Por: Cleide Magalhães
Reportagem Especial publicada no jornal Amazônia, 08/01/2012
Manter o carro “turbinado” pode custar até R$ 1,3 mil a motoristas
Não é segredo para ninguém que todo motorista apaixonado pelo seu automóvel faz dele a extensão da sua casa e gosta de vê-lo bem limpo, esbanjando beleza e potência por aí. Além disso, Garcia gasta semanalmente, em média, R$ 290,00 com combustível, lavagem, aspiração, polimento e material de limpeza. Mas quem pensa que os gastos do motorista param por aí está enganado. Para deixar o Corsa com "aquele jeitão" personalizado comprou a R$ 500,00 um som potente; R$ 310,00 com trava elétrica e alarme e R$ 150,00 para colocar película. Há duas semanas, conseguiu um dos seus maiores desejos: um DVD automotivo com tela retrátil de sete polegadas. Seu próximo passo será a aquisição de rodas de liga leve novas. "Já verifiquei os preços e vou comprar no valor de R$ 1,3 mil. Faço os serviços e compro sempre em oficinas e lojas simples, porque é m
ais barato e tem qualidade. Este ano já gastei o suficiente com o carro. Meu plano é comprar as rodas a partir do segundo semestre de 2012. Gosto de deixar o carro bonito, me sinto bem ao olhar para ele e ajuda ainda na hora da venda, porque valoriza o veículo", afirma.Para mantê-lo desse jeito é importante zelar pelo veículo e os cuidados estão sempre acompanhados de gastos com itens essenciais de segurança, acessórios e produtos de limpeza. Nos últimos 15 anos, o motorista profissional Alberto Garcia, 45 anos, já teve quatro carros. Para manter seu novo automóvel - Corsa Classic, modelo 2011 e na cor vermelha metaliza - ele gasta por mês cerca R$ 1,2 mil somente com pagamento da mensalidade, seguro e revisão.
O carro é também uma paixão na vida da psicóloga Tânia Barradas, 45 anos. Ela já teve 10 automóveis desde os 18 anos e diz que o carro é tido como indispensável. Isso porque ela depende do transporte para resolver situações do dia a dia relacionadas, principal
mente, ao seu trabalho. Para adquirir o mais recente personalizou o carro pela internet, antes da compra, tudo para ficar do seu jeito, coerente com seu gosto e temático como todos os outros que já teve. "Montei no site da concessionária para ter ideia se as cores (vermelha e preta) combinariam com os acessórios e escolhi o kit celebration (com trava, direção hidráulica e ar condicionado). Depois que recebi, fui a uma loja, coloquei alarme e película. Há um local no comércio de Belém que vende diversos acessórios e lá comprei capas para bancos e volante, protetor de sol e de cinto, tudo nas cores vermelho e preto para combinar. Ao final, o apelidei de 'Malagueta' por conta da cor vermelha, é um carro temático, bem equipado e me garante o conforto e a praticidade que preciso, é como se estivesse em casa. Considero importante porque passo muito tempo nele", conta a psicóloga.
Com todos os acessórios, incluindo os serviços prestados, a psicóloga já investiu, em média, desde outubro quando recebeu seu Fiat Uno Way, modelo 2011, R$ 700,00. Além disso, paga ao mês o mesmo valor distribuído na parcela, combustível e seguro. Sem falar nas taxas, como licenciamento e IPVA, que beiram ao ano uns R$ 800,00. Quanto à lavagem, Tânia afirma não ter tempo de passar em um lava-jato, e ela própria dá aquele banho no carro utilizando de preferência produtos ambientalmente corretos.
Para ajudar no banho do automóvel, nas prateleiras de supermercados da cidade estão disponíveis centenas de produtos de limpeza como silicone, limpa vidros, ceras em pasta e líquida, limpa pneus, flanelas, esponjas, enfim. Tem também diversos produtos que ajudam a aromatizar o ambiente automotivo. Os preços vão de R$ 1,50 (flanela) até R$ 56,60 (cera líquida).
