Arte, Cultura, Cidadania, Memória, Mídia, Meio Ambiente e Política. Este é um espaço aberto para postagem de reportagens, notas, comentários. Anseio que este blog ajude a democratizar a informação e fomentar o livre debate de opiniões e ideias nessas diversas áreas.
Acostumados com o clichê preconceituoso que acredita não haver vida inteligente fora do eixo Rio-São Paulo, nos surpreendemos quando encontramos alguma atividade cultural em cidades do chamado "interior" — o "centro" somos nós, claro. Por exemplo: onde é possível reunir cerca de 650 mil pessoas, um terço dos moradores, para tratar de um assunto meio fora de moda, a leitura? Pois acabo de ver o fenômeno em Belém, na XIV Feira Pan-Amazônica do Livro, um dos três principais eventos do gênero no Brasil, este ano dedicada à África de fala portuguesa. Houve shows com Gilberto Gil, Lenine, Emílio Santiago, Luiza Possi, mas o destaque foram os R$30 milhões faturados com a venda de 500 mil volumes, superando, segundo os organizadores, a Bienal do Rio.
Há cidades brasileiras que só vendo. A capital do Pará é uma delas. Além de ser uma das mais hospitaleiras do país, gosta de seu passado e é hoje um exemplo de como revitalizá-lo. Já escrevi e repito que a intervenção que o arquiteto Paulo Chaves fez no cais da cidade, transformando armazéns e galpões na monumental Estação das Docas, é uma obra que não deve nada à que foi realizada em Barcelona ou Nova York (o prefeito Eduardo Paes devia ir lá ver). Outro genial exemplo de reaproveitamento é o centro onde se realiza a Feira, o Hangar, um gigantesco espaço que antes, como diz o nome, servia de estacionamento para aviões.
E não fica nisso. Há roteiros culturais como o do núcleo Feliz Lusitânia e seu Museu de Arte Sacra, onde se encontram uma Pietá toda em madeira, o São Sebastião de cabelos ondulados e a famosa N. S. do Leite, com o seio esquerdo à mostra dando de mamar. Sem falar nos museus do Encontro e de Gemas do Pará, e numa ida a Icoaraci para ver as cerâmicas marajoaras, tapajônica e rupestre.
Para quem gosta de experiências antropológicas, recomenda-se — além dos 48 sabores regionais, a maioria, do sorvete Cairu — uma manhã no mercado Ver-o-Peso, onde me delicio nas barracas de banhos de cheiro lendo os rótulos: "Pega não me larga", "Amansa corno", "Afasta espírito", "Chora nos meus pés". Com destaque para o patchuli, que a vendedora me diz ser o odor de Belém. Mas antes deve-se passar pela área dos peixes: douradas, sardas, tucunarés, enchovas, piranhas, tará-açus. "Esse aqui é o piramutaba", vai me mostrando o nosso guia, o cronista Denis Cavalcanti; "aquele é o mapará, olha o tamanho desse filhote".
Desta vez, o ponto alto da visita foi uma respeitável velhinha fazendo o comercial do Viagra Amazônico para mim e o Luis Fernando Verissimo: "O sr. dá três sem tirar, e depois ainda toca uma punhetinha". Isso com a cara mais séria do mundo, sem qualquer malícia, como se estivesse receitando um remédio pra dor de cabeça. Só vendo.
Candidatos corruptos, barrados das eleições de outubro, estão apelando para o Supremo Tribunal Federal (STF) questionando a “constitucionalidade” da lei. Se eles ganharem todos os candidatos corruptos que conseguimos banir, serão liberados para disputar as eleições de outubro.
O STF está dividido, alguns juízes defendem a aplicação imediata da Ficha Limpa, mas os outros estão dizendo que a lei só deverá valer para 2012. Eles irão julgar a constitucionalidade da Ficha Limpa a qualquer momento. Nós precisamos agir rápido e deixar claro para os juízes do STF que a sociedade civil brasileira lutou arduamente para passar a Ficha Limpa e queremos que ela seja válida para as eleições de outubro!
