terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Empresas triplicam arrecadação

Região Norte já concentra 12% das cooperativas instaladas no país


Por: Cleide Magalhães

Reportagem Especial – Jornal Amazônia – 19/02/2012

Em todo o mundo as cooperativas geram 100 milhões de postos de trabalho. No Brasil, são quase 40 milhões de negócios coletivos, responsáveis por 7% do PIB (Produto Interno Bruto) e por empregar 500 mil pessoas, diretamente. Nos últimos dois anos, o Pará tornou-se o estado de maior destaque da região Norte no setor, aparecendo no topo do ranking referente ao número de cooperados e de empregados. O Estado também triplicou sua arrecadação nos últimos anos. Mais de 150 mil pessoas ingressaram neste mercado no Pará, direta e indiretamente, e a região Norte já concentra 12% das cooperativas instaladas no Brasil. As cooperativas que existem hoje atuam em 13 ramos de atividades, que vão desde a agropecuária até o turismo e contam com empresas de pequeno, médio e grande porte.

Por ser considerado um grande negócio, 2012 será marcado por diversas ações em prol do cooperativismo. Recentemente, o Brasil lançou o Ano Internacional das Cooperativas, declarado pela Organização das Nações Unidas (ONU), na sede da Organização das Cooperativas Brasileiras (OCB), em Brasília (DF). A iniciativa da ONU confirma a contribuição efetiva do movimento cooperativista mundial para a geração de trabalho e renda, qualidade de vida, desenvolvimento socioeconômico e redução das desigualdades sociais. Para a ONU, as cooperativas ajudam a alcançar as metas do projeto "Objetivos de Desenvolvimento do Milênio" (ODM), firmado pelos países signatários no ano 2000, cuja meta é combater alguns dos principais males socioeconômicos até 2015.

No Estado, a Organização das Cooperativas do Pará (OCP/PA) é quem cuida da representação e defesa política das cooperativas e as congrega, baseada na lei 5.764, de 1971, adotada pela Constituição Federal e pelo Código Civil Brasileiro. O presidente da OCP/PA, Ernandes Raiol, explica que a entidade atua em parceria com o Serviço Nacional de Aprendizagem do Cooperativismo no Estado do Pará (Sescoop/PA) e das cerca de 500 cooperativas existentes, 300 estão associadas à organização. A meta da OCP é realizar este ano pelo menos 300 atividades voltadas à profissionalização e formação das gestões dos membros de cooperativas e seus familiares, tidos por Raiol como os maiores desafios para desenvolver o setor no Estado.

"O sistema só crescerá se as cooperativas participarem e usufruírem dos benefícios com nossos parceiros. Ao longo de 2012, em especial, incentivamos os dirigentes e familiares de cooperados na qualificação e conscientização para serem empreendedores coletivos em busca do cooperativismo das questões amazônicas, respeitando o meio ambiente. Estamos em busca da certificação, que ainda é uma carência no nosso trabalho, pois hoje apenas três ou quatro são certificadas. A certificação traz qualidade, aumenta a competição e amplia o negócio para o mercado interno e externo. A cooperativa é um ser feito de elo; quando todos cooperaram todos ganham, quando um não coopera todos perdem", ressaltou o presidente da OCP.

Na outra ponta das dificuldades, estão os benefícios. "Os resultados positivos são sociais e econômicos e depende do ramo da cooperativa. Esta pode buscar mercado, comercializar os produtos dos seus cooperados dentro e fora do País", falou Raiol.

Experiências bem-sucedidas mostram o potencial das Associações

Uma das experiências no Pará que mostra para o mundo que cooperativismo na Amazônia é possível é a Cooperativa Agrícola Mista de Tomé-Açu (Camta), que existe desde o período de crise econômica mundial de 1929, no nordeste paraense. Sua produção envolve polpa de frutas tropicais, pimenta-do-reino, cacau e óleos vegetais. Devido à alta qualidade, toneladas de polpa são exportadas para o Japão, Estados Unidos e Europa. Dados da OCP mostram que a Camta possui 1,3 mil cooperados, e sua capacidade de produção na agroindústria é de 3,2 mil toneladas de polpa de frutas. Em 2011, a empresa movimentou R$ 21 milhões, gerou 130 empregos diretos e dois mil indiretos, além de ter firmado parcerias com grandes empresas nacionais.