O mercado de acessórios de veículos é aquecido na cidade. Próximo à igreja de Fátima, em Belém, há cerca de oito lojas automotivas que competem por produtos e serviços prestados aos clientes. São centenas de serviços oferecidos, que variam de R$ 20,00 (a instalação de som) até R$ 300,00 (aplicação de película de segurança) e os produtos ficam entre R$ 10,00 (friso) e R$ 6.000,00 (jogo de rodas de liga leve para caminhonete).
Segundo Carlos Fernandes, gerente de uma loja automotiva que tem seu sobrenome, o espaço oferece cerca de 500 tipos de produtos. Os serviços mais procurados são a aplicação de película e os valores são de acordo com o tamanho do veículo - vão de R$ 50,00 a R$ 100,00. A maior parte dos serviços conta com garantia de três meses. "Mesmo com a concorrência, as vendas são aquecidas e atendemos pelo menos 35 clientes por dia e no sábado dobra. Procuramos ter diferencial no mercado com atendimento em domicílio, já conseguimos ampliar a loja para dois espaços laterais e, geralmente, atingimos lucro de 30%. Acredito que é porque oferecemos qualidade no serviço e bons preços", afirma o gerente.
Nas concessionárias o fluxo de clientes também é intenso. Ana Joana Menezes é consultora de vendas de acessórios em uma revendedora de automóveis localizada no Marco, em Belém, e conta que todos os dias vende, no mínimo, 15 kits que contém película, jogo de frisos, protetor de cárter e rádio CD com MP3, que custam hoje R$ 834,00. "A maioria dos clientes são os que compram carro novo e procuram logo, principalmente, pelo protetor de cárter, porque é uma acessório necessário. Oferecemos cerca de 350 itens de acessórios para veículos e diferenciados para cada tipo de carro. Atualmente, está em alta no mercado a linha cromada. O movimento na loja é frequente por pessoas que querem ainda fazer revisão, trocar óleo, alinhar, balancear, enfim".
Películas, faróis e DVDs devem obedecer à legislação de trânsito
A partir da década de 80 surgiu a prática do uso de película escurecedora em veículos, caracterizado como acessório de luxo e beleza. No fim dos anos 80, houve a expansão para o ramo de construção civil e o aumento indiscriminado em vidros de carros. Motoristas em geral, afirmam que usam película para garantir maior segurança, manter a temperatura e, como conseqüência, minimizar a energia gasta para mantê-la e bloquear raios solares nocivos para a pele e à visão.
Porém, o coordenador de Operações do Departamento Estadual de Trânsito (Detran), Rodolfo Ferreira, pondera, na vias urbanas e rodovias, o uso de películas é permitido, desde que siga especificações da Resolução 254, do Conselho Nacional de Trânsito (Contran), de 26 de outubro de 2007, que regulamenta a aplicação de películas em áreas envidraçadas. "Em seu artigo 3º, ela diz que a transmissão luminosa não poderá ser inferior a 75% nos casos de vidro incolor e de 70% em caso de vidros coloridos. A mesma resolução exclui desse limite as áreas envidraçadas do veículo que não são indispensáveis à dirigibilidade dos veículos. Para essas áreas, a transparência não poderá ser inferior a 28%".
De acordo com o artigo 8º da mesma resolução, está proibida a utilização de películas refletivas (espelhadas). O uso de películas em desacordo com a legislação constitui infração grave, resulta na aplicação de cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,94. "A medida administrativa no caso é a retenção do veículo para regularização. Em caso de película irregular, o motorista terá que retirar na hora o acessório se quiser seguir viagem".
Rodolfo Ferreira explica que outra resolução Contran, a de nº 242, de 22 de junho de 2007, dispõe sobre a instalação de equipamentos geradores de imagens nos veículos automotores. "Em seu artigo 1º, está dito que é permitida a instalação de aparelho de gerador de imagem cartográfica, com interface de geoprocessamento, destinado a orientar o condutor quanto ao funcionamento do veículo, sistema de auxílio de manobra, ou seja, GPS.
Mas o artigo 3º dessa resolução proíbe a instalação em veículos automotores de equipamentos geradores de imagens para fins de entretenimento (como DVD e outros) na parte dianteira, salvo se possuir mecanismo automático que o torne inoperante ou comute para a função de GPS independentemente da vontade do condutor ou passageiro no momento em que o carro começa a se mover. O descumprimento constitui infração ao artigo 230/12 do Código de Trânsito Brasileiro, consiste em infração grave, cinco pontos na carteira e multa de R$ 127,96. Os faróis de faróis de Xenon, que garantem melhor iluminação e distribuição da luz, estão proibidos, com exceção daqueles que vêm de fábrica.
Uso inapropriado do som automotivo pode custar multas de até R$ 4 mil
A instalação de som está entre os cinco acessórios mais procurados por proprietários de veículos nas concessionárias e lojas. Mas quem costuma escutar músicas em volume exagerado nas vias, praças, praias e demais logradouros públicos de Belém está agora na mira da lei. A Câmara Municipal aprovou, em novembro de 2011, a proibição do funcionamento dos equipamentos de som em veículos em volume exagerado nesses espaços. Seu descumprimento pode gerar multa de até R$ 4 mil.
Na prática, a lei combate o abuso de motoristas que usam seus carros como "verdadeiras aparelhagens sonoras. Está permitido o equipamento nos carros para emissão de som ambiente, ou seja, sem exageros e incômodos para o entorno", disse o autor da lei, o vereador Fernando Dourado (PSD).
O parlamentar ressalta que existem legislações semelhantes, como a Lei do Silêncio, de 1993, e a que regula o funcionamento das propagandas através de carros-som, no entanto, havia ainda um vácuo quanto à regulamentação do uso de aparelhos sonoros em veículos automotivos.
Para não ferir o direito de liberdade de expressão, a lei deixa de fora carros a serviço de eventos do calendário oficial da cidade, manifestações religiosas, sindicais ou políticas; e veículos usados na publicidade sonora, situações regulamentadas por lei específica anterior a votada. A lei que deve ser ainda sancionada pelo prefeito Duciomar Costa para entrar em vigência.
Procon diz que serviços de oficinas precisam ser tabelados
Peças e serviços incompletos são hoje as maiores demandas de reclamações na Procuradoria de Proteção e Defesa do Consumidor (Procon/Seção Pará). Entre 1º de janeiro a 20 de dezembro de 2012, foram 62 atendimentos relacionados aos carros nacionais, 22 usados e 4 importados. Em geral, as reclamações tratam de serviços que não foram concluídos ou mal feitos, porém muitas pessoas vão ao Procon para reclamar e não levam nota do serviço prestado. "Orientamos que sempre peçam a nota fiscal e caso não tenha traga pelo menos um recibo para oficializar a reclamação. Em seguida, notificamos a empresa para que esta resolva o problema do consumidor. Se não acontecer, chamamos audiência onde há conciliação entre as partes. A maioria dos casos são ocasionados pelas concessionárias, nas quais as pessoas vendem carros com problemas, com falta de peça e com defeito", disse Eliana Uchôa, diretora do Procon/PA.
Na opinião da diretora do Procon/PA, com aprovação da Lei 7.574, de 14 de dezembro de 2011, que dispõe sobre a obrigatoriedade da fixação de quadro com os preços dos serviços prestados pelas oficinas mecânicas, formais ou não, e afins no Estado do Pará, deve aumentar a demanda de reclamação por parte dos proprietários de veículos, porque vão exigir mais seus direitos. "Hoje as oficinas cobram até 100% de diferença, muitas dão o preço pela cara e modelo do carro do consumidor. Todas vão ter que afixar a tabela de preços com todos os serviços e o valor será padronizado. O consumidor vai poder barganhar, não ser mais refém e exigir serviço melhor. As oficinas que não cumprirem serão autuadas pelo Procon/PA e pagar multa", informou Eliana Uchôa.
Para aplicação da lei, a partir de janeiro de 2012, o Procon/PA vai notificar as empresas informando sobre a lei e dar um período de 20 a 30 dias para se adequarem à legislação. Depois disso, quem quiser pode ligar e denunciar as oficinas que descumprirem a lei, para que o Procon/PA possa autuá-la: 151 (gratuito) ou (91) 3073 2824.
Fotos: Elivaldo Pamplona, fotógrafo dos jornais O Liberal e Amazônia e Abrajet-Pará.
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