Por: Cleide Magalhães
Reportagem Especial – Jornal Amazônia – 26/02/2012
Grupos não deixam para trás nem as mesas de jogos feitas de concreto
Há mais de dois anos, Belém conta com cinco academias ao ar livre. Cada uma possui em média 24 equipamentos, que servem para alongar, fortalecer e desenvolver a musculatura, além de trabalhar a capacidade aeróbica dos praticantes. A iniciativa, que exigiu investimento de R$ 125 mil para a compra de aparelhos, foi bem recebida pela população e atrai pelo menos mil pessoas todos os dias. O projeto sem dúvida é uma alternativa para aquelas pessoas que querem se exercitar, mas não tem dinheiro ou não gostam de frequentar as academias convencionais e pode beneficiar diretamente a saúde da população; no entanto, a falta de consciência de alguns faz com que muitos aparelhos sejam destruídos.
Nas quatro academias da cidade - a quinta fica no distrito de Mosqueiro - faltam pelo menos sete peças e seis equipamentos precisaram ser retirados. Neles é possível enxergar sinais da ação de vândalos, que depredam e roubam pedaços dos equipamentos. Também é possível observar destruição nas mesas de jogos, feitas em concreto, mas incapazes de resistir à ação dos criminosos.
Os espaços são utilizados por pessoas de todas as idades e a procura é tamanha que os usuários são obrigados, às vezes, a aguardar um bom tempo próximo dos aparelhos, esperando sua vez, para praticar os exercícios nas academias que ficam nos bairros do Marco, Telégrafo e Pedreira. Ao conversar com pessoas que as frequentam os lugares, é comum ouvir relatos indignados de que a ação de vândalos resultou na retirada parcial e até completa do equipamento, além da falta de peças pequenas como um simples pedal, o que impossibilita a utilização do aparelho na avenida João Paulo II, entre as travessas Lomas Valentinas e Barão do Triunfo, no Marco.
A academia que está localizada na avenida Marquês de Herval - que fica dentro de uma área com 2.900 metros de extensão na Pedreira e contou com investimento do Tesouro Municipal estimado em R$ 6,8 milhões - é um dos poucos lugares de Belém que faz parte do cotidiano do aposentado Antônio Gonçalo, 72 anos. Desde inaugurada, em abril de 2011, Antônio diz que costuma caminhar todos os dias por ali, e faz um percurso de mais de dois quarteirões para chegar ao lugar. Insatisfeito com as condições físicas do local, ele denuncia irregularidades que o incomodam e entristecem.
"Venho aqui todos os dias, pela manhã e à tarde também, e vejo que há alguns meses falta uma roda para exercício em um equipamento e o apoio para braço em outro. O que mais me angustia é que nesse espaço tão bonito a academia soma-se as outras iniciativas que também sofreram ação de vândalos como as mesas de jogo de dama; eram quatro e agora tem só uma. Não consigo entender como é que uma pessoa tem tempo para retirar daqui as mesas que são feitas de concreto. A falta dos equipamentos me deixa muito triste, mas o pior é a ausência das mesas de jogos, porque eu vinha de casa sabendo que podia fazer meus exercícios e depois ainda me reunir com colegas para jogar dama, dominó e baralho. A falta de coletividade destrói o pouco que criam na cidade", lamenta o aposentado.
Para usuários, responsáveis por vandalismo não temem punição
O ato de vandalismo consta no Código Penal Brasileiro, artigo 163, e determina pena de um a seis meses de reclusão em casos mais graves e aplicação de multa em crimes mais brandos. No entanto, quem comete este tipo de depredação tem certeza da ineficácia da lei e não teme qualquer punição.
Não é somente a ação de gangues e a destruição dos equipamentos que prejudica o funcionamento das academias ao ar livre. A falta de manutenção e a dificuldade em obter as peças danificadas ou arrancadas também põem em risco a continuidade do trabalho. Nesta época, quando a cidade enfrenta chuvas todos os dias, o cuidado com os aparelhos é intensificado, mas ainda ficam aquém da necessidade, já que os aparelhos expostos enferrujam com maior velocidade.
O primeiro "Espaço Saúde" a ser entregue fica na avenida Romulo Maiorana, entre as travessa Perebebuí e Lomas Valentinas, no Marco, há mais de dois anos. A partir daí, o lugar passou a integrar a rotina do estudante Fábio Costa, de 22 anos, morador do bairro do Souza. "Venho pra cá quase todos os dias, considero o equipamento paralelo, que serve para ganhar massa muscular, como meu ‘xodó’, pois preciso sempre utilizá-lo. Desde a semana passada, vejo que as porcas (dispositivo de fixação) estão sumindo; das seis há apenas três segurando o equipamento. Isso é ruim porque ele fica penso e em vez de ajudar na saúde piora porque prejudica a coluna. Além disso, falta a barra para exercício físico - o que serve de complemento à atividade da paralela. O "sky" (equipamento usado para exercitar a perna e braço) precisa ser alinhado, outros não têm borracha para segurar e evitar machucar as mãos. Acredito que tudo é levado à noite, porque é geralmente nesse horário que os vândalos agem", afirma o atleta.