Graças à Ficha Limpa, mais de 242 candidatos notoriamente corruptos foram barrados das eleições de outubro. Esta lei simboliza uma melhoria imensa na qualidade dos nossos governantes. Porém, em uma medida desesperada para permanecer no poder, os candidatos banidos estão recorrendo ao STF para julgar a Ficha Limpa inconstitucional, a fim de concorrer nas eleições de outubro.
A Ficha Limpa é uma das leis mais democráticas do país, sendo introduzida e aprovada por um esforço da sociedade civil brasileira sem precedentes. Ela se tornou um símbolo de esperança por um governo livre da corrupção. Percorremos um longo caminho pressionando o Congresso, com telefonemas, e-mails e mobilização popular, agora precisamos nos certificar que o STF irá defender a vontade dos brasileiros e não dos corruptos.
O câncer do colo do útero ou cervical é uma doença que pode ser prevenida. Mas, no Pará, ela ainda é a primeira causa da neoplasia (tumores) nos casos que atingem mães, irmãs, esposas, filhas e avós, perdendo somente para o câncer de mama, que mais mata as mulheres no Brasil, principalmente nas regiões Sul e Sudeste, de acordo com dados do Instituto Nacional de Câncer (Inca), órgão do Ministério de Saúde voltado às ações nacionais integradas para o controle e prevenção da neoplasia.
Para este ano, os casos de câncer do colo do útero ainda são preocupantes. Estudos do Inca apontam, também, que são esperados no mundo 500 mil novos casos, dos quais 18 mil serão no Brasil. Para o País, a estimativa mostra que ocorrerão 18 casos em cada 100 mil mulheres e o Pará está acima da estimativa nacional com 23 casos para cada 100 mil mulheres. Até a região em que o Estado está inserido ganha destaque alarmante da doença: no Norte são esperados 26 casos para cada 100 mil mulheres, seguido do Sul (21 casos), Centro-Oeste (20), Nordeste (18) e Sudeste (16).
O câncer do colo do útero atinge principalmente mulheres com faixa etária de vida entre 40 e 49 anos, mas há incidência da doença a partir dos 20. Na maioria das vezes ela não apresenta sintomas, mas, quando já está avançada, a pessoa apresenta corrimento, infecção genital, sangramento nas relações sexuais, sangramento genital e dor pélvica. A doença apresenta quatro estágios e, se for descoberta no primeiro deles, as chances de a pessoa sobreviver chega a mais de 80% dos casos; no segundo, 60%; no terceiro, 30%; e no quarto há apenas 12% de chances de sobrevida.
Diante dessa realidade, o médico cirurgião Celso Fukuda, que atua no Hospital Ofir Loyola - voltado 100% ao Sistema Único de Saúde (SUS) e referência no Pará em casos de câncer invasor - destaca que o principal problema está relacionado à falta de informação e ao acesso da população ao sistema básico de saúde, na medida em que as políticas públicas ainda não chegaram às mulheres, pois ainda há muitas delas que nunca fizeram prevenção e tratamento da doença, principalmente no interior do Estado. "O Pará não deveria estar nesse estágio da doença, perante uma situação que pode ser prevenida quando o diagnóstico é dado de forma precoce. Uma das justificativas para isso é que as políticas públicas em saúde são insuficientes, pois ainda não conseguiu garantir o acesso da população ao tratamento da doença pré-invasora, verificada através do exame preventivo", acredita.
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 05/09/2010. Clique aqui e leia a notícia completa.
Nesta quarta, dia 15, será lançado em Belém (PA) um vídeo em duas partes de quatro minutos e com animação 3-D, que apresenta de forma clara e didática os impactos sociais, ambientais e econômicos da hidrelétrica de Belo Monte no Rio Xingu. O vídeo foi produzido pelo Movimento Xingu Vivo para Sempre (MXVS).
Intitulado Defendendo os Rios da Amazônia, o projeto faz parte de uma campanha nacional e internacional coordenada pelo MXVS, coalizão de organizações sociais e ONGs em defesa do Rio Xingu e contra a construção da hidrelétrica de Belo Monte. Segundo os coordenadores do movimento, o vídeo alerta a sociedade brasileira para o processo atropelado, leviano, desrespeitoso e ilegal de planejamento e licenciamento do empreendimento pelo governo federal.
