda de dentes e pode ser transmitida pela saliva, através do beijo, mas esta nunca foi estudada no Estado", disse.
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 30/01/2011. Para ler mais clique aqui
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