Coletar, separar e dar o destino correto aos materiais recicláveis é o trabalho da Cooperativa dos Catadores de Materiais Recicláveis (Concaves), na Terra Firme, uma das áreas da cidade classificada pelas autoridades como perigosa em que ocorrem altos índices de criminalidade e um das mais populosas de Belém. Na Concaves são 30 cooperados que desenvolvem trabalho essencial para uma sociedade de consumo: arrecadação de pelo menos 30 toneladas de materiais recicláveis por dia. O ato de reciclar na cooperativa é uma solução viável economicamente e ambientalmente correta.

"Começamos em 2006 com 13 catadores. Desde então enfrentamos uma luta árdua, diariamente, e funciona porque é o único jeito que temos de nos ajudar. Se não fôssemos uma cooperativa legalizada não teríamos conseguido equipamentos para trabalhar, mas ainda sentimos falta de políticas para ampliar nossa atuação e condições de trabalho", disse Jonas de Jesus (foto), coordenador da Concaves, que faz parte do projeto nacional CatAÇÃO, o qual recebe patrocínio de empresas multinacionais.

Para montar uma cooperativa hoje é necessário ter pelo menos 20 pessoas e ser registrada na Junta Comercial do Pará (Jucepa). Para o ano internacional, uma das recentes vitórias das cooperativas formalizadas no Estado foi a redução no custo de registro de ato na Junta, que passou de R$ 600,00 para R$ 420,00, resultado da negociação entre a OCP, o governo do Estado e a Frente Parlamentar em Defesa do Cooperativismo, composta por deputados de todos os partidos políticos.

Na hora de procurar por uma cooperativa é importante avaliar se ela atua legalmente, "uma vez que pseudocooperativas foram criadas para fins não claros no Pará e sabendo disso a OCP faz trabalhos com os bancos públicos e privados, além de parcerias municipais, estaduais e federais, para evitar que as pessoas sejam enganadas", ressaltou Raiol.

Prefeitura e estado ampliam projetos de apoio aos empreendedores

A Coordenadoria de Comunicação da prefeitura de Belém, em nota, informa que nos últimos sete anos órgãos da gestão municipal atenderam centenas de cooperativas no intuito de facilitar a vida de empreendedores individuais, taxistas, artesãos e catadores de resíduos sólidos. Projetos são elaborados para o Distrito de Icoaraci envolvendo as atividades dos artesãos que residem e trabalham no local. Outra parceria entre a prefeitura de Belém e cooperados, afirma a Comus, é mantida pela Secretaria Municipal de Saneamento (Sesan). "Pelo menos cinco cooperativas, que reúnem no mínimo 20 pessoas, trabalham na coleta de lixo, atuando em conformidade com a nova política de resíduo sólido. O trabalho deve crescer nos próximos meses com a implantação de mais um barracão para os catadores realizarem o processo de triagem dos resíduos sólidos", diz.

O governo do Estado, por meio da assessoria de imprensa da Secretaria de Estado do Trabalho, Emprego e Renda (Seter), ressalta que implementa políticas públicas com o objetivo de promover o desenvolvimento socialmente inclusivo e ambientalmente sustentável, com o incentivo à geração de oportunidades de trabalho e renda, por meio de iniciativas de natureza solidárias organizadas de forma coletiva e participativa. Para isso, lembra que conta com uma Diretoria de Economia Solidária e suas ações são permeadas, no processo de efetivação do Marco Legal, que se deu com a criação da lei 7.309/2009, que instituiu a Política de Fomento à Economia Popular e Solidária do Estado do Pará e acompanha projetos e programas municipais, estaduais e nacionais.

Para este ano, o Plano Plurianual (2012-2015) terá algumas ações. Uma delas é o fomento ao empreendedorismo através da sensibilização de gestores públicos e de empreendedores econômicos solidários. Outra é a constituição, reativação ou transformação das formas de organização do trabalho associativo e o apoio na identificação de mercado de demandas potenciais para os produtos e serviços dos empreendimentos da Economia Solidária.

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