Narrado pela atriz paraense Dira Paes, conhecida como uma das principais vozes em defesa dos direitos humanos e do meio ambiente em seu estado, Defendendo os Rios da Amazônia mostra de modo realista os impactos previstos da hidrelétrica de Belo Monte, como o alagamento de parte de Altamira e a seca de um trecho de cerca de 100 km de rio, afetando populações indígenas, ribeirinhos e agricultores familiares.
O vídeo também apresenta os impactos de Belo Monte sobre a rica biodiversidade de animais e peixes da região, e como os reservatórios do projeto poderiam se tornar um grande criadouro de mosquitos transmissores da malária. Além disso, o vídeo demonstra que os reservatórios produziriam uma grande quantidade de metano, um dos mais potentes gases de efeito estufa que contribuem para as mudanças climáticas.
Procuradoria da República no Pará Assessoria de Comunicação
Atendimento à imprensa: Helena Palmquist e Murilo Hildebrand Abreu Fones: (91) 3299.0148 / (91) 8403.9943 / (91) 9999.8189 / (91) 8212.9526
"As Filhas da Chiquita", conhecida por muitas pessoas como "Festa da Chiquita", vai completar 32 anos no próximo dia 9. Este ano a festa traz como temática "As Divas" em homenagem à Mara Rúbia, vedete paraense, que nasceu na ilha do Marajó e consagrou-se no teatro de revista durante os anos 1940 e 50. A festa, que já reuniu cerca de 40 mil pessoas em 2006, entre gays, lésbicas, artistas e simpatizantes, promete se manter como ícone na época do Círio de Nazaré e os preparativos estão a todo vapor. "Corremos atrás de apoio para realizarmos a festa. O importante é garantirmos a montagem do som, luz e palco. A participação de personalidades é algo que poderá surpreender a todos. Muita coisa dependerá da força que vamos receber. Queremos atrair o máximo número de pessoas para o evento", afirma Eloy Iglesias, coordenador e produtor do evento.
Durante a "Festa da Chiquita" o público conversa e dança ao som de ritmos regionais e estrangeiros. A tradicional participação do Borboletas do Mar, grupo de carimbó de Marapanim, nordeste do Pará, já está confirmada, bem como a distribuição de prêmios.
"As Filhas da Chiquita" conta sempre com a participação de drag queens, as quais desfilam pela Praça da República, com seus mais belos figurinos e se juntam, no Bar do Parque, que serve de camarote vip para grandes personalidades artísticas e autoridades políticas.
O momento mais esperado da festa é a coroação do "Veado de Ouro", prêmio dado geralmente a alguém que se destaca no meio artístico. Este ano o homenageado será André Lima, estilista internacional. Na festa também é coroada a "Rainha do Círio". Geralmente esse prêmio é dado a uma prostituta ou mesmo ao homossexual mais elegante, alegre e expressivo do ano.
A festa "As Filhas da Chiquita" acontece sempre no sábado, véspera da procissão do Círio, depois que passa a Trasladação - que leva a imagem de Nossa Senhora de Nazaré à Igreja da Sé, na Cidade Velha -, na rua da Paz, ao lado do Theatro da Paz. Por isso, ela é considerada o lado profano da procissão, organizada por travestis que frequentam o complexo da Praça da República. "Ela é um ícone da luta contra à Ditadura Militar e da fobia e a favor dos direitos humanos. Ela faz parte da cultura popular, que tem sempre uma forma de resistência - sobrevivente pela sua maneira de se mostrar presente na vida e pela sua capacidade de criar, refletir e incorporar novos signos e formas de expressão", ressalta Eloy.
Tombamento - Embora o público que participa do evento seja visto por algumas pessoas da sociedade de forma dissidente, em 2004, o Instituto de Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) incluiu a Festa da Chiquita no processo de tombamento do Círio como patrimônio imaterial da humanidade, devido à programação profana estar inevitavelmente atrelada ao evento religioso. Ela teve destaque também em nível nacional ao ser retratada no filme "As Filhas da Chiquita", da cineasta Priscila Brasil, em 2006. É ainda mais antiga que as Paradas Gays.
