segunda-feira, 20 de junho de 2011

Vírus H1N1 pode voltar a circular no Pará

Por: Cleide Magalhães

Reportagem Especial – Jornal Amazônia – 19/06/2011

Não está descartada a possibilidade de a gripe A - que após o grande número de infestações no mundo inteiro, em 2009, tornou-se uma gripe sazonal - voltar a acontecer no Pará. Risco e preocupação continuam quando se vive em um mundo globalizado e, principalmente, depois que houve mais uma morte confirmada pelo governo do Rio Grande do Sul na quinta, 16. Foi a quarta provocada no Estado pela doença este ano elevando para quatro os casos de óbito da doença no País.

"O vírus da gripe A H1N1 pode voltar a circular no Pará, porque ida e vinda de pessoas de barcos, ônibus, navios, aviões, entre outros tipos de transportes é permanente. Mas caso ocorra, não será tão grave porque a maior parte da população está vacinada contra a doença", disse Ana Ferreira, coordenadora da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Secretaria de Estado de Saúde (Sespa).

Mas a enfermeira sanitarista Leila Flores, chefe da Divisão de Vigilância Epidemiológica (DEVS) da Secretaria Municipal de Saúde (Sesma), orienta que a população se preocupe em procurar o serviço de saúde quando apresentar sintomas de gripe, "pois ainda temos a circulação do vírus H1N1 no Brasil e em outras partes do mundo há pessoas suscetíveis por ainda não terem sido vacinadas".

A última vítima da doença no Rio Grande do Sul foi um bebê de dez meses, da cidade de Santa Cruz do Sul, distante 147 km de Porto Alegre, que morreu na semana passada. A criança não havia sido vacinada contra a doença. Outros dois casos de gripe A, também em Santa Cruz do Sul, foram confirmados pela Secretaria da Saúde gaúcha na quinta. Até sexta, 17, ao todo, havia confirmação de nove pessoas infectadas. Dezesseis casos suspeitos ainda estão sendo investigados. "O número de pacientes infectados não caracteriza uma epidemia e que a situação é de normalidade", informou, em nota, o governo gaúcho.

2010 foi o "boom" da doença no Pará. Morreram 33 pessoas

Neste ano, no Pará, 21 casos do vírus H1N1 já foram notificados, e descartados. Desde abril de 2010, não há caso confirmado no Estado, mas foi nesse ano que teve um "boom" nos casos de morte. Aconteceram 33, entre os 815 casos notificados e 298 confirmados da doença. Em
2009, com a introdução do vírus H1N1 no Pará, 1.416 casos foram notificados, 569 confirmados e 11 pessoas morreram. "Até agora todas as notificações foram descartadas, porque o resultado dos exames, realizados no Instituto pelo Instituto Evandro Chagas, em Belém, por meio da secreção respiratória, foram negativos. Caso exista algum caso positivo, vamos tratar de todos os detalhes sobre a doença e evitar com que ocorram novos", disse Ana Ferreira.

Dentre os casos, a DEVS registrou em 2009 na capital do Estado 2.380 casos suspeitos, dos quais 450 foram confirmados e 2 pessoas morreram. Em 2010, foram notificados 1.504 casos, 145 confirmados e tiveram 6 mortes.

Um dos casos suspeitos em março de 2010 foi do estudante do curso de Medicina da Universidade do Estado do Pará, Daniel Menezes de Barros, 22 anos. Ele teve o diagnóstico clínico do H1N1 dias depois de realizar uma atividade acadêmica em um Posto de Saúde Família, em Benevides. "Outros estudantes e eu, acompanhados por docentes, recebíamos pessoas que estavam sob suspeita da doença. Não tinha recebido a vacina porque ainda estava disponível para poucas pessoas. Alguns dias depois, apresentei muita tosse, falta de ar e febre com 38 graus, a qual em apenas uma hora aumentou para 39. Fui parar em um hospital, a Sespa foi acionada e logo me receitaram Tamiflu. Tive que ficar isolado em casa durante sete dias para me recuperar. Ainda tive infecção bacteriana secundária e me curei uns 15 dias depois. Senti medo porque os sintomas eram muito fortes e aconteceu no momento em que ocorriam muitos casos de morte no Estado", contou.

Vacinação não chega a todos os brasileiros

Na última Campanha Nacional de Vacinação contra a Gripe e suas Complicações, prolongada até o último dia 10, o Brasil vacinou somente 24,8 dos 190,7 milhões de habitantes, de acordo com dados divulgados em abril deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística (IBGE). Em 2010, somente 1,21 milhão de pessoas foram imunizadas contra o vírus no Brasil.

Segundo a chefa da Divisão de Vigilância Epidemiológica da Sesma, o Ministério da Saúde não estoca a vacina e a produção é feita a cada ano, para que seja resistente ao vírus. Leila disse que o órgão busca ampliar o atendimento, mas ainda não há previsão de quando atingirá toda a população brasileira. "A vacinação foi destinada aos grupos com maior risco de adoecer e evoluir a óbito, determinados pelo Ministério. A vacinação em outros grupos será efetuada somente a partir do momento em que o governo federal determinar".

