Edição: Ana Danin
Realidade carioca é diferente, mas medo é semelhante no Pará
A retomada do Complexo do Alemão, na zona norte do Rio de Janeiro, em ação conjunta das polícias e das Forças Armadas, iniciada no último dia 28, ainda é tema frequente das conversas entre muitos brasileiros, que anseiam em viver bem e querem maior efetividade do Estado no combate às drogas e ao crime organizado. O domínio do tráfico que havia nos morros cariocas - e ainda se mantém em algumas favelas - impõe um medo que não está tão distante do sentido por muitos beleneneses, em especial os que moram na periferia da cidade, porque a capital paraense também está inserida nas redes criminosas e, nos últimos anos, o tráfico de drogas tem aumentado, o que justifica boa parte dos casos de homicídios que acontecem por meio de acertos de contas em bairros como a Cabanagem, Terra Firme, Guamá, entre outros. 'Essa inserção não é um fenômeno fechado e os homicídios podem ser justificados na medida em que há uma estratégia de controle desses bairros pelo tráfico de drogas, não é um controle efetivo dos bairros, mas existe o controle do comércio da droga em si, o que justificam os homicídios', afirma o mestre em planejamento do desenvolvimento Aiala Colares, que elaborou tese de dissertação intitulada 'Narcotráfico na Metrópole: das redes ilegais à ‘territorialização perversa’ na periferia de Belém', apresentada este ano no Programa de Pósgraduação em Planejamento do Desenvolvimento, do Núcleo de Altos Estudos Amazônicos, da Universidade Federal do Pará (UFPA).
No estudo, Aiala apresenta a expansão do crime organizado em escala global, sobretudo, atrelado ao narcotráfico, que vem contribuindo nos últimos anos para que a Amazônia seja inserida na lógica de organização das redes ilegais. Assim, a sua localização geográfica juntos aos principais produtores de cocaína (Colômbia, Peru e Bolívia, maiores produtores do planeta) e, ao mesmo tempo, a sua proximidade em relação aos mercados da Europa e EUA despertam o interesse da economia do tráfico de drogas. Por outro lado, a droga que atravessa a Amazônia, segundo ele, também abastece os mercados locais de suas metrópoles, a exemplo de Belém, onde o narcotráfico vem se especializando e se territorializando em áreas periféricas da cidade, envolvendo a metrópole na dinâmica econômica da geográfica do crime organizado.
Tucunduba - O pesquisador avaliou ainda que os bairros periféricos do Guamá e da Terra Firme, abarcados pela bacia do Tucunduba, estão envolvidos por uma espécie de 'territórios-rede' em que o tráfico local está associado às redes do tráfico global, e ao mesmo tempo, em escala local. 'A criminalidade vem se expandindo na forma de uma territorialização perversa, pois o tráfico de drogas impõe os seus limites pelo uso força e pela lógica do medo como estratégias de dominação', explica.
Ligados - O pesquisador explica que a Amazônia representa uma área de trânsito da droga em direção aos principais mercados do mundo e do País. 'Então, o tráfico de drogas do Rio de Janeiro tem relação com o tráfico de Belém e de outras capitais, porque os traficantes atuam em redes criminosas, um crime organizado em rede, que precisa de uma base territorial, que será nas favelas e morros do Rio de Janeiro e na periferia de Belém. Aí sim terá uma questão que envolve o território fechado do tráfico e o extra tráfico, que seria essa articulação mais ampla do tráfico. A ideia é mostrar que o tráfico não nasce na periferia, mas tem relação com os produtores e o papel que a Amazônia desempenha no comercio nacional de drogas e seus rios, que têm grande importância porque envolve as cidades do Marajó, Baixo Amazonas, Abaetetuba, Belém, envolvendo ainda o contrabando e a biopirataria', afirma.
Reportagem especial publicada no jornal Amazônia, dia 05/12/10. Para ler na íntegra, clique aqui.
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