Matéria publicada no jornal Amazônia, dia 10/09/2010.
Exibição de filmes, seguida de debate, sobre os projetos hidrelétricos na Amazônia, no âmbito do II Encontro da Sociedade Brasileira de Sociologia na Região Norte.
Lançamento: Defendendo os rios da Amazônia versão em português, com voz de Dira Paes, de Defending the Rivers of the Amazon, originalmente gravado com voz de Sigourney Weaver, 10:40 min, 2010. Xingu porque não queremos Belo Monte, 18 minutos, Fase e Olhear Eletromatto, 2010.
Filmes: O rio Madeira a vida antes das barragens, 27 min RO/2009 A era do ouro Andressa Rocha, 13 min, RJ, 2008.
Debatedores: Professores Rosa Acevedo (UFPA), Nirvea Ravena(UFPA), Sonia Magalhães (UFPA), Antonio Carlos Witkoski (UFAM) e Antonia Mello (Movimento Xingu Vivo para Sempre).
Local: Centro de Convenções da UFPA Dia: 15 de setembro, quarta feira, às 18h20.
Belém é o 31º lugar do mundo e a única cidade do Brasil a fazer da Rede de Museus de Mulheres, que já conta com sedes em continentes da África, Ásia, Europa e Oceania. A fundação do primeiro Museu das Mulheres Brasileiras aconteceu, ontem à tarde, com a aprovação do estatuto e eleição da diretoria, feito por 20 mulheres que militam no movimento social voltado à causa, no prédio do Arquivo Público do Pará, no Comércio.
Segundo Lene Pamplona, idealizadora do projeto e eleita como diretora do museu, o objetivo é discutir as questões de gênero, contribuir para uma sociedade igualitária, organizar exposições e atividades educativas. Lene, que mora há 20 anos na Alemanha e integra o Museu das Mulheres daquele país, destaca as principais propostas apresentadas ao novo espaço: realização de exposição de artistas brasileiros e internacionais combinando temas históricos, sociais e políticos na arte contemporânea, com promoção de debates e palestras; criação no museu de um atelier padagógico para crianças e jovens; criação de um arquivo de consulta para resgatar a história da mulher brasileira e sua contribuição na sociedade, trabalhando com arquivos nacionais e internacionais; criação de um núcleo de literatura feminina; promover escritoras através de premiações e publicações, criando uma biblioteca para dar acesso a mulheres e homens de baixa renda à literatura feminina; e cursos de apoio e profissionalização da mulher como também para seu desenvolvimento político e artístico como também da história da mulher.
Depois da fundação, Lene Pamplona ressalta que começa a busca espaço e apoio de instituições financeiras, e elaboração de projetos. Para isso, deseja contar, ainda, com apoio de artistas. "Esperamos que o nosso projeto receba o apoio e atenção que merece. Vamos convidar também os artistas para nos ajudar na mobilização para garantir o espaço físico e colocar em prática até 2011. Essa iniciativa trará diversos benefícios à população. O museu estará aberto aos homens, seguindo o objetivo do estatuto, para assim criarmos uma sociedade igualitária, com responsabilidade conjunta na educação das novas gerações, na educação de uma consciência socioecológica responsável e sem violência", deseja.
A onda de museus das mulheres se deu nos anos 80. O primeiro foi fundado em Bonn, na Alemanha, em 1981. Um ano depois na Dinamarca. Em 1984, o museu das mulheres de Wiesbade; 1986, “Museu Oculto” em Berlim, seguido da Itália, Bélgica, Noruega e Suécia. A rede de Museus de Mulheres no mundo tem sedes na África do sul, Albânia, Alemanha, Argentina, Áustria, Austrália, Bélgica, China, Coréia do Sul, Costa Rica, Costa do Marfim, Dinamarca, Espanha, Estados Unidos, França, Sudão, Suécia, Suíça, Gâmbia, Holanda, Irã, Itália, México, Noruega, Peru, República da África Central, Senegal, Ucrânia, Vietnã e Vietnã do Sul.
