E também o gosto do público. É preciso, porém, atentar à saúde.
Por: Cleide Magalhães
Reportagem Especial jornal Amazônia, 15/01/2012
Devido principalmente à comodidade e a falta de tempo que impera nas grandes cidades, o fast food ("comida rápida" em inglês) conquista paladares e ganha espaço especialmente nos shopping centers do país e de Belém. Porém, pesquisas apontam que, ao mesmo tempo em que buscam alimentação rápida, os frequentadores das praças de alimentação estão preocupados com o conteúdo nutricional de suas refeições e com o efeito que elas têm na saúde. De olho nesse mercado, novas redes estão surgindo, outras ampliaram suas lojas e algumas reformularam o cardápio. Hoje, elas são praticamente 90% das lojas que há nas praças de alimentação de shopping centers em Belém e atraem centenas de pessoas todos os dias.
Uma das empresas líderes no mundo, presente em mais de 80 países - que conta com franquia em Belém há 13 anos, opera em dois shoppings centers da capital, em um drive-thru (entrada em que o cliente compra dentro do carro, por uma janelinha) e cinco quiosques de sorvete em uma rede de supermercados de Belém e Castanhal -, acompanha essa tendência e registra atendimento hoje, em média, de mil clientes somente nos balcões de cada shopping.
Para manter a liderança no mercado, é importante estar antenado às mudanças e exigências do cliente. "Por isso, incluímos no nosso cardápio a salada como acompanhamento dos sanduíches em substituição à batata frita; sucos naturais, concentrados e semi-prontos por marcas conceituadas. Além disso, oferecemos maçã para acompanhar a refeição - o que agrega valor nutricional maior; reduzimos a quantidade de sódio no queijo para atender demanda da Sociedade Brasileira de Pediatria, que pede para reduzir o sal nos alimentos; a gordura de fritura 100% sem gordura trans. Fazemos tudo isso e muito mais para zelar pela saúde e o bem-estar dos nossos clientes", contou Quemel Kalif, responsável pela franquia. Os valores ficam entre R$ 4,50 e R$ 22,00, do x-burger ao prato completo. As calorias por grama, de 80 a 600, depende do gosto do cliente.
O cirurgião dentista José Paulo Isola, 58 anos, que é de Ribeirão Preto (SP) e mora atualmente em Parauapebas, sul do Pará, veio a Belém e aproveitou para ir à praça de alimentação de um shopping center, no centro da cidade, especialmente para comer esfirras. "Prefiro refeições que trazem arroz, feijão, carne grelhada e salada, mas como fast food uma vez por semana e adoro. Como a vida moderna exige agilidade comer, fast food ajuda muito".
Isola relata que é diabético, por isso evita comer refeições rápidas e massas. Quando escolhe fast food preocupa-se tanto com o valor nutritivo como com a forma pela qual os alimentos são manipulados. "A alimentação mais nutritiva do fast food é uma exigência da Organização Mundial de Saúde, porque o grau de obesidade das pessoas hoje é alto, mas, infelizmente, você passa a se preocupar quando tem a saúde atingida. A gente come mais pelos olhos que pela boca, mas o cabelo vai ficando branco, você começa se preocupar mais e critica o fato de não ter se alertado antes", disse.
Clientela - Em um shopping center localizado na área limítrofe entre Belém e Ananindeua, o gerente geral Arnaldo Mota afirma que das 22 lojas que existem na praça de alimentação, 21 oferecem fast food e que o espaço serve de âncora ao shopping, pois atrai todos os dias por cerca de 20 mil pessoas e 40 mil aos finais de semana.
"A primeira necessidade das pessoas que procuram pela praça de alimentação é em busca do fast food aliado ao entretenimento. No espaço há quase todas as grandes redes nacionais e internacionais, que oferecem todos os tipos de alimentação, que vão de sanduíche a prato pronto. A idéia é oferecer a pluralidade de alimentação e todas as operações feitas têm opção light e alimentos mais nutritivos buscando oferecer serviços de cunho mais ecológico e saudável ao público, além da agilidade: o tempo de espera para entrega na mesa de um fast food varia de 60 segundos a 10 minutos, neste caso são os pratos completos", falou o gerente.