Pará - Este ano, o Pará, que conta com cerca de 7,5 milhões de habitantes, vacinou somente 839.562 das 992.977 mil pessoas previstas, ou seja, 84,55%. A percentagem está acima do total estipulado pelo Ministério da Saúde, que era atingir 80% do público alvo da campanha. O melhor resultado foi com relação aos idosos (92%) e trabalhadores da saúde (82%). Entretanto, ainda foram baixos entre as crianças de 6 meses a menores de 2 anos (64%), gestantes (63,4%) e indígenas (64%). Para estes, a vacinação continua a acontecer devido dificuldade de acesso às aldeias.

Belém - Em Belém, entre os dias 25 de abril a 31 de maio, tempo em que durou a campanha, a vacinação de crianças e gestantes ficou abaixo da meta definida pelo órgão federal. Foram vacinados profissionais de saúde (99%), idosos (90%), crianças (63%) e gestantes (52%). Na capital, todas as crianças que tomaram a 1ª dose deverão comparecer às Unidades de Saúde 30 dias depois para tomar a 2ª dose. Ontem, no Dia Nacional de Multivacinação, as Unidades de Saúde também ofereceram a vacina contra gripe às crianças que podiam tomar a 2ª dose.

Campanha prioriza Sul e Sudeste do País

A médica Helena Brígido, infectologista do Hospital Universitário João Barros Barreto (HUJBB), da Universidade Federal do Pará (UFPA), afirma que a vacina não garante 100% porque depende do dia em que a pessoa foi vacinada e o período em que o vírus da gripe chega na região. Ela critica, ainda, a agenda da campanha, que prioriza o Sul e Sudeste do País. "O problema é que as regiões Norte e Nordeste têm a fase de verão e inverno diferente do Sul e Sudeste, mas a agenda de campanha é nacional prioriza o Sudeste e Sul, porque a vacinação acontece depois que as duas primeiras regiões já passaram pelo período chuvoso quando
ocorrem os maiores casos de gripe, ou seja, as pessoas tomam a vacina depois que gripam. Isso tem que mudar".

A campanha de vacinação deste ano, promovida por todo o Sistema Único de Saúde (SUS), incluindo Ministério, Secretarias Estaduais e Municipais, distribuiu 32,7 milhões de doses - ao custo de R$ 229 milhões - para todos os estados e municípios. A vacinação ocorreu em mais de 33 mil postos de todo o país e mobilizou 240 mil profissionais de saúde. A vacina foi tríplice, portanto, protegeu contra os vírus, Influenza B, Influenza A/H3N2 e A/H1N1.

Ano que vem, segundo o secretário de Saúde do Estado, Hélio Franco (foto abaixo), provavelmente, a Sespa repetirá a vacina. "Continuamos ainda com Serviço Sentinela, no Hospital Abelardo Santos, onde retiramos material das pessoas gripadas para estudo e verificamos o tipo de vírus que está circulando para combatermos", ressaltou.

A Sesma afirma também que a vigilância da doença é mantida em cumprimento da Portaria 104, de 25 de janeiro de 2011, do Ministério da Saúde, que busca evitar a ocorrência de surtos e epidemias. "Portanto, o H1N1 está constantemente sob nossa verificação", disse
Leila Flores.

Dentre os tipos de gripe, a Gripe A é a mais complicada

A gripe é uma doença respiratória e infecciosa aguda transmitida por vírus. Conta ainda com manifestações não respiratórias. É uma doença chamada sazonal, ou seja, acontece em alguns períodos do ano. "Há época em que há mais casos. Na região Norte, por exemplo, varia entre novembro e junho, quando as pessoas são mais acometidas, pois ficam mais juntas e em ambientes fechados facilitando a transmissão do vírus, que circula no mundo todo", afirma a médica Helena Brígido (foto ao lado).

Existem três vírus de gripe que causam a doença: A, B e C. A gripe A ou Influenza é mais complicado e conta com diversas variações em partículas. Uma delas é o vírus H1N1, que passou do animal, o porco, para o ser humano, sofrendo mutação genética e ficou muito mais
agressivo que a gripe sazonal. Mas, pondera Helena Brígido, "isso não significa dizer que a sazonal não seja extremamente perigosa, principalmente, para idosos e gestantes porque pode facilitar infecções secundárias, as batcterianas, causando pneumonias graves que podem levar a óbito, daí a necessidade de se tomar a vacina".

Ela conta que não é possível enumerar quantos vírus da Influenza há no mundo. "Em um ambiente em que têm várias pessoas pode haver a gripe por várias Influenza como H1N1, H2N2, entre outros. Além de a gripe ser diferente, o organismo também é. Todos podem ou não manifestar a doença, depende da reação do organismo e da força do vírus, a quantidade que a pessoa respira e qual o vírus que respirou. Então, uma pessoa pode adquirir o mesmo vírus com manifestação diferente ou não manifestá-lo".

