Por: Cleide Magalhães
Reportagem especial
Sucesso mundial, o “Franchising” domina cada vez mais o belenense
O Brasil está em terceiro lugar no ranking mundial de países com maior número de franquias, cuja movimentação financeira própria é de cerca de R$ 63 bilhões, com 80 mil unidades. Em torno de três milhões de empregos, diretos e indiretos, são gerados - ficando atrás somente dos Estados Unidos da América (EUA) e do Japão, segundo dados da Associação Brasileira de Franchising (ABF). A ABF é uma entidade sem fins lucrativos, criada em 1987, com imagem consolidada no mercado e possui mais de 900 associados, entre franqueadores, franqueados e prestadores de serviços.
Hoje não somente as franquias internacionais fazem sucesso no mercado mundial. Há franquias brasileiras e paraenses que também expandem suas áreas de atuação pelo mundo afora. O Boticário, empresa brasileira de perfumaria e cosméticos, era campeã de franquia no país com 3.131 unidades, segundo a ABF, em 2010, chegando ainda a outros países. A franquia Bob´s, Habibs e China In Box já se instalaram pela América Latina (México), parte latina dos EUA (Flórida e adjacências) e da Europa (Portugal, Espanha e parte da França). Tem até franquia paraense, como
Pesquisas feitas por federações empresariais e universidades que contam com centros de excelência na área - como a Fundação Getúlio Vargas, Universidade de São Paulo, Universidade Federal do Rio de Janeiro, Fundação Dom Cabral de Minas Gerais - apontam, entre outras coisas, que Belém se torna uma cidade amplamente favorável para franquias na área de serviços. "O cenário econômico em Belém é fortemente movimentado pela prestação de serviços, que é o setor terciário da economia. Podemos, então, considerar que a maioria das franquias é na área de serviços na cidade", afirmou Helder Aranha, mestre em Administração e professor dos Programas de Graduação e Pós-Graduação da Faculdade de Administração da Universidade Federal do Pará (UFPA).a sorveteria Cairu, que chegou ao Rio de Janeiro, São Paulo, Argentina e EUA.
De acordo com a Lei de Franchising n° 8955/94, também chamada de Lei Magalhães Teixeira, que dispõe sobre o contrato de franquia empresarial ("Franchising") regulando os aspectos legais da relação de franquias no Brasil, "franquia empresarial é o sistema pelo qual um franqueador cede ao franqueado o direito de uso de marca ou patente, associado ao direito de distribuição exclusiva ou semi-exclusiva de produtos ou serviços e, eventualmente, também ao direito de uso de tecnologia de implantação e administração de negócio ou sistema operacional desenvolvidos ou detidos pelo franqueador, mediante remuneração direta ou indireta, sem que, no entanto, fique caracterizado vínculo empregatício".
Segundo Aranha, a questão da franquia começou nos EUA, depois da guerra civil, em 1850. A Singer, marca de máquina de costura, iniciou o sistema de franquia norte-americano e marcou o início da franquia no capitalismo planetário. No Brasil, a franquia chegou a partir da rede Yázigi, há 49 anos, e tornou-se uma revolução elevando o País ao atual patamar. Entretanto, ele ressalta que a franquia é uma inovação gerada dentro do próprio capitalismo. "O fato de uma corporação conceder sua marca para outra corporação menor ou para o empreendedor individual passa a ser uma inovação dentro do capitalismo e na área da Administração é tratado dentro dos canais de distribuição, estes previstos nos estudos de marketing e são os recursos empresariais para tornar a sociedade plausível de consumo", informa.
Nesse contexto, shopping centers são os grandes impulsionadores das franquias pela estratégia de mistura de produtos que atraem consumidores. E mais uma vez o Brasil é surpreendente. Ainda de acordo com a ABF, o país ocupa o quinto lugar no mundo no ranking de maiores mercados para shopping centers na Terra, ficando atrás dos Estados Unidos da América, Canadá, Grã-Bretanha e França. Isso faz com que o Brasil seja propício para o empreendedorismo em franquias e Belém segue essa tendência, principalmente com a construção de shopping centers e lojas na área de expansão da cidade, como a BR-316 e rodovia Augusto Montenegro.
Empresas podem sofrer ameaças ao se adaptar a realidades locais
Há outros empecilhos ao desenvolvimento do empreendedorismo nacional: tomadas de decisões intuitivas, que precisam estar aliadas a dados estatísticos e de mercado, que são científicos; visão imediatista; excesso de autonomia; manutenção de empresa familiar que não se profissionaliza; sensação de onipotência de não se "mexer em time que ganha"; clientelismo, em separar os bens de pessoa física e jurídica; dificuldade de recursos financeiros, inovação e tecnologia; gestão centralizadora; sistema de informação simples; dificuldade de acesso à internet no Brasil, que ainda tem poucos kilobytes e banda larga, entre outros.
