terça-feira, 30 de novembro de 2010

Carros velhos são problema

Frota ultrapassada representa riscos para o ambiente da cidade pela poluição e congestionamento das ruas

Texto: Cleide Magalhães

Edição: Márcia

Diversas cidades brasileiras têm perdas econômicas e socioambientais devido à sua frota de carros velhos, segundo especialistas. No Rio de Janeiro, a idade média da frota é de 12,5 anos, e em São Paulo, 8,5 anos. Até 19 de outubro deste ano, dados do Departamento de Trânsito do Pará (Detran/PA) mostram que a frota de veículos no Estado corresponde a 932.775 veículos sendo 282.390 na capital. Do total de veículos, 495.628 têm o tempo de registro de até 5 anos. Já com a idade entre 6 e 10 anos há 205.026 veículos; de 11 a 15 anos, o total é de 107.430; e de 16 a 20 anos existem 43.095 veículos. "Isto significa que 75% da frota dos veículos do Pará estão acima da média nacional, que é de 10 anos. Então, o Estado tem uma frota renovada. Existem veículos de coleção que têm entre 40 e 50 anos e provavelmente não estão rodando", afirma Carlos Valente, coordenador de Planejamento do Detran/PA.

Diante disso, o Pará está entre os Estados do Brasil em que a frota de veículos têm condições de trafegabilidade, entretanto observa-se que os problemas no trânsito, principalmente na Região Metropolitana de Belém (RMB), justificam-se pela falta de infraestrutura viária e os dados do Detran/PA servem de alerta. Eles projetam que o crescimento da frota, entre os anos de 2003 e 2021, será em torno de 6 milhões de veículos registrados circulando no Pará, dos quais 1,6 milhão somente na RMB. "Hoje, ao mês, na RMB, a circulação oscila entre 2,8 e 3 mil novos veículos. São muitos carros que entram em circulação e poucos saem. Em termos de infraestrutura viária na RMB, o que temos são os elevados das avenidas Júlio César com a Pedro Álvares Cabral, em Val-de-Cães, e a nova avenida Dalcídio Jurandir. Nenhum outro espaço foi criado para melhorar a questão da trafegabilidade de veículos", afirma Valente.

Apesar das facilidades para se comprar um veículo novo e a maior parte da frota do Estado ser recente, ainda há no Detran/PA planilhas que contam com mais de 20 anos e quem opte por manter em circulação carros velhos, que tendem a apresentar mais problemas. Alguns deles estão pelo acostamento das ruas ou avenidas, e muitos não são tão percebidos na cidade, porque são repassados à população que tem menor poder aquisitivo e, geralmente, estão na periferia ou no interior do Estado. Outros estão há décadas no parque de retenção do Detran, em Icoaraci.

Segundo o economista João Tertuliano, vice-presidente do Conselho Regional de Economia do Estado do Pará, mesmo que a frota de carros velhos, que têm de 16 a 20 anos, seja pequena, ainda causa impacto sobre a economia do Estado. "Os carros velhos, pelo seu alto grau de depreciação, provocam desperdício de combustíveis, exigem um alto custo de manutenção, impactando os orçamentos familiares e empresariais, além de tornarem pouco eficiente os serviços de transportes, tanto para cargas, como para passageiros. De um ponto de vista macroeconômico, representam baixo padrão tecnológico, afetando negativamente o crescimento econômico."

Sistema de transporte público precário leva à compra de veículo

O que também chama a atenção no trânsito da RMB é a precariedade do sistema de transporte público de passageiros. Patrícia Bittencourt, especialista em trânsito e professora da Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que isso leva as pessoas a deixar de usufruir do transporte coletivo para utilizar veículos particulares. "Quanto maior o número de unidades veiculares, muito maior é a área de congestionamento e mais nocivo à população é a frota velha de transporte público, porque ela apresenta vários aspectos negativos, como acidente, falta de segurança e desconforto, que fazem com que as pessoas migrem para outros tipos de transportes, provocando a falta de trafegabilidade em especial nos centros urbanos. Ainda não há uma política de destino para os veículos velhos", reforça.

Se nada for feito em termos de melhoria no sistema de transporte público de passageiros, em breve Belém poderá parar. "Hoje a perspectiva da velocidade média em determinados corredores de tráfego de Belém é de 50 km/h. Mas se não houver investimento no sistema de transporte, a projeção para 2015 é que haja queda para 30 km/h por conta da grande quantidade de veículos que vai circular. Então, a projeção do crescimento da frota na cidade indica que em 2021, se nada for feito, teremos uma cidade que se arrastará", alerta Carlos Valente, que também é especialista em psicologia do trânsito.

A partir do ano que vem Detran vai ser mais rígido na fiscalização

A poluição da atmosfera, em especial pela emissão de CO2 (dióxido de carbono), maior responsável pelo aumento do efeito estufa, também preocupa os especialistas e o órgão de trânsito. Por isso, o Detran viabiliza, a partir de 2011, que seja feita a inspeção de emissão de gases e ruídos para todos os veículos, a fim de que haja a certificação de acordo com as leis do Conselho Nacional do Meio Ambiente. Essas exigências hoje são especificadas pelo Código de Trânsito Brasileiro ou por resoluções do Conselho Nacional de Trânsito e o Detran/PA tem autoridade para implementar o que não estiver previsto em nível nacional.

Atualmente, a questão ambiental deve ter mais atenção dos governantes e consumidores. Estes podem ainda colaborar com o meio ambiente na hora da compra do carro ao verificar o volume da emissão de gases do veículo. "Há fabricantes que colocam no mercado veículos flex, que podem ter tanto consumo de álcool quanto de gasolina, tem ainda a fabricação do biodiesel. Quanto menos elementos nocivos forem levados ao meio ambiente, melhor será a qualidade de vida das pessoas. Os veículos novos trazem muito mais dispositivos de retenção de gases poluentes - diferentemente dos fabricados há 30 anos. Então, essa atenção tem que ser especial e, por isso, temos a necessidade de implantar a inspeção de emissão de gases e poluentes, para que tenhamos os veículos em condições de circular e poluir muito menos o meio ambiente", orienta Carlos Valente.

Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 07/11/10.

http://www.portalorm.com.br/amazoniajornal/interna/default.asp?modulo=222&codigo=498881

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