Por: Cleide Magalhães
Edição: Ana Danin
O uso da internet no Brasil já atingiu mais de 68 milhões de pessoas, das quais parcela significativa tem entre 2 e 17 anos de idade, segundo dados do portal da SaferNet Brasil. A utilização da internet foi incorporada de um jeito rápido aos hábitos dos brasileiros e criou um nova geração, habituada ao uso constante e prolongado de diferentes tecnologias de comunicação desde a infância.
Nesse mesmo ritmo segue o número de crimes cometidos pela internet. Em 1999, por exemplo, 3.107 crimes deste tipo haviam sido reportados ao Centro de Estudos, Respostas e Tratamento de Incidentes no Brasil (Cert. Br). No ano de 2009, o número de delitos registrados chegou a 358.343 - ou seja, aumentou 115 vezes. Somente a Central Nacional de Denúncias de Crimes Cibernéticos recebe média de 2.500 denúncias por dia. Apesar dos métodos de segurança também terem evoluído de maneira acelerada, combater ou desfazer os efeitos - na maioria das vezes devastadores - que os delitos cometidos através da rede mundial de computadores provocam se tornou um grande desafio para a polícia e, principalmente, para a vítima.
Esse desafio é reafirmado na pesquisa realizada recentemente em todo o Brasil, pela Parceria para a Proteção da Criança e do Adolescente(CPP Brasil) e que faz parte da publicação internacional da ONG Plan "Fronteiras Digitais e Urbanas: Meninas em um ambiente em transformação". A pesquis apontou que quase 80% das adolescentes entrevistadas não se sentem seguras no ambiente online, apesar de afirmarem conhecer as ameaças. E apenas um terço delas sabe como denunciar uma situação de perigo online.
O estudo também mostrou que o uso das Tecnologias de Comunicação e Informação (TICs) está crescendo muito rapidamente, particularmente entre os jovens de 15 a 17 anos. O documento internacional traz, ainda, um retrato de como as TICs têm impactado a vida de meninas em todo o mundo, bem como os riscos a que elas se expõem com a exploração dessas inovações.
Constatações - O levantamento no Brasil mostrou que 84% das meninas possuem um celular; 60% disseram saber sobre os perigos online; 82% já utilizaram a Internet e 27% disseram estar sempre online; quanto mais conhecimento e consciência as meninas têm sobre as TICs, maior o grau de segurança que sentirão online; 79% das meninas disseram que não se sentiam seguras online; quase metade das meninas que responderam à pesquisa afirmaram que seus pais sabem o que elas acessam online; somente um terço das meninas sabe como relatar um perigo quando estão online; Quase 50% das meninas disseram que gostariam de encontrar pessoalmente alguém que tenham conhecido online.
Pais precisam conversar e conquistar a confiança dos filhos
A psicóloga clínica e mestre em Psicologia Clínica Social na Abordagem Psicanalítica, Niamey Granhen, professora da Universidade Federal do Pará (UFPA) e da Universidade da Amazônia (Unama), afirma que a rede de relações na internet é saúdável, mas é preciso a pessoa ter cautela ao expôr sua vida real. "A internet não é uma forma de privacidade, mas um mundo todo dentro da casa da pessoa, por isso é importante não publicar seus dados pessoais, o que gosta, o que faz, entre outras informações porque nunca se sabe quem está do outro lado (...). Na internet você pode ser quem quiser ser. Quem está em contato com você pode mostrar seu melhor lado e depois na vida real se apresentar com algum transtorno ou uma perversão", alerta.
Niamey destaca que, no caso dos adolescentes os cuidados devem ser redobrados. "Geralmente, o adolescente não consegue perceber uma situação de risco porque ele está muito focado nele, aí se coloca em situação de risco. Quando ele se mostra angustiado e pressionado é o momento em que já existe o perigo real e não mais o iminente. Quando ele começa a não saber como lidar com uma situação perigosa os sintomas aparecem: irritação, choro, medo de entrar na internet, etc. Para perceber alguma má intenção na internet é preciso que o adolescente compartilhe as informações com uma pessoa adulta, mas, muitas vezes, ele não tem esse espaço na família nem na escola. Existem pais que pensam que controlam a situação, mas na verdade não, até por conta de que alguns não têm habilidade com o computador e a internet", avalia a psicóloga.
A professora orienta que os pais podem monitorar o acesso dos filhos à internet, mas ressalta que o segredo para utilizá-la com mais segurança está no diálogo. "Em toda relação a base é o diálogo. Desde pequeno os pais já têm que conversar com a criança e criar um vínculo seguro, porque com isso aumenta a chance de os adolescentes contarem o que acontece com eles até na vida virtual. Caso isso não seja trabalhado desde a infância, os pais ainda podem acompanhar, se mostrar tolerantes e buscar sensibilizar os filhos sobre os riscos, mostrando-se preocupados e afetuosos para resgatar e abrir o canal de comunicação com o adolescente", aconselha.
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 03 de outubro de 2010. Leia na íntegra aqui.
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