Mídia
A edição de quarta-feira (14/7) do Jornal do Brasil traz um comunicado informando sobre o fim da publicação impressa. A partir de 1º de setembro, o jornal terá apenas a edição online, cuja assinatura será de R$ 9,90 por mês. A primeira edição impressa do JB foi publicada em 1891. O comunicado de página dupla foi publicado nas páginas 8 e 9 e justifica que a mudança é “coerente com a tradição de pioneirismo e modernidade”. E, por isso, “coloca-se mais uma vez à frente de seu tempo” ao fazer a mudança. Segundo o texto, os leitores apoiaram a mudança.
De acordo com o jornal Folha de S.Paulo, o fim do JB impresso abalou o comando da empresa. O presidente do jornal, Pedro Grossi Jr., discordou da decisão e não apareceu na redação na última terça-feira, apesar de o empresário Nelson Tanure, arrendatário da marca JB, negar que o tenha demitido. O jornal vem de longa crise financeira, agravada por passivos fiscais e trabalhistas herdados dos antigos gestores, mas o comunicado de Tanure tenta desvincular a modificação da situação de crise.
Conforme a Folha, a migração vai provocar corte de pessoal. O JB tem 180 funcionários. São 60 na redação. A família Nascimento Britto, dona da marca e antiga proprietária do jornal, disse não ter informação sobre o projeto de Tanure.
O JB tinha uma circulação diária de 76 mil exemplares quando passou para Tanure, em 2001. Em 2003, iniciou um caminho de recuperação, chegando a 100 mil exemplares em 2007, para novamente entrar em rota de queda. Em março deste ano, quando a circulação estava em 20.941 exemplares, Tanure contratou Pedro Grossi Jr. para administrar o jornal.
Já circulava a informação de que Tanure iria acabar com o jornal impresso. No último dia 28, o empresário confirmou a intenção a Pedro Grossi, que começou a articular um meio de manter o jornal impresso. Estudou-se transferir o contrato para outra empresa, blindada contra as ações trabalhistas e fiscais remanescentes. O negócio foi desaconselhado porque a Justiça tem considerado que os novos donos são sucessores na dívida.
O fim do JB impresso será também o fim da experiência de Tanure como empresário de mídia. Ele disse à Folha que não quer mais atuar nesse setor e que vai se concentrar em telecomunicações. Ele tem 5,15% da TIM Participações (subsidiária da Telecom Italia, que atua em telefonia celular, telefonia fixa local e de longa distância).
Foi o melhor jornal
O jornalista Ricardo Kotscho, em seu blog no IG, publicou um texto lembrando do tempo em que trabalhou no jornal, inclusive como correspondente na Europa. Entre tantos pontos, Kotscho lembra que não havia limites de gastos para a produção de uma boa reportagem. “O grande sonho de todo jornalista era trabalhar lá um dia”, diz. Kotscho, que tem mais de 50 anos de carreira e já passou por diversos jornais e chefiou o setor de Imprensa no primeiro ano do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, afirma que o mais fascinante do JB era o ameno ambiente de trabalho e a absoluta independência editorial.
“Já foi, e por muito tempo, o melhor jornal do país. Já foi, e por várias vezes, o mais inovador jornal do país. Já foi, durante muitos anos, o exemplo maior do jornalismo, aquele jornal com o qual todos gostariam de se comparar. Já foi”. Foi essas palavras que o jornalista Carlos Brickmann deu início a seu texto sobre os, até então, rumores do fim da edição impressa do JB publicado no Observatório da Imprensa, no último dia 6.
No texto, o jornalista fala dos principais nomes que já dirigiram a publicação, como Odylo Costa Filho, Janio de Freitas, Alberto Dines e mais uma lista de profissionais que são referência quando o assunto é imprensa escrita. “A esplêndida equipe do JB fez um jornal tão carioca que se transformou na voz de todo o Brasil”, diz.
Ruy Castro, em sua coluna na Folha de S.Paulo, desta quarta-feira, também fala sobre o assunto. O jornalista e escritor lembra que, em 1959, a publicação era conhecida basicamente por causa dos classificados. “E, então, sem aviso nem fanfarra, na manhã de 2 de junho, diante de um quase irreconhecível Jornal do Brasil nas bancas, todos os outros jornais é que pareceram caóticos, feios e ultrapassados. Ele ficara limpo, elegante e moderno, com os títulos parangonados, os textos e fotos dispostos geometricamente, as colunas separadas por espaços, e não fios. Mas o principal seria sua reforma jornalística, capitaneada pelo jovem Janio de Freitas, depois continuada por seus sucessores”, conta Castro.
Mais adiante, o jornalista lembra de quando o JB começou a entrar em crise, no início dos anos 1990. “Uma sucessão de erros administrativos, financeiros e editoriais começou a destruir o jornal. Chega agora ao fim, aos 119 anos, com a decisão de limitar-se à versão internet. Parece incrível, acordar e não ter o JB de papel para folhear”, termina Ruy Castro.
O Observatório da Imprensa debate hoje o triste fim do importante Jornal do Brasil. Sem dúvida alguma quem perde com isso somos nós cidadãos brasileiro, porque diminuem as opções de diferente debates e opiniões que devem ser travados na imprensa, proporcionando ao cidadão a liberdade de fazer sua própria reflexão. Lamento muito mesmo pelo fim do jornal.Adoraria que antes disso eu tivesse a chance de passar por essa redação, onde muitos jornalistas viveram até de forma romântica a profissão - o que hoje está meio distante da realidade.
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