O aposentado Joaz Costa, 71 anos, considera que a prática da atividade física na terceira idade pode auxiliar na redução das complicações de doenças crônicas, bem como contribuir para a diminuição no consumo de medicamentos. Por isso, ele frequenta a academia que fica na avenida João Paulo II, em São Brás, e anteontem resolveu se exercitar na do Marco. "Há pelo menos três meses, percebi que tinha equipamento danificado e notei a falta de um aparelho na academia da João Paulo II. É importante que haja fiscalização também nesses locais já que tem gente que leva ferro até para vender", diz Joaz.
População precisa ajudar a manter espaços
Segundo Francileno Mendes, que há cerca de oito meses assumiu a Secretaria Municipal de Esporte, Juventude e Lazer de Belém (Sejel), no final de 2011 todos os equipamentos passaram por manutenção, mas o furto de peças atrapalha o ajuste dos aparelhos. Mendes explica que o contrato com a empresa que realizava manutenção nas academias ao ar livre terminou em dezembro passado e a Comissão Permanente de Licitação (CPL), da prefeitura de Belém, finaliza novo processo.
"Até final de março terá uma nova empresa. Enquanto isso, contamos com alguns trabalhadores que fazem a manutenção, porém a empresa fará de forma mais detalhada. Os equipamentos que não estão na academia foram retirados pela Sejel para que possamos recuperá-los e deverão retornar em breve. Contudo, a falta deles não compromete as atividades das academias que podem funcionar bem com pelo menos 18 equipamentos", esclarece o secretário.
O titular da Sejel destaca que trabalha em parceria com os órgãos de segurança pública e que busca ainda apoio dos frequentadores das academias para a formação de associações, como acontece na praça Brasil, no Telégrafo, a fim de ajudar na fiscalização e denúncia de depredação do patrimônio público. "Desde janeiro garantimos professores de educação física qualificados, que atuam de manhã e a tarde, e oferecem orientações para a execução correta das atividades às pessoas que utilizam as academias. Eles também nos ajudam a identificar alguns problemas que ocorrem, para que possamos atuar melhor. Além disso, traçamos mais parcerias para levar ações como realização de exames rápidos, orientação nutricional e outras aos cidadãos que utilizam esses espaços", informa.
Na primeira quinzena de março, mais uma academia ao ar livre será inaugurada, no distrito de Icoaraci. Ainda no mês que vem, serão contemplados o distrito de Outeiro e os bairros do Guamá e Marambaia. "São investimentos importantes que beneficiam diretamente a população. Analisamos a possibilidade de instalar também uma academia na ilha de Cotijuba. Recebemos diversos pedidos das comunidades e analisamos uma série de fatores para atender a demanda como segurança pública e a vulnerabilidade social, principalmente nas praças onde a conservação da academia pode ser melhor", diz o secretário. Quatorze academias foram licitadas, das quais 10 estão pagas com recursos próprios da prefeitura e somam R$ 249 mil.
Exercício deve ter orientação profissional
O professor de Educação Física da Universidade do Estado do Pará (Uepa), Eviton Sousa, ressalta que a prática regular de atividades físicas, considerando exercícios aeróbios, de fortalecimento muscular e de flexibilidade, é geralmente indicada no processo de tratamento e na prevenção de doenças cardíacas, hipertensão, osteoporose, obesidade, diabetes, entre outras. Além disso, afirma que tem efeitos positivos nos aspectos emocionais da pessoa, diminuindo os efeitos nocivos do estresse, alívio de tensões, melhora do humor, da ansiedade e depressão.
Sousa considera que as academias ao ar livre são boas iniciativas, mas pondera que ainda são mal executadas. "Elas funcionam 24 horas por dia, mas não têm profissionais da área em horário integral para acompanhar as pessoas já que nem todas fazem exercícios somente em horários determinados. Quem não recebe orientação correta, em vez de ter benefícios à saúde pode desenvolver uma série de doenças causadas pelo excesso de atividade física como inflamação na articulação, doença respiratória, redução do sistema imunológico devido esforço físico abrindo espaço para a gripe, rinite, etc", alerta.
Serviço:
A participação da população é relevante para denunciar a ação de vândalos nos espaços públicos da cidade, basta acionar o Centro Integrado de Operações (Ciop), o qual funciona 24 horas, pelo telefone 190. A ligação é gratuita.
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