Na opinião de Aranha, uma das maiores ameaças às franquias no Brasil é a tentativa de tropicalização, isto é, "a tentativa de adaptar a franquia às realidades locais e com isso vulgarizar de tal ordem que causa uma implosão e risco a franqueadores e franqueados e a rede toda. Às vezes, há tentativa de popularizar a franquia e colocar a franquia em mercados que não comportam todas de uma vez", explica o professor.
Outro problema ao fortalecimento das franquias no Brasil é quando o franqueador master perde o foco da sua franquia ao conceber e estatuir outras franquias. "Isso é um fator complicador à sustentabilidade das franquias no Brasil, porque pulveriza esforços e gestão. As franquias devem preservar imagem e credibilidade de suas marcas e investir em qualidade e não quantidade para não comprometer a franquia" , afirma Aranha.
Contudo, se franqueados e franqueadores ficarem atentos para tudo isso, buscarem mais informações e tomarem os cuidados as franquias podem ser a grande tacada de empreendedorismo no Pará e em Belém.
Há instituições tradicionais que dão suporte na área de empreendedorismo e podem informar sobre as linhas de financiamento. Hoje existem linhas de crédito como o BB Franquia (Banco do Brasil) e Franquias da Caixa (Caixa Econômica Federal), os financiamentos variam, com tempo negociado e taxas que oscilam. Segundo o analista do Serviço de Apoio às Micro e Pequenas Empresas do Pará (Sebrae/PA), Roberto Belluci, é importante que quem esteja interessado em aderir a uma franquia busque orientação e o Sebrae oferece individualizada. No site do Sebrae Nacional (www.sebrae.com.br) e da ABF (www.portaldofranchising.com.br) há várias informações sobre o assunto.
Credibilidade da marca incentiva a adesão ao empreendimento
Segundo o professor, no mercado de franquia a maior vertente que há entre franqueador (quem cria uma franquia) e franqueado (quem recebe concessão de uma franquia) é a vontade de ser empreendedor. "Essa doutrina foi despertada principalmente após a 2ª Guerra Mundial, a partir de 1950, com os reforços de reconstrução do planeta, que gerou alteração sociológica na visão de a pessoa não ser funcionário e ter seu próprio negócio, gerando emprego para si e para outras pessoas. Os franqueadores fazem franquias também por terem acesso ao mercado e oferecerem seus produtos de forma ágil e direta gerando acumulação de lucros, expansão e riqueza".
Os fatores de mercado inibidores para os franqueadores são o risco da quebra de uma rede. "A franquia se estabelece, consegue licença de patentes e na ponta os franqueados falham, há casos em que acontece a quebra e a franquia desaparece e entram em processo de destruição. O que inibe muito a concederem franquias é o medo de perder o controle sobre elas. A tecnologia da informação mudou um pouco isso, porque pode realizar videoconferências e reuniões pela webcam, mas ainda há o conceito de distância", afirma.
Já para quem é franqueado, a motivação no negócio é a credibilidade da franquia. "Uma franquia que tem imagem e marca forte no mercado é o sonho de consumo de 10 e cada 10 candidatos a franqueados, os quais são motivados porque terão menos custos, pois é garantida a consultoria de plano de negócios, o treinamento de funcionário, o manual de conduta, o uso de marca, layout, entre outras."
Esse foi um dos aspectos que fizeram com que Nayara Cruz, 30 anos, que há 13 anos avaliou a credibilidade de uma das mais importantes redes de doçarias no Brasil e há três meses conseguiu inaugurar seu negócio em um shopping center localizado no bairro do Reduto e conta que está satisfeita. "Somos a primeira no Norte do Brasil em uma franquia que conta com 60 lojas. Sempre fui apaixonada pela loja devido à qualidade dos seus produtos. Ficamos em segundo lugar na rede em dezembro e superamos a meta. Meu único receio é que seja somente uma moda, porque muitos negócios em Belém não são contínuos, mas vamos fazer tudo para dar certo e contamos com suporte da franquia, que garante treinamento, consultoria, enfim", afirmou a franqueada.
Porém, para ter acesso à franquia há também fatores inibidores. As pesquisas mostram que são essencialmente as taxas cobradas (por royalties pelo uso da franquia) ou pacotes. "No Brasil há exagero nas taxas, as quais chegam em 38% do faturamento, elevadíssima para os padrões internacionais", considera Helder Aranha. Os estudos feitos por federações empresariais e universidades mostram também que muitos empreendedores desconhecem a questão de administração, que é importante à formação de quadros empresarias quanto à gestão e evitar a mortalidade da empresa. "Ainda é desproporcional a formação dos brasileiros para entender os fenômenos os negócios, porque estes estão relacionados às questões científicas e precisam estar aliados ao processo de administração e os recursos de empresa. Muitos podem ter experiência, visão de mundo, mas falham no aspecto acadêmico, que podem não ser decisivos, mas ajudam a compreender a prática dos fenômenos e qualifica esta prática tornando a pessoa um melhor empreendedor."
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, 22/01/2012
Foto: Alexandre Moraes - Ascom/UFPA.
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