Texto publicado no jornal Amazônia e O Liberal, de 26/08/2010.
Questões jurídicas e mobilizações políticas foram foco do I Encontro dos 4 Rios – Seminário sobre os projetos de hidrelétricas, eclusas e hidrovias nos rios Tapajós, Madeira, Xingu e Teles Pires.
Em encontro realizado em Itaituba, sudoeste do Pará, entre os dias 25 e 27 de agosto, cerca de 600 lideranças de ribeirinhos, pequenos agricultores, atingidos por barragens e indígenas (Munduruku, Karitiana, Tupaiu, Borari, Arara, Kanoé, Juruna, Xicrin e Kayapó), das áreas de influência e impacto dos projetos hidrelétricos dos rios Madeira, em Rondônia (Santo Antonio e Jirau), Teles Pires, no Mato Grosso (Complexo Teles Pires, com 5 usinas), Tapajós, no Pará (Complexo Hidrelétrico do Tapajós, com 5 usinas) e Xingu, no Pará (hidrelétrica de Belo Monte) consolidaram uma articulação interestadual de oposição e resistência contra as obras em andamento e sob planejamento nos rios da Amazônia.
Durante o encontro, que contou com a presença do procurador do Ministério Público Federal (MPF) do Pará, Felício Pontes, e de especialistas de várias áreas de relevância (biólogos, cientistas sociais, antropólogos e advogados), foram relatados os graves impactos sociais que já ocorrem em Rondônia e apontadas as inúmeras ilegalidades que marcaram os processos de licenciamento e instalação dos projetos do Madeira e de Belo Monte.
Em contundentes depoimentos, representantes dos atingidos pelas obras de Santo Antonio e Jirau descreveram a situação de miséria da população e problemas como aumentos vertiginosos nos preços dos alimentos, violência, prostituição, drogas e outros. “Em Porto Velho, o quilo da farinha de mandioca chega a custar R$ 8. O peixe está vindo de Manaus. Muitas famílias de Jaci Paraná estão apavoradas, trancando suas filhas em casa, por medo de estupros e dos aliciadores. Conheci um velho pescador que teve que internar o seu filho, viciado em crack. Em Jaci, as únicas formas de lazer para os trabalhadores das obras são bebida, prostituição e drogas. Na cidade, também já foram assassinadas duas lideranças sociais, e uma terceira teve que fugir”, conta Iremar Ferreira, liderança local.
Já de acordo com Felício Pontes, há nove Ações Civis Públicas do MPF que ainda tramitam na Justiça contra Belo Monte, englobando o período de 2001 a 2010, e abordando irregularidades como:
- licenciamento estadual para rio federal e empreendimento em terra indígena
- O Congresso não autorizou o empreendimento, como exige a Constituição no artigo 231
- Decreto Legislativo 788, de tramitação ultra-rápida – menos de 15 dias – no Congresso Nacional.
- Índios afetados não foram ouvidos
- Estudos de Impacto são iniciados sem o Termo de Referência obrigatório.
- As três maiores empreiteiras do país foram beneficiadas pela Eletrobrás com informações privilegiadas sobre o empreendimento. O convênio previa até cláusula de confidencialidade
- IBAMA aceitou EIA-RIMA com documentos faltando
- ACP por improbidade contra servidor do Ibama que assinou o aceite do EIA-RIMA incompleto
- Apesar de serem 11 os municípios diretamente afetados pela obra, apenas quatro audiências públicas foram feitas
- Ação civil pública para suspender a licença prévia e o leilão até que seja regulamentado o aproveitamento de recursos hídricos em Terras Indígenas, conforme artigo 176 da Constituição Federal
- Irregularidades graves na licença prévia: Não foram levadas em consideração as análises apresentadas durante as audiências públicas
Outras 13 ACPs tramitam contra as usinas do Rio Madeira.
O encontro também promoveu um ato de repúdio e revolta contra a violência, o descaso com a legislação, e a completa ignorância, por parte do governo, da oposição massiva das organizações da Bacia do Xingu contra Belo Monte, manifestos pelo ato da assinatura do contrato de concessão do empreendimento com o Consórcio Norte Energia nesta quinta, 26, no Palácio do Planalto.
Apesar de estarem em estágios diferentes, os projetos das usinas de Belo Monte, Complexo Tapajós e Complexo Teles Pires apresentam problemas similares, avaliaram juristas e lideranças sociais.
A recém criada articulação de resistência às usinas nos quatro rios prevê uma série de ações conjuntas, como reprodução das análises jurídicas já existentes e de ações contra os projetos, mobilizações sociais conjuntas em novembro deste ano, socialização das campanhas públicas e de comunicação contra as hidrelétricas – a nível nacional e internacional – e intercâmbio permanente entre os Movimentos Xingu Vivo para Sempre, Tapajós Vivo, Rio Madeira Vivo e em Defesa do Teles Pires.
O encontro também produziu uma Representação ao Ministério Público Federal, assinada por todos os presentes, contra novas ilegalidades cometidas pelo Consórcio Norte Energia.
Leiam, abaixo, o documento final do evento
Carta dos 4 Rios
Nós, povos indígenas, negros e quilombolas, mulheres, homens, jovens de comunidades rurais e urbanas da Amazônia brasileira, participantes do I Encontro dos Povos e Comunidades Atingidas e Ameaçadas por Grandes Projetos de Infra-Estrutura, nas bacias dos rios da Amazônia: Madeira, Tapajós, Teles Pires e Xingu, em Itaituba, oeste do Pará, entre os dias 25 e 27 de agosto de 2010, vimos através desta carta denunciar a todas as pessoas que defendem a Vida que:
Historicamente no Brasil todos os grandes projetos de infra-estrutura sempre trouxeram destruição e morte aos modos de vida dos seus povos originários e populações tradicionais em benefício de grandes grupos econômicos. A construção de hidrelétricas como a de Tucuruí, no Pará, Samuel em Rondônia, Estreito no Tocantins e Balbina no Amazonas são exemplos claros dos males que esse modelo de desenvolvimento produz.
As ameaças que vem sofrendo as populações dos rios Madeira, Tapajós, Teles Pires e Xingu também são motivos de nossas preocupações, ocasionadas pelos falsos discursos de progresso, desenvolvimento, geração de emprego e melhoria da qualidade de vida, vendidos pelos governos e consórcios das empresas em uma clara demonstração do uso da demagogia em detrimento da informação verdadeira, negada em todo o processo de licenciamento e implantação dos empreendimentos, a exemplo do que vem ocorrendo no rio Madeira, onde a construção dos complexos hidrelétricos de Santo Antonio e Jirau já expulsou mais de três mil famílias ribeirinhas de suas terras, expondo-as a marginalidade, prostituição infanto-juvenil, tráfico e consumo de drogas, altos índices de doenças sexualmente transmissíveis e assassinatos de lideranças que denunciam a grilagem de terra por grandes latifundiários, estes os “grandes frutos” desse modelo de desenvolvimento.
Condenamos o autoritarismo que seguidos governos militares e civis utilizaram e ainda utilizam contra as populações vulneráveis como o uso da força, expulsão da terra, da criminalização dos movimentos sociais, da ameaça física, da cooptação de lideranças e a completa exclusão das suas opiniões dos chamados processos de licenciamentos.
Condenamos a privatização de nossos recursos naturais, que provocam insegurança e degradação de povos, culturas e sabedorias milenares, das nossas florestas, dos nossos rios e da nossa sociobiodiversidade.
Condenamos também os grandes empreendimentos por significarem acúmulo de capital, concentração de terras e de poder político sobre nossas vidas.
Defendemos:
Que a aliança dos Povos e Comunidades da Pacha Mama, da Pan-Amazônia se fortaleça a cada passo dado rumo à construção de um novo mundo possível.
O “bem viver” como princípio de vida em contra-ponto à lógica da acumulação, da competição, do individualismo, da superexploração dos trabalhadores e trabalhadoras e dos nossos recursos naturais;
Um projeto de integração de nossos povos, com respeito à sociobiodiversidade e aos nossos modos tradicionais de produção que geram qualidade de vida e segurança alimentar;
Queremos nossos Rios Vivos e Livres, por isso exigimos:
A suspensão total e imediata da construção de barragens em nossos rios;
Que sejam acatados os estudos de diversos especialistas que propõem a repotenciação das UHEs mais antigas;
Investimentos imediatos na melhoria da qualidade das linhas de transmissão de energia;
Que o Plano Decenal de Expansão Energética aumente a percentagem de investimentos em pesquisas e implementação de fontes de energias verdadeiramente limpas e renováveis.
VIVA A ALIANÇA DOS POVOS DOS RIOS E DAS FLORESTAS!
Itaituba, PA, Pan Amazônia, 27 de agosto de 2010.
Assinam esta Carta:
Aliança Tapajós Vivo; Movimento Xingu Vivo para Sempre; Movimento Rio Madeira Vivo; Movimento Teles Pires Vivo; Movimento dos Atingidos por Barragens; Coordenação das Organizações Indígenas da Amazônia Brasileira; Fórum da Amazônia Oriental; Fórum da Amazônia Ocidental; Fórum Social Pan-Amazônico; Frente de Defesa da Amazônia; Comitê Metropolitano do Movimento Xingu Vivo para Sempre; Prelazia do Xingu; Instituto Universidade Popular; FASE-Amazônia; International Rivers; Associação Etno-Ambiental Kanindé; Instituto Madeira Vivo; Coordenação da União das Nações e Povos Indígenas de Rondônia, noroeste do Mato Grosso e sul do Amazonas; Rede Brasileira de Justiça Ambiental; União dos Estudantes de Ensino Superior de Santarém; Movimento em Defesa da Vida e Cultura do Rio Arapiuns; Terra de Direitos; Fundo Mundial para a Natureza; Fundo DEMA; Instituto Amazônia Solidária e Sustentável; Centro de Apoio Sócio Ambiental; Comitê Dorothy; Comissão Pastoral da Terra; Conselho Indigenista Missionário; Conselho Indígena Tapajós-Arapiuns; Grupo de Defesa da Amazônia; Federação das Associações dos Moradores e organizações Comunitários de Santarém, Federação das Organizações Quilombolas de Santarém;União de Entidades Comunitárias de Santarém; Sociedade Paraense de Direitos Humanos; Vivalt Internacional Brasil; Comissão Verbita Jupic – Justiça, Paz e Integridade da Criação; MMCC – Pará – Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade do Pará; Fórum dos Movimentos Sociais da BR 163; MMTACC – Movimento de Mulheres de Altamira Campos e Cidade; Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade Regional BR- 163 – Pará; Movimento de Mulheres do Campo e da Cidade – Regional Transamazônica Xingu; SOCALIFRA; Nova Cartografia Social da Amazônia; Grupo de Trabalho Amazônico Regional Transamazônico Xingu;Associação do Povo Indígena Juruna do Xingu – Km 17; Associação de Resistência Indígena Arara do Maia; Coordenação das Associações de Remanescentes de Quilombos do estado do Pará – MALUNGU; Sindicato dos Trabalhadores e Trabalhadoras Rurais de Santarém; Reserva Extrativista Tapajós-Arapiuns; Movimento Juruti em Ação; Fórum de Mulheres da Amazônia Paraense; Grupo de Mulheres Brasileiras; Articulação de Mulheres Brasileiras; Comissão em Defesa do Xingú; Associação dos Produtores Rurais da Volta Grande do Xingu; Aliança Francisclareana; Associação indígena Kerepo; Fórum dos Movimentos Sociais; Associação Indígena Pusurú; Conselho indígena Munduruku do Alto Tapajós; Associação Suíço-Brasileira Batista de Apoio na Amazônia (Missão Batista); Associação Indígena Pahyhy’p.
Texto: Marquinho Mota, assessor de comunicação do FAOR.