Para ajudar a evitar a doença, é importante que a pessoa saiba diferenciar o resfriado da gripe, os quais apresentam sintomas que ainda confundem a cabeça de muita gente. "O resfriado é mais localizado nas vias aéreas superiores: nariz, ouvido e garganta. A pessoa fica com rouquidão, espirra, tem coriza, dor no ouvido, febre não acentuada e pode ficar na cama. Já a gripe, além dessas manifestações, a pessoa sente dor no corpo todo, cansaço fácil, náuseas, diarreia, tudo causado pela infecção viral chamada gripe, causada pela Influenza", esclarece.

Recomendação - O Ministério da Saúde recomenda de que estados e municípios continuem a vacinação até chegar ao percentual de 80% para as populações alvo. Nos locais onde a campanha for adiada, as pessoas podem entrar em contato com a Secretaria de Saúde do seu município ou estado, para saber o endereço e o horário de funcionamento dos postos de vacinação. Esta mesma orientação vale para os pais ou responsáveis por crianças de 6 meses a menores de 2 anos, que precisam tomar a segunda dose da vacina.

Transmissão - É transmitido de pessoa a pessoa, principalmente, por meio da tosse, espirro, fala ou contato com secreções respiratórias de pessoas infectadas através das mãos ou objetos contaminados. Os principais sintomas são febre alta, tosse e falta de ar. A doença tem cura e o tratamento é feito com Tamiflu (oseltamivir), remédio importado e disponível na farmácia popular e no setor de Vigilância Epidemiológica do município. O município paraense que não tiver a medicação pode acionar o Estado, por meio da Sespa.

Medicação - A médica Helena Brígido alerta a população para não fazer automedicação nem estoque de medicamento. Ela orienta que qualquer medicação dever ser recomendada somente com prescrição médica. "Não se pode utilizar medicação que contenha o Ácido Acetilsalicílico (AAS). O AAS pode causar doenças que levam à alteração na coagulação do sangue piorando o quadro de saúde. Tivemos casos da Gripe A em que as pessoas, pelo costume no uso, consumiam o AAS. Muitos pioraram, foram internadas e algumas até morreram. O AAS não pode ser usado em casos que envolvem vírus. Hoje somente o prescrevemos nos casos cardiovasculares em que não envolvem infecções, pois estas podem ser causadas por vírus", alerta. Em qualquer sintoma, lembra, é preciso procurar atendimento médico.

Contraindicação - A vacinação contra gripe é contraindicada para pessoas com histórico de reação anafilática ou alergia ao ovo de galinha e derivados. Às pessoas com alergias a componentes da vacina e com reações graves a doses anteriores a vacina também não é aconselhável. A indicação do Ministério da Saúde é que as pessoas que estiverem com doenças agudas febris moderadas ou graves adiem a vacina. Quem apresenta deficiência na produção de anticorpos, seja por problemas genéticos, imunodeficiência ou terapia imunossupressora, devem consultar o médico primeiro.

Diagnóstico - Não são todas as situações que o médico emite o diagnóstico da doença, feito pela coleta da mucosa do nariz e garganta, pois o profissional pode verificar que o quadro do paciente exige conduta: medicação para os sintomas, hidratação, raio-x do tórax, escuta do pulmão e retorno ao atendimento, caso haja alteração. "Dentre os casos graves ocorridos, óbitos ou não, ou as pessoas procuraram atendimento tardiamente ou procuraram logo e não obtiveram o diagnóstico. É preciso ter atenção redobrada com todos os pacientes, porque cada organismo é um. Quando a pessoa procurar o atendimento com quadro mais sério, há grandes chances de o pulmão estar com a Síndrome da Angústia Respiratória Aguda (Sara), aí já existe a contaminação secundária e é muito difícil retirar o paciente desse quadro, porque há infecção do vírus e bactéria", considera Helena.

Quem ainda pode ser vacinado
No Pará: Indígenas
A vacinação é feita na aldeia.
Em Belém: Todas as crianças que tomaram a 1ª dose devem comparecer às Unidades
de Saúde 30 dias depois para tomar a 2ª dose.

Cuidados:

Para evitar que a pessoa seja infectada, além da vacinação anual, Adotar alguns hábitos de higiene também previne a gripe:

- Cobrir a boca ao tossir e lavar as mãos com frequência;
- Evitar contato muito próximo com pessoas doentes e mantenha distância dos outros caso a pessoa infectada seja você;
- Ficar em casa se estiver doente. Assim você estará ajudando a não disseminar a doença;
- Cobrir a boca e seu nariz sempre que tossir ou assuar o nariz;
- Lavar as mãos, sempre, para prevenir contato com germes;
- Evitar encostar em seus olhos, seu nariz ou sua boca com as mãos sujas, para não que não sirvam de porta de entrada para os vírus;
- Ter outros bons hábitos, como dormir bem, fazer atividade física, controlar o estresse, beber líquidos e ingerir alimentos saudáveis;
- Manter ambientes abertos para entrar sol e vento, pelo menos em determinados momentos, para evitar com que vírus e bactérias permaneçam no meio ambiente.

Se sentir algum dos sintomas, procure imediatamente o serviço de saúde, seja público ou privado.

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