Consumo desmedido de frituras pode levar a problemas cardíacos
A preocupação com a alimentação saudável vem a reboque do aumento das doenças cardiovasculares e da obesidade. "Uma alimentação saudável foi verificada em diversos estudos como uma relação com menor obesidade e menor incidência de complicações cardíacas. De forma geral, a obesidade é um desbalanço entre a ingestão de alimentos, geralmente ricos em lipídios e carboidratos levando uma oferta grande de calorias ao indivíduo, e o pouco gasto destas calorias pelo hábito de vida sedentário. Como existe uma relação grande entre a ingestão de calorias, existe hoje a preocupação de se ingerir uma dieta mais saudável", considera a cardiologista Dilma Souza, da Fundação Pública Estadual Hospital de Clínicas Gaspar Vianna (FHCGV), e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA).
Segundo a nutricionista Vanessa Vieira Lourenço Costa, pós-graduada em Gestão da Qualidade em Unidades Produtoras de Refeições pela UFPA, alimentação saudável é aquela que possui todos os nutrientes que o organismo precisa e estes são substâncias presentes nos alimentos e são utilizadas pelo organismo, sendo indispensável para seu funcionamento.
Os principais de nutrientes são os macronutrientes que são os carboidratos, as proteínas e as gorduras, e os micronutrientes, os quais são as vitaminas e minerais. "A alimentação ideal deve conter de forma variada, proteínas (carne, ovo, leite, iogurte, feijão, soja), carboidratos (arroz, batata, pão, macarrão, macaxeira), gorduras (azeite), além de vitaminas e minerais (frutas, hortaliças). Precisamos lembrar também de duas substâncias importantes para o funcionamento no organismo: a água e as fibras. A alimentação saudável deve possuir alguns atributos básicos como acessibilidade física e financeira, sabor, variedade, cor, harmonia e segurança sanitária", listou a nutricionista.
Ela afirmou ainda que o fast food pode prejudicar a saúde de uma pessoa de diversas formas. "Geralmente, esse tipo de alimento é rico em sódio, o que favorece o aparecimento da hipertensão arterial sistêmica; são ricos em gorduras, principalmente as saturadas, que promovem o aumento do colesterol e do peso corporal, aumentando o risco de obesidade e de doenças cardiovasculares; ricos em açúcar, podendo favorecer o aparecimento de diabetes mellitus (doença provocada pela deficiência de produção e/ou de ação da insulina, que leva a sintomas agudos e a complicações crônicas características). Além disso, seu excesso pode ser transformado em gordura", alertou.
A obesidade por si só já é um fator de risco cardiovascular, "porque o indivíduo obeso possuindo mais células gordurosas que têm ação hormonal liberando substâncias que são adversas ao metabolismo, provocando uma aceleração da deposição de gordura nos vasos arteriais provocando assim a aterosclerose", explicou a cardiologista. Desta forma, os indivíduos obesos têm mais eventos cardiovasculares como infarto do miocárdio, acidente vascular cerebral e até insuficiência cardíaca.
Por esses motivos, Vanessa Costa orienta que as pessoas evitem comer fast food. Caso o façam, que seja de forma esporádica. "É preciso evitar ingerir com frequência, no máximo uma vez por semana, mas se for inevitável o ideal é escolher os mais saudáveis como saladas, sanduíches com pães integrais acompanhados de sucos de frutas e frutas. Atualmente, as empresas que fornecem esse serviço estão incluindo em seus cardápios preparações mais saudáveis", disse a nutricionista.
Para conhecer o valor nutricional dos alimentos ingeridos é possível verificar através da leitura dos rótulos. "As empresas são obrigadas a colocar o valor nutricional nos alimentos produzidos e devemos acreditar neles, pois os órgãos competentes realizam fiscalização periodicamente", informou Vanessa.
Além de usufruir de dietas saudáveis, a cardiologista afirma que as melhores formas de prevenção das doenças cardiovasculares e da obesidade envolvem os exercícios físicos e o tratamento de doença que possa existir como a hipertensão ou